Cap. 18 - Dom e maldição

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Não percebi a sonolência me derrubar pouco a pouco e não demorou muito para que adormecesse. Acordei assustada, no dia seguinte, ao ver o outro lado da cama vazio.

Corri para o grande salão após, rapidamente, tomar uma ducha, vestir-me e escovar os dentes. Não havia quase ninguém ali. As gêmeas, amigas de Alice, eram as únicas sentadas, e a tarefa designada a elas em providenciar os alimentos já havia sido cumprida. O cheiro apetitoso de pão quente pairava no ar.

Dina era a professora encarregada de nos supervisionar naquele sábado, já que desde o Desafio de Ben a escola nunca mais tinha sido deixada a cargo dos alunos, mas ela ainda não havia chegado. Perguntei-me que horas seriam e quanto tempo levaria para que Alex viesse. Sentei-me em um dos cantos vazios da mesa e aproveitei para relembrar a noite passada.

– Bom dia.

– Você foi embora! – reclamei ao me virar e encontrar seu lindo sorriso.

– Há poucos minutos. Não quis acordá-la – ele parecia estar com um incrível bom humor, o que era excelente para os planos que eu tinha para aquele dia.

– Vai responder minhas perguntas hoje? – perguntei, ansiosa.

– Podemos comer primeiro? – zombou. Fiz uma careta e assenti que sim.

Ben e Penny chegaram a seguir. Sorriram ao nos ver e se sentaram conosco. O relacionamento deles andava muito bem. Ben havia comprado, em sua visita à cidade, um anel de compromisso para ela. O gesto podia ser muito humano, mas o anel era definitivamente do outro mundo.

A argola que envolvia o dedo era de cristal e havia nele uma pedra dourada incrustada na qual, olhando por alguns segundos, era possível ver surgir e desaparecer um "Eu te amo".

Os outros alunos foram se acomodando ao longo da comprida mesa do café da manhã. Ana e Verônica chegaram quando acabávamos de comer, mas, sendo um dia livre, permanecemos conversando no grande salão. Por mais que adorasse estar com meus amigos, ansiava pelo momento em que estaria a sós com Alex.

Meus olhos constantemente observavam as três palavrinhas especiais no novo anel de Penny. Tentei imaginar Alex dizendo aquilo para mim e o que eu responderia em seguida. Não consegui. Eu nem mesmo era capaz de me imaginar dizendo a ele que o amava.

Por mais simples que parecesse, eu não me lembrava de ter falado isso antes. Não se tratava de não sentir aquilo. Por Alex, pela primeira vez em minha vida, eu sentia algo que não poderia ter outro nome a não ser "amor". Um amor louco, intenso, inexplicável e incontrolável.

– Vic? – Penny me chamou. Todos olhavam para mim, levantados.

– O quê? – eu não estava prestando atenção na conversa deles. Alex abafou um risinho.

– Vamos para fora? – perguntou, sorrindo ao presenciar mais um dos meus momentos de ausência.

– Claro – empurrei apressadamente a cadeira e segui com eles para os campos do lado de fora do castelo.

Os programas de sábado à tarde eram geralmente os mesmos e nem a presença de um dos professores por perto mudou isso. Ficávamos nos campos verdes que cercavam o castelo. Alguns usavam suas habilidades para aprimorá-las ou para se divertir exibindo-as aos alunos. Outros apenas conversavam. Meus amigos e eu nos sentávamos embaixo de uma árvore cuja sombra abrigava a todos e falávamos de coisas à toa.

– Você ainda quer ter aquela conversa? – Alex sussurrou em meu ouvido. Assenti. – Então faça exatamente o que eu disser – ordenou.

Após receber suas instruções, fingi uma súbita enxaqueca para meus amigos e avisei que me retiraria para o quarto. A desculpa me pareceu tola, mas nenhum deles desconfiou. A etapa seguinte foi dizer isso a Dina. Eu estava quase certa de que ela descobriria por trás da minha péssima atuação o plano que Alex havia arquitetado. Sendo uma professora de premonições, era plausível que ela "visse" meu encontro secreto com ele.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora