Capítulo 3

Depuis le début
                                    

— Desculpa ter falado assim com você – senti os braços de Rodolfo rodear meu corpo, e com a cabeça apoiada em seus ombros, me permitir chorar por algum tempo. O medo, o pavor, o desconsolo vieram à tona quando senti seus braços ao redor de mim.

O frio estava começando a incomodar, mesmo estando no verão estava frio na ilha. Acho que devido a estarmos no meio do nada, e a brisa gelada que vinha do mar.

— Vamos encontrar um lugar pra gente dormir, com certeza só irão nos resgatar amanhã – disse ele firme e autoritário. Esse era o Rodolfo que eu conhecia.

Eu não disse nada, deixei que ele me guiasse por entre a areia. Logo uma extensão de coqueiros se fez presente, e ele disse que passaríamos a noite ali. Eu obedeci e me sentei encostada em um dos coqueiros, eu tinha medo de me deitar e algum bicho me morder.

— Você não vai se deitar? – perguntou ele deitado em minha frente. Eu apenas neguei com a cabeça – por quê?

— Tenho medo de algum bicho me morder – falei sem graça.

— Não precisa ter medo, nenhum bicho vai te morder. Deite-se, é melhor você descansar um pouco. Não sabemos o que nos espera amanhã.

Deitei de costas para ele, e fiquei pensando em como esse dia estava acabando. Eu sonhava com esse homem todos os dias da minha vida, e agora eu estava aqui, em uma ilha deserta com ele, mas meu coração não estava feliz, não era isso que eu queria, não da forma que aconteceu.

Não sei em que momento da noite eu dormi, só sei que o choro me acompanhou durante muito tempo naquela noite. Rodolfo não falou mais nada durante o tempo em que eu fiquei acordada, acho que ele também estava perdido em seus próprios pensamentos, assim como eu.

O sol da manhã veio me despertar, fazendo com que eu tivesse a certeza que o que estava acontecendo era real, e não apenas um pesadelo terrível, me fazendo ter a certeza do que eu vivi na noite anterior era de fato acontecimentos verdadeiros. Meu corpo estava todo doido e grudento do sal que ainda estava nele. Meus cabelos estavam completamente endurecidos, e meu rosto estava grosso e provavelmente sujo.

Olhei para onde Rodolfo havia dormido, e ele não se encontrava lá. Vasculhei o lugar com meu olhar e nem sinal dele. Um desespero me abateu, e o medo de ficar sozinha naquele lugar fez com que o medo me tirasse completamente o calor do corpo, alojando em mim um frio inigualável. Será que alguma coisa havia acontecido com ele? Será que ele desistiu de me ajudar e foi para outro lugar me deixando sozinha?

Caminhei em direção a areia da praia, sentindo meus pés se arrastar por entre as folhas que se encontravam caída, logo que meus dedos sentiram a maciez da areia. Eu via a mochila de primeiros socorros que ele havia pegado na lancha encostada em uma pedra. Ao lado da mochila estava alguma coisa escrita na areia. Corri até lá e vi que Rodolfo havia escrito algo:

"Volto logo"

Soltei o ar dos meus pulmões me sentindo mais aliviada com isso. Ele não havia ido embora e me deixado sozinha, ele talvez precisasse de um tempo sozinho, assim como eu estava precisando de um tempo sozinha para poder refletir em tudo que estava acontecendo. Eu precisava enfrentar meus medos. Eu precisava me manter forte para sair dali.

Tirei meu short e minha camisa e sentei-me somente de biquíni na beira da água, deixando que as pequenas ondas se quebrassem em minhas pernas. A imensidão azul em minha frente ela muito bela de se admirar, mas com ela vinha à solidão e a vontade de voltar para casa. Eu não fazia idéia de quem havia morrido de quem havia conseguido se salvar. Será que Úrsula estava bem? Será que Felipe e o senhor Góes estavam a salvo? Era inevitável tentar controlar as lágrimas, era inevitável não sentir-se triste e sozinha diante da tragédia que havia acontecido. O tempo estava passando devagar, mas o sol já estava castigando meu corpo. Levante-me e voltei para debaixo das sombras dos coqueiros, querendo que o tempo passasse logo, e que o resgate pudesse vir me buscar.

Pedaços de Você (DEGUSTAÇÃO)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant