Caminho até a janela do meu antigo quarto, puxo a manta que me enrolava e passo pela janela que dava para o telhado da garagem e subo um pouco logo me sentando com minha xícara de chocolate quente, o sol ia se pondo, de um claro para alaranjado agora seguia para um tom azul claro e seguia a escurecer seu tom conforme os minutos passavam.
A árvore a frente balançava suas folhas conforme o vento fraco; fico observando paralisada. Meus fones de ouvido que agora tocavam Inverno das quatro estações de Vivaldi, me faz viajar, era como se notas musicais voassem entre as folhas com o vento que as levava e isso era maravilhoso, em um transe completo permaneço olhando aquilo imaginando passos de uma coreografia de ballet, imaginando exatamente pequenas bailarinas de porcelana girando junto ao vento e folhas como uma coreografia mágica feita especialmente para fascinar.
- Fica encantadora assim - Ouço a voz de meu pai
Olho para ele; sorrio fraco, o mesmo sobe de modo lento até onde eu me encontrava, senta-se ao meu lado pegando um dos lados do fone os colocando.
- Tão divino - Ele fala após um tempo em silêncio
Estendo minha xícara de chocolate para ele, que sorri e nega então olhando para a direção que pouco tempo atrás eu observava em meus devaneios.
- Às vezes acho que minha imaginação não amadureceu com o tempo e sim continuam presas as memórias de uma criança sonhadora - ele fala calmamente
- Porque diz isso? - Pergunto olhando para ele que parecia flutuar
- Vejo você ali - Ele aponta onde minutos atrás imaginava notas e bailarinas - Lembro-me do tempo em que você era pequena, sonhadora, que queria ser bailarina e dançava para todos os lados. E ali eu a vejo, dançando quando ainda era menor, com toda delicadeza e inocência de uma criança
Observo o local, porém não consigo entender o que ele queria dizer
- Eu não compreendo meu pai - Falo baixo, com receio
- Você agora está uma mulher minha filha, forte e maravilhosa. Não é mais aquela menina pequenina que saltitava pelos cantos, mas você não perdeu sua delicadeza, jamais, continua determinada
Apenas escuto e abaixo a cabeça olhando para meu copo, buscava no fundo daquele líquido respostas; ele sabia o que estava acontecendo, havia contado a minha mãe após chegar, e provavelmente ela deveria ter contado a ele. Minutos em silêncio se passaram até que eu fosse capaz de expressar uma palavra
- Sinto-me pesada, como se tivesse que carregar todo o peso de um casamento fracassado, eu me sinto culpada, mas ao mesmo tempo não
- Essa não é a questão minha filha
Olho para ele, seu modo me deixava apenas mais curiosa. Seu sorriso me reconforta e me fazia sentir-me menina.
- A questão é que você não ama apenas uma coisa, se é possível amar muitas coisas e há tanto tempo não vejo em seu olhar aquela paixão pela dança da qual você carregava Scarlett. Você é capaz de aguentar o mundo, mas não é capaz de negligenciar esse amor
Por alguns instantes me torno pensativa, havia desistido da dança após casar-me, havia decido me dedicar integralmente ao meu marido; me arrependia de ter abandonado esse sonho.
- O mundo é muito mais complexo do que imaginamos, suas tramas tecidas para nos derrubar mostra que diante de tudo somos apenas pequenas pessoas com uma teia para fiar
- Você é muito mais que isso minha menina e sabe disso. Não é preciso desafiar o mundo, desafie seus próprios medos
E com isso ele se levanta, e desce entrando pela janela. Não sabia o que significava, mas algo me dizia para continuar o que um dia eu parará.
Levanto e entro no quarto que parecia escuro demais, deito-me na cama e olho as estrelas no teto, sabia agora o que fazer.
[...]
Vejo-o correndo pelo salão, olho a corretora que sorri, e caminho para perto da janela
- Warren permaneça aqui - Falo para ele que concorda
- Tudo bem mamãe - ele grita
Olho o salão por um último estante, havia estudado naquele lugar quando menor, meus primeiros passos na dança e tinha sido ali que conheci meu marido, e que havia desistido de toda uma carreira assim como foi naquele lugar que ele mostrou que não mudará.
Ela me entrega uns papéis, já havia lido; passado à manhã toda na casa de Vien lendo-os, e ali me encontrava, prestes a fazer uma das maiores afrontas a meu marido, assino o papel e ela aperta minha mão.
Sorrindo de modo conquistador ela sai nos deixando ali com a chave, observo tudo e chamo meu filho.
Seguimos para a construtora, precisava planejar a reforma daquele lugar, desço do carro segurando a mão de Warren e entro no prédio. A secretária marca meu nome, sento esperando ser chamada; mexo nos cabelos de meu filho, não demoram a nos chamar.
Com ele entro na sala que não continha ninguém, uma porta se abre no canto e um homem com caixas sai vestindo um macacão cinza, Warren sem modos acaba atirando na testa do homem uma borracha que brincava o que fez derrubar tudo.
Levanto com pressa e ajudo o mesmo então vendo de quem se tratava, paro e me afasto ainda não me recuperará de suas palavras e ao me olhar ele percebe o desconforto que deveria estar em meus olhos, com um sorriso ele olha meu filho.
- Tem uma boa mira garotinho, mas duvido que ganhe da minha - Rick diz confiante e ri levemente
- Eu sou ótimo em pontaria - Warren fala de modo arrogante
Acabo por rir da atitude do pequeno, porém volto minha atenção a Rick, aquele dia não estava pronta para ouvir de outra pessoa o que eu mesma sabia, mas não assumia.
- Estou esperando o arquiteto - Falo olhando ele, estava séria, pelo menos estava tentando ser
- Ele já vem, só está um pouco atrasado - Ele fala e pisca para mim
Talvez ele entendesse afinal, mas não queria simplesmente jogar meus problemas no ar, concordo e sento novamente a fim de esperar o homem.
Ele percebe que não irei falar mais nada, sorrindo ele comenta algo com meu filho que ri e sai andando com suas caixas, bufo voltando minha atenção a frente, até que um homem em um termo alinhado entra, com um sorriso de quem sabia exatamente manipular seus clientes a aceitarem coisas caras, eu sorrio em resposta, o tipo de sorriso promissor de quem se tornaria a melhor cliente.
- Senhora, me diga o que planeja - Pergunta o homem
- Isso senhor - Entrego a planta do prédio - Quero reformar, e retomar a escola de ballet, e acho que o senhor pode me ajudar
- Claro, só me diga o quanto esta disposta a gastar
Rio olhando ele, não deveria entender porque da minha reação, então apoio na mesa dele
- Senhor; quero que meu estúdio de dança seja o melhor de todo o país e estou disposta a gastar o quanto for
Ele agora assustado. Porém feliz estende a mão em formalidade para fechar negócio
- E no nome de quem? - Ele pergunta
- Senhor Travis Baldacci - Falo sorrindo
Falo com determinada astúcia, adorava saber que iria mais uma vez ferrar meu marido, gostaria de ver a cara dele quando a fatura do cartão chegar para ele no seu escritório, após conversar mais sobre tudo saio do local o mais rápido que conseguia para não ver Rick. Contente comigo mesma penso.
Se ele queria brincar com meus sentimentos. Eu iria brincar onde mais o machucava, no ego e em seu bolso, ele que me aguardasse, agora era guerra
Pego o celular ligando para minha irmã, precisava da ajuda dela, iríamos fazer umas compras para Travis
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O Adultério
RomanceA partir de qual momento o amor deixa de fazer parte do dia? Scarlett presencia o seu casamento acabar aos poucos. Um dia descobre que seu marido está a traindo, ela já havia lido coisas desse tipo e já teve casos assim em sua família, até achou que...