Louis fechou os olhos, pensando que não queria ver mais um segundo sequer dessa cena, mas assim que a visão da mesinha da cabeceira foi substituída pelo vazio de suas pálpebras cerradas, ao mesmo tempo em que ele sentia seu corpo dar mais um solavanco pelas investidas do homem, ele os abriu novamente quase de imediato – e quase em desespero – porque isso havia sido o suficiente para que se lembrasse de que tinha medo do escuro.

Quão ridículo era isso?

Todos os dias ele colocava dentro de seu corpo coisas que definitivamente não deveriam estar ali – fumaça, agulhas, drogas, venenos, pênis de homens desconhecidos –, mas ainda assim tinha medo do escuro.

Ele tem medo de que esteja escuro quando tudo o que faz pra se matar aos poucos finalmente faça efeito. Tem medo de não ver nada, não ver a morte se apossando de seu corpo, não ver os estranhos que podiam invadir seu quarto ou qualquer beco que esteja, ou então de num escuro total conseguir ver apenas os seus próprios fantasmas. Ele não saberia dizer qual hipótese era mais assustadora – e também não se achava capaz de lidar com nenhuma delas – mas a questão é que ele sabia de todo o mal ao seu redor, porque ele mesmo o causava, então ele preferia se manter confortável na claridade das coisas que já conhecia, do que na escuridão do desconhecido, porque o fato de não ser capaz de ver algum perigo se aproximar pode ser assustador pra caralho.

E aí sua mente vagou do pensamento a respeito de seus medos para a lembrança de algumas horas antes, quando havia acordado naquele mesmo quarto, com cheiro de mofo, quase vazio, e nenhuma janela. Ele havia se levantado do colchão rasgado e sem lençol onde dormia, e que era o mesmo onde agora estava sendo fodido – ele ainda sabia disso, de alguma forma, talvez porque era um pouco difícil respirar com todo aquele peso sobre seu peito, ou talvez porque vez ou outra seus ouvidos captassem os suspiros contidos do cara ecoarem e serem engolidos pela atmosfera densa do ambiente – e então, em algum ponto entre mijar e sair pra comprar um cigarro, e quem sabe até encontrar alguma droga pra usar, ele havia se deparado com o pequeno espelho esquecido no canto do cômodo, e não pôde reconhecer quem quer que fosse que estava ali.

Era um garoto de sabe-se-lá quantos anos – será que ele já havia feito 25? –, olheiras fundas demais, um cabelo nojento com franja grudada na testa, barba há muito esquecida no rosto, e sulcos profundos em suas bochechas. E aí ele tinha levado as mãos até a protuberância de seus ossos, onde um dia já estiveram lindas e altas maçãs do rosto, e viu o estranho no espelho fazer o mesmo.

Não era algo bonito de se ver.

Não era bonito, porque mesmo que tentasse negar, ele ainda sabia quem estava vendo lá. Quem ele havia se tornado. Aqueles olhos azuis que agora são cinza, e aquela pele bronzeada que agora é pálida, seca e sem vida, fazem parte dele. São ele. Tudo o que ele é, se define naquilo, e apenas naquilo.

Louis Tomlinson, que já foi bonito, já foi modelo, já teve uma identidade própria e já havia sido feito de determinação, livros de faculdade, e quem sabe até um pouco de alegria, não era mais definido por isso. Agora ele era uma pessoa qualquer, entre milhões de outras pessoas quaisquer, feito de olheiras, vícios, fumaça e fracasso, sem nome, sem identidade, sem casa, e que era fodido por outras pessoas igualmente sem nome e que também não davam a mínima.

E também não era bonito o fato de Louis agora ser apenas uma existência. Uma casca, com um nada dentro. Um corpo que anda, que faz burradas, e que apesar de ainda ter um coração batendo, já não carrega nada dentro de si. Só existe.

E ele não saberia dizer qual havia sido o exato momento em que sua vida passou de uma de tentativas e abdicações para uma de completa decadência, mas foi rápido. E agora que ele já estava lá, não fazia ideia de como sair.

Ele ouviu um barulho em algum lugar distante, e focou os olhos, descobrindo que no meio de todas as lembranças, ele ainda estava deitado naquele quarto, sendo fodido. Ou não mais, na verdade, já que seja quanto tempo for que ele passou mergulhado no quão merda sua manhã tinha sido – e que sua vida era, em geral – havia sido tempo o suficiente para não saber quando exatamente o cara saiu de dentro dele, ou em como agora já estava em seu campo de visão, que ainda era aquela parede ao lado da cama, correndo os dedos sobre o cachimbo de metanfetamina jogado em cima da mesinha, uma colher queimada, e algumas agulhas e seringas sujas com traços de sangue seco e heroína.

Mas Louis, se sentindo imóvel, e talvez um pouco anestesiado, viu quando ele deixou as notas, e virou seu corpo de lado. Isso ele reconhecia.

E aí ele entendeu que enquanto acreditava estar analisando secretamente sua própria dor, afundado em lembranças num mundo totalmente paralelo, que ele na verdade estava sendo como um livro aberto, e o homem havia visto tudo. Que o cara sabia o quão fodido ele estava, e que o virou apenas para garantir que não sufocasse em seu próprio vomito. Que não morresse dormindo.

E então o viu sair pela porta, o deixando sozinho no inferno, e Louis não saberia dizer por quanto tempo sua mente permaneceu presa a um corpo incapaz de se mover, antes de finalmente ceder à inconsciência, ainda com aquela visão queimando suas retinas.

O cara virou as costas e saiu, mas deixou a luz acesa.





--X--

OIOI! Como estão?

Prólogo postado, espero que vcs gostem! Estou nervoooosa a respeito disso aqui, pq é diferente de tudo o que eu já fiz. Escrever esse plot vai me matar, então gostaria muito que vcs dessem uma chance a ela :)

Qualquer reclamação façam pra @albusxx pq eu sou a mãe dessa fic, mas ela é o pai! Entãão, obrigada Maria Luacifer, por betar (mil vezes por capítulo), me ajudar com absolutamente tudo dela e por gostar de Libertines tanto quanto (ou ainda mais) do que eu gosto hahaha Você sabe que ela é tanto sua quanto minha! ❤️

É isso, obrigada a todos que lerem <3

All the love. Xx Isis

Libertines | L.S. (HIATUS)Where stories live. Discover now