Prólogo.

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Aviso de conteúdo: Sexo, prostituição, dependência física e psicológica de substâncias ilícitas, linguagem explicita, grau moderado de angústia emocional e talvez violência leve em algum ponto.

Se algum dos assuntos abordados não lhe agrada, talvez essa história não seja recomendada à você.

Ao restante, espero que gostem. Boa leitura!


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Verde.

Talvez algum dia, antes de manchas amorfas e negras tomarem conta de todo o teto, essa tenha sido a cor dele. Talvez tenha sido um verde vívido, brilhante. Talvez como o de um quarto de bebê. Imaculado e puro. Ou talvez tenha sido de um verde pútrido, escuro, quase como o próprio mofo.

Verde. Talvez essa seja a cor dos olhos do homem que está sobre Louis agora.

Será que tudo o que ele via era verde?

Ele tinha uma leve noção de um pênis o penetrando, de mãos o agarrando, e ele quase tinha consciência dos cabelos longos e castanhos grudados pelo suor no perfil do desconhecido. Ele tinha noção de que mesmo que o homem pareça estar se odiando, e que seus olhares pareçam incapazes de se manter presos um ao outro, aquele corpo estava totalmente cobrindo o dele.

E ele pensava que apesar das peles se tocarem intimamente, e de estarem conectados pelo sexo, talvez o cara não quisesse que ele visse seus olhos carregados de qualquer que seja o sentimento: nojo, vergonha, ou compaixão. E Louis agradecia por isso, sinceramente, porque ele não queria compaixão. O nojo não o importava, não mesmo, mas ele não se considerava digno de pena.

Suas pernas estavam abertas, joelhos dobrados para que o outro se encaixasse, e ele se sentia vulnerável e exposto, como sempre, mas não se sentia violado. Ele era aquele quem violava a si mesmo, apenas ele.

Era sujo. O quarto, a situação. Tudo era só uma névoa na mente de Louis, e talvez aquele cara também soubesse e esse pode ser mais um motivo para que eles não conseguissem se encarar.

E Louis, naquele momento, não tinha noção de muitas coisas – o que não era surpreendente, considerando a quantidade de drogas que corria em suas veias – mas estava quase certo de que estava imóvel, e insensível. Que o contato em seu corpo não causava nada mais forte que o véu que cobria sua mente, e o impedia de mover sequer um músculo.

Seus braços estavam largados paralelos ao corpo, sobre o colchão, e com um esforço quase desumano ele apertou as próprias unhas na palma de sua mão, só pra ter certeza de que ainda estava vivo. Ele não sentiu nada. Nem sequer uma pontadinha de dor. Talvez fosse pelo fato de que suas unhas eram roídas até a carne, ou talvez fosse porque ele não seria capaz de sentir, ainda que elas estivessem rasgando sua pele, mas mesmo assim Louis apertou os dedos ainda mais, sentindo-se no limite de sua força debilitada.

Quando percebeu que de alguma forma seus olhos haviam se cruzado com os do homem, narizes alinhados, com lábios próximos demais, mas obviamente muito distantes – no sentido um pouco poético da coisa, ou algo assim – de se beijar, ele imediatamente virou o rosto para o lado, focando em qualquer outro lugar. Ele não precisava que o cara que estava o fodendo encarasse sua alma e se sentisse mal pelo quanto ele estava danificado. Não precisava olhar em seus olhos verdes – ou pelo menos ele achava que eram verdes–, para que ele percebesse que cada estocada que dá, cada pressão do seu quadril, ou vezes que sua boca raspa na pele de Louis, parecia para esse como mais um buraco em sua alma. Como mais uma das merdas que ele fazia todos os dias, apenas porque isso é quem ele era. Intoxicado.

Libertines | L.S. (HIATUS)Where stories live. Discover now