•Memória•

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ANDRÉ

Lá estava eu mais um dia na recepção do hospital depois que a Luz acordou.

Fazia três dias que a minha menina tinha aberto aqueles olhos da cor de mel.

Ainda estava assustado e abatido por ela não se lembrar de mim.
Ela lembrou de todos os outros, menos quem sou eu . Até a mamãe foi apagada da sua memória.

Tudo relacionado a mim foi apagado. E isso doía demais.

No primeiro dia pensei que era alguma brincadeira sem graça, mas no segundo dia vi que ela não ficava a vontade com a minha presença. Eu parecia um maníaco encarando-a quando ia visitar.

A família dela ficou assustada quando soube da sua falta de memória. E eu estava terrivelmente com medo dela não se lembrar nunca mais.

Poxa, ela me amava e do nada não sabia nem meu nome.

Que vida injusta.

Só poderia ser Deus me castigando por te-lá feito sofrer.

Suze, sua amiga, soltou uma risada quando soube que ela não lembrava quem era eu. Sempre desconfiei que ela não gostava da minha pessoa.

A Luz ficou um mês apagada, e nesses dias eu me aproximei da sua amiga que estava grávida. Mesmo com toda a implicância, ela percebeu que eu me importava com sua melhor amiga.

O meu amigo estava em um estado lamentável. Eu tentava não chorar na sua frente toda vez que conversávamos,  poderia ter contado sobre meus sentimentos por sua filha, mas vi que não era hora.

Assim que soube do acidente da minha menina, mandei pegar a câmera de segurança do estacionamento. Notamos que foi um descuido da própria, ela não viu quando o carro estava se aproximando porque estava ocupada demais enxugando suas lágrimas.

Lágrimas essas que eu causei.

Sentia-me miserável.

O Pablo achou estranho o acidente perto do meu escritório, mas por causa de todo o sofrimento ele não veio tirar satisfações.

Ainda bem.

O que eu iria dizer?

"A culpa toda foi minha, estou amando a sua filha e naquele dia não fui homem o suficiente para assumir esse sentimento"

Estava fodidamente abalado.

Tinha que fazer a minha pequena lembrar quem era eu.

Que era o seu amor! E não o seu tio postiço, como disseram.

Olhei para o corredor e vi o seu irmão vindo na minha direção.

A ansiedade possuiu meu corpo. Eu iria vê-la.

Seu irmão tinha saído do quarto, agora era minha vez.

- Lucas, como ela está? - perguntei assim que o rapaz se aproximou.

Ele me analisou e depois abriu um sorrio gigante.

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