Capítulo 43

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  Os natais de Rose eram sempre muito parecidos, ela e sua mãe, Neide, em uma ceia simples. A virada de ano sempre passava com os amigos, mas o natal Neide gostava de passar com a filha, vez ou outra Jadson estava presente, como naquele ano. E a presença do irmão mais velho, ao contrário do que poderia sugerir, não trouxe muita alegria a ceia. Jadson passou os últimos dias mal humorado e reclamando. Neide até tentou dar as economias que tinha, porém isso não o acalmava.

-Eu odeio essa cidade, odeio essas pessoas – Reclamava no meio da ceia.

-Jadson, chega, para com isso pelo menos agora, é quase natal já – Pedia Rose.

-Meu filho, estou tão feliz de você ta aqui com sua mãe – Neide tentava animá-lo, estavam os três sentados na pequena mesa redonda na cozinha, a distância que os separavam era curta, então Neide conseguiu facilmente esticar o braço para acariciar o rosto do filho – Não fica falando desse jeito não...

Jadson levantou-se ignorando o carinho da mãe.

-Não tem jeito mãe, eu não gosto daqui. Eu preciso de dinheiro – Falava em um tom levemente alto, ajoelhou-se ao lado da cadeira da mãe – Faz um empréstimo no banco pra mim mãe, eu vou te pagar.

Neide olhava para o filho com aflição, o que mais queria era poder ajuda-lo, mas já tinha dado o pouco que tinha e nunca conseguiria um empréstimo em um banco.

-A mãe não vai fazer empréstimo nenhum – Agora era Rose quem se levantava e parava na frente do irmão. Ela sim, bastante irritada. – Sai daqui Jadson, vai pra rua que é onde você gosta de ficar e se quer dinheiro vai trabalhar.

Lentamente Jadson se levantou encarando a irmã que não arredou, devolveu o olhar desafiador, mesmo que quando totalmente em pé, Jadson fosse bem mais alto do que Rose.

-Você anda bem abusadinha...

-Meu filho não – Neide dizia em voz aflita e chorosa, não queria ver os filhos brigando, vendo a mãe naquele estado, Jadson teve um resquício de compaixão e preferiu não estender a discussão em respeito a ela.

Ainda com o olhar desafiador a Rose, virou as costas e saiu de casa. Assim que ouviu a porta bater, Rose se abaixou para abraçar a mãe, tinha receio do que Jadson poderia fazer para conseguir dinheiro, receio de ver sua mãe e ela própria prejudicada. Rose lembrava bem de seu passado, nem tão distante assim, quando cometeu um erro no meio do desespero em que o próprio Jadson não estava próximo para ajuda-las, não queria o irmão metido em nada parecido. E foi com esses pensamentos e outras preocupações mais que Rose passou o resto do natal.

-Conversar o que? - Perguntou Antônia desconfiada, Joana estava em pé no meio da sala, ela também, um ou dois metros as separavam. Percebeu a mudança de atitude da irmã logo pela manhã, mas não lhe passou pela cabeça o que poderia ser. Firme e irritada, era algo que Antônia não lembrava de já ter visto em Joana, como via naquele momento. A irmã era sempre tão calma e brincalhona.

-Conversar sobre a presepada que você e a Valentina arrumaram – Joana quase gritava, as mãos na cintura, a respiração ofegante, algo muito, muito raro. Percebeu quando Antônia arregalou os olhos e engoliu em seco

-O que... o que você quer dizer? - Ficou repentinamente tão nervosa que a voz saiu num fio rouco, de onde Joana tirou aquilo?

-Você sabe exatamente o que Antônia – Joana andou pela sala. Antônia permanecia imóvel, perdeu até o bronzeado de tão pálida que estava. Não esperava ser confrontada, mas continuaria se fazendo de desentendida, até porque precisava ter certeza do que Joana falava.

Destino Insólito (Romance Lésbico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora