Cap. 6 - Sem respostas

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Infelizmente, a aula acabou cedo demais e Alex foi o primeiro a sair, enquanto Penny, Thiago e os outros me abordavam. Eles fizeram inúmeras perguntas sobre tudo que eu tinha sentido durante o ataque e a defesa. Meu ânimo para as próximas aulas era nulo. O lado positivo, eu acreditava, seria o fato de que o pior havia passado.

Minhas expectativas estavam corretas. A aula da força foi como um passatempo. Mesmo com Alex presente, procurei prestar um pouco mais de atenção no que acontecia ao redor.

Afinal, não me surpreenderia se, novamente, por qualquer motivo, estivesse no chão com todos me cercando. Essa situação parecia familiar no curto período em que estava no castelo. Portanto, concentrei-me no que o rechonchudo e simpático professor dizia.

Dessa vez, Lupo nos passou alguns exercícios. Era como estar em uma academia, supervisionados por um personal trainer. A sala estava repleta de equipamentos que, à primeira vista, eram idênticos aos usados pelos humanos nas academias de ginástica.

No entanto, como tudo naquele mundo, eles também entravam na lista do extraordinário. A esteira e a bicicleta, por exemplo, atingiam velocidades inacreditáveis. Observei as pernas de Alex se movendo, mas nem minha visão aguçada foi capaz de vê-las nitidamente.

Penny, Alice e a maioria das meninas optaram por uma atividade física menos desgastante, escolhendo alguns pesos para fortalecer pernas e braços. Eu teria me unido a elas, mas o professor Lupo, ciente da minha habilidade de força, determinou que, junto com Jasper e os gêmeos, eu praticasse levantamento de peso, erguendo grandes barras semelhantes às que vira na aula anterior.

Apesar da aparência raquítica, Pedro e Marcos erguiam pesos quase do mesmo tamanho que os de Jasper, o que me surpreendeu. Eu também conseguia erguer habilmente as barras, o que me embaraçou diante dos demais, já que, quando eles tinham me perguntado sobre minhas habilidades, havia respondido que não me considerava forte. Eu precisava admitir a mim mesma que eu era.

Durante o almoço, permaneci em silêncio. Estava faminta desde a primeira aula e enchi meu prato repetidas vezes. Ben e Penny conversavam entre si. De tempos em tempos, ela ruborizava, e eu a achava bonita, pois a vermelhidão de sua face combinava com os cabelos alaranjados. Ben era extrovertido e a fazia rir. Ela também o fazia feliz.

Lisa me observava quando achava que eu estava distraída. Era reconfortante saber que ela se preocupava comigo. Descobri, nos primeiros anos de convivência, que Ana não tinha qualquer instinto maternal. Minha presença limitava-se a preencher uma vida de aparências.

Para eles, era conveniente, profissional e socialmente, exibir uma família perfeita. Eu apenas enfeitava a vida deles como o enorme lustre que tínhamos no centro da sala. Ao perceber isso, planejei fugir de casa. Entretanto, para onde eu iria? Fútil ou não, a vida que eles me proporcionavam era aconchegante e promissora. Com a ajuda deles, eu conseguiria me formar, arranjaria um bom trabalho e teria minha própria vida.

- Vamos? – a voz de Penny me despertou de meus devaneios. Ela me esperava, em pé, enquanto os outros já saíam do salão quase vazio.

- Não sei – levantei-me, lembrando que a aula seguinte seria a de premonições. – Já sofri demais por um dia – brinquei.

- Totalmente compreensível – sorriu.

- Penny, você sabe me dizer... – corei e ela se inclinou, curiosa, notando minha timidez. – se o Alex vai nessa aula?

- Ele nunca foi. Pelo menos não nos seis meses que estou aqui – contou.

- Er...então...acho que Dina não vai se importar tanto, já que outros alunos também faltam – procurei disfarçar meu interesse óbvio em uma pessoa em particular.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora