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Metástase.
Foi a palavra que martelou na cabeça de Milena ao saber que seu pai estava no hospital.
Sabia que isso aconteceria; ela viu os seus exames.
Ver seu pai vegetando na cama de um hospital foi a cena mais horrível que os olhos da garota presenciaram até então.
Ele disse que a amava.
Ela acreditou.
-Efeito dos remédios.
Seu pai falou se referindo aos olhos lacrimejados.
A verdade é que ele queria chorar, ela sabia disso.
Ali, num quarto de hospital, pai e filha perceberam a sua conexão.
Eles tinham um ao outro.
A garota não sabia por onde andava, ou quem era sua mãe.
O pai também não gostava do assunto e se negava a ceder a tal informação.
Alguns parentes o recriminava por isso, mas era fácil ignorá-los.
O importante para ele era manter sua filha livre de sofrimento e decepções.
Essa era sua forma de protegê-la.
Mas até quando conseguiria isso?
Milena cresceu.
Consequentemente surgiram mais cobranças de sua parte.
Mas tudo bem.
É natural, não é mesmo?
-Pode ir, eu vou ficar com ele. - Uma mulher sorriu para a garota.
Era a sua tia Celina.
A única coisa que conseguiu fazer naquele momento foi retribuir o sorriso para ela.
Não foi o sorriso de sempre, aquilo foi algo forçado por si mesma.
-Filha? -Seu pai chamou.
Ela girou os calcanhares e foi em direção a cama.
-Estou aqui, pai.
-Pode me prometer uma coisa?
Assentiu.
-Promete que nunca vai esquecer de mim?
Milena sorriu fraco ao ouvir aquelas palavras.
-Quando se ama de verdade ninguém esquece.
Essa foi sua resposta.
E é claro que sim; ela o amava.
Apertou suas mãos por alguns instantes e depois foi até a saída do quarto, deixando seu pai sob os cuidados da irmã.

-

-É engraçado. - Julia conversava com Arthur enquanto folheava um livro antigo da biblioteca.
-O que?
-Você tem o mesmo nome que o meu amigo: Arthur.
O garoto riu.
-A diferença é que ele é muito mais festeiro que você. Bem, é o que parece até agora.
Riu de novo.
-Eu gosto da minha casa. E de comida. -Respondeu.
-Não seja por isso, você pode fazer uma festa na sua casa. E festas têm comida!
-É, Senhorita Inteligência, concordo com você. Mas seria muito trabalhoso ter que arrumar toda aquela bagunça da noite anterior.
Julia fez um sinal de rendimento.
-Bagunça é o que você ganha em troca. Se ela for muito grande, é sinal de que a festa foi um sucesso.
-Talvez você esteja certa, mas eu ainda preciso provar se essa sua teoria é verdadeira.
-Provar? Você vai dar uma festa?-Perguntou, parando de folhear o livro e direcionando mais um pouco de atenção ao jovem a sua frente.
-Claro que não, eu sou preguiçoso.
Ela riu e balançou a cabeça.
-E como vai saber se minha teoria é verdadeira ou não?
-É verdadeira, eu sei.
-Você é estranho. -Brincou.
-Eu gosto de ser assim. -respondeu sorrindo, e Julia fez o mesmo.
-É tão lindo, Ju.
-O que?
-Seu sorriso.
Foi o bastante para suas bochechas ficarem num tom levemente avermelhado.
Arthur gostou.
Achava que era impossível, mas aquela garota ficou ainda mais bonita.
Foi então que notou uma série de coisas nela:
Sua boca.
Os seus olhos castanhos.
A forma como seus dedos moviam-se.
A sua pele.
O jeito como ela ria...
Reparou tudo, e de uma só vez.
Ok, para ele, aquilo foi um pouco assustador.

O Recomeço #Wattys2016Onde as histórias ganham vida. Descobre agora