CAPÍTULO 11.1 - EU NUNCA DISSE ADEUS

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"FABIAN, essas loucas querem me convencer que você está aqui, me ouvindo...e depois eu que tenho que ser tratada, eu que sou a desequilibrada...

(Disse em voz alta olhando-as ao longe enquanto segurava com as mãos trêmulas a carta que eu pronunciava ao vento)

...Elas me fizeram prometer que eu atravessaria o mar e subiria até o farol para lhe dizer adeus. Sabe o que eu queria te perguntar agora? Como se diz adeus para alguém que nunca chegou a entrar na sua vida? Como eu posso dizer adeus para alguém que foi cama enquanto eu sonhava que seria uma vida inteira? Como eu posso dizer adeus para alguém que me mandava procurar alguém melhor se o que eu julgava como melhor era você ao meu lado? Se você realmente está aqui me ouvindo como elas me fizeram pensar estar, me diga, como se diz adeus? 

 Tem alguma coisa errada nessa história. Tem alguma coisa que não se encaixa e está me deixando louca. Eu tentei montar uma equação, fazer um desenho, mas nada me dava um resultado convicto. A doutora diz que essa peça que falta para se encaixar é a realidade. Eu juro para você que bati o pé e revidei com outros argumentos. Defendi com unhas e dentes o nosso amor, nossa paixão, nosso caso de inverno, mas sabe, no final das contas eu lutava, defendia, empunhava até uma espada se fosse preciso mas estava sempre sozinha. Quem tinha planos para fazer ao seu lado não era eu, quem tinha a dádiva de dormir contigo todos os finais de semana abraçados também nunca fui eu. Não tinha os seus beijos em minhas angústias, não tinha teu ombro para chorar as minhas lamúrias, nem canções que eu pudesse chamar de nossa. Não tinha sexo a hora que eu quisesse, sempre foi quando você podia. Engraçado, como eu andava cega de olhos abertos. Creio que me ceguei na primeira vez que te vi, cruzando o meu caminho quando poderia ter cruzado o de outra pessoa. Juro para você que eu tentei manter aceso o fogo do que eu acreditei ser o nosso amor...mas no final das contas era uma paixão que as labaredas diminuíam com o tempo, e sozinha não havia nada que eu pudesse fazer. Não daria conta de trazer as lenhas e criar faíscas para manter sua pessoa eternamente ao meu lado, não era do meu lado que você ficava...

Um a zero para a doutora. O que eu vivia era tão bonito, mas nunca foi totalmente real. A peça que faltava nesse quebra-cabeça era a maldita realidade. Por que eu não enxergava isso? Bem, muito deve ter ligação com a última maldição que saiu da caixa de Pandora: a esperança! Eu esperei que fosse diferente, que qualquer dia desses você me procurasse para sair de um encontro às escuras. Que aquelas falas de "hoje não posso" se transformaria em "vou dar um jeito, quero te ver!" Deve ser por isso que foi bonito, porque fugiu da nossa realidade, fugiu da expectativa, foi além, viajou pelo espaço, virou estrela cadente e deve brilhar em algum lugar do céu. 

Se fosse real seria muito frio, muito doloroso. Seria curto também. Daria para contar no relógio. Viveria só o dia da cama, do sexo, e nunca teria uma boa história para contar. Se fosse real duraria apenas algumas horas do seu dia em meu quarto e depois tudo seria esquecido com aquele alguém que você escolheu para dividir a sua vida ou com muitos outros "alguéns" que você decidiu se aventurar sem mergulhos profundos, feito um marinheiro desbravando a própria vida, para apagar a necessidade de viver experiências diferentes com pessoas diferentes, mas que tudo acabava ali, nas diferenças.

 Nadando apenas no superficial, na carne. Eu tive que me reinventar, e acabei inventando você. É porque na realidade você já era tão perfeito, mas na minha imaginação você ao meu lado ficaria melhor ainda. Tolice a minha achar que alguém como eu merecesse você. Magrela, sem cor, sem grandes curvas. No mínimo se andássemos de mãos dadas na rua falariam que você só estava comigo pelo dinheiro, coisa que me falta, ou então que eu fiz uma amarração perfeita com o seu nome e agora eu devia até a minha alma para o Diabo.

Eu Nunca Disse AdeusWhere stories live. Discover now