Capítulo 14

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O ano seguiu com alguns encontros furtivos junto de Eleanor. Ela lhe ajudou a contratar um bom arquiteto que modernizou todo o chalé. Por fora ainda possuía aquele ar rústico que o atraiu na compra, mas por dentro estava funcional e moderna, a cozinha integrada a sala ampla com a nova porta de vidro instalada. Exigiu por ela, assim teria a paisagem das montanhas como parte de sua decoração, pediu também por um deck; no inverno seria pouco utilizado, mas no verão ficaria perfeito. Eleanor teria ótimas recordações daquele deck no verão.

Haveria noites que passaria ali sozinho com seus pensamentos em Eileen. Jamais a esqueceria. Evitava falar com ela, mas deixava se levar nos pensamentos. Aprendeu a esquiar, participou de pescaria com os homens influentes de Stanley, tinha uma vida agitada para quem estava à procura de sossego e isolamento.

Percebeu que muitas pessoas que o procuravam como médico apenas queria confidenciar segredos e pedir orientação. Como Eleanor previu seria alvo das mulheres solteiras, porém não se deixou levar, permanecia apenas com o seu caso com a dona do resort a qual lhe deixou bem claro que não estava à procura de compromisso, não era para ele esperar mais do que aquilo com ela.

Com o tempo essa vida começou a entediar, a solidão nesse ponto estava lhe fazendo mal, porém nenhuma outra mulher lhe interessava até Eleanor deixou de empolgá-lo, raramente a procurava. Passou a conversar mais vezes com Eileen por telefone, não adianta ela sempre seria o seu ponto de apoio.

Teve que se controlar várias vezes para não cair na tentação da bebida. Uma vez na semana ia até Boise para a reunião no A.A. apenas Eleanor sabia do seu problema com a bebida e mesmo assim, às vezes esquecia e levava algumas garrafas de alcool quando visitava. Na maioria das vezes Theo jogava fora quando ela ia embora, porém na última vez que ela ali esteve guardou a garrafa de whisky no fundo do armário.

E então aconteceu o dia 13 de janeiro de 2014 e todo o rumo de sua vida seria alterado. Tudo que havia planejado estava praticamente perdido no momento em que colocou seus olhos negros em cima da faixa verde dos olhos daquela mulher que suplicava por ajuda, que transbordava desespero e remorso.

Assim que informou a hora do óbito para Dolores e esta jogou o lençol em cima do rapaz escutou o corpo pequeno da moça ruiva cair ao chão. Correu para resgatá-la.

— Moça! — Theo a segurou em seus braços e deu tapas leves em seu rosto — Traz a maca, Dolores.

A enfermeira que ainda tinha sangue do menino em suas vestes correu para pegar a outra maca no final do corredor e ajudou Theo a coloca-la em cima.

— Não diga que ela morreu também, Dr. Isaac? — Dolores tremia como nunca havia antes.

— Não. Está em choque. E esse ferimento aqui na cabeça... — Theo afastou os cabelos úmidos com o sangue e viu que ela tinha um corte profundo.

— Quer que chame ajuda?

— Não precisa, ajude-me a levar para a sala.

— Mas o garoto ainda está lá!

— E o que ele pode fazer? Já está morto e ela ainda vive. — pela primeira vez Dolores veria Theo sem paciência.

Theo fez todos os procedimentos necessários cuidando do ferimento que Lilian havia sofrido. Não era um cirurgião plástico, porém tentou fazer os pontos com todo cuidado para que a cicatriz fosse mínima. Lilian tinha um rosto bonito demais para ficar marcado. Medicou e sem que a enfermeira visse tirou algumas amostras do seu sangue. Queria apenas constatar o que já sabia: a mulher estava sobre efeito de alguma substância. Só mais tarde quando estacionou o seu carro descobriu que havia mais que bebida em seu organismo e entendeu o que a garota procurava e que o menino havia impedido de acontecer.

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