1x02 ♠ Família Bucchi

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Yusuke sorriu com a minha resposta. Crystal deixou o gelo, que segurava, cair. Jamie apenas olhava, atônita demais pra reagir.

Ah, é claro. Não apresentei a peça. Guillermo Bucchi. Deve ter 1,60m, mentira, 1,25m. Não importa. O fato é que ele é menor que eu. O sapato dele deve ser feito especialmente para ele, porque parece calçar 52. Tem um cabelo castanho enrolado no estilo macarrão parafuso, uma voz de "estou com um lêmure entalado na garganta" e se acha "o" goleiro. Patético. E namorou a minha Jamie. Repare no pronome possessivo em destaque, por favor.

— Eu não vou cortar a orelha dele! — Minha esposa disse, descolando a última parte do telefone da orelha de Dominó, jogando o telefone e a tesoura ao seu lado no sofá, ao que ele suspirou aliviado.

Yusuke se aproximou, cutucando a minha cintura com o dedo. Fez cócegas e eu ri, mas não era para isso ter acontecido, pois Memo pode achar que eu estou rindo para ele. Egocêntrico.

— Quem é ele? — Yus questionou em tom suficientemente baixo para que apenas eu ouvisse.

— Guillermo Bucchi — eu respondi, no mesmo tom. Foi inevitável girar os olhos ao adicionar a segunda informação — Ex da sua mãe.

— Ela era louca? — Ele perguntou, franzindo a testa e os lábios, resultando numa careta bastante engraçada, enquanto analisava a figura peculiar do homem. Imagino o que ele faria se soubesse que Memo foi um dos namorados mais bonitos de Jamie e que ela já pegou até o "tio Andrew" — Acho que está na hora da operação Adeus Bucchi.

Quando olhei para o dito cujo novamente, ele estava abraçando a minha Jamie com um sorriso mais do que besta na cara. Eu ia mata-lo! E estaria fazendo um enorme bem à sociedade, acabando com poluição visual e sonora ao mesmo tempo, além é claro, de dar uma ajuda e tanto para o clube no qual Memo jogava, adiantando a aposentadoria. Seria um herói. Uma lenda. E aí sim o presidente viria trazer uma medalha.

Dez. Nove. Oito. Sete. Seis. Cinco. Quatro. Três. Dois. Um.

Minha paciência acabou de chegar ao fim, oficialmente. Tenho que dizer que todas as vezes em que eu tentei praticar auto controle valeram a pena: bati meu recorde com dez segundos de calma e paciência.

— Você veio buscar seu sobrinho, não foi? — Yusuke perguntou e Memo assentiu. — Então, agora que ele já pode ir e meu telefone ficar, acho que é sua deixa pra dar o fora. Não foi um prazer!

— Não seja mal educado! — Jamie repreendeu meu pequeno bebê. Por favor, Memo Bucchi está na minha casa, isso lá é hora para pensar em criar filhos educados? — Não quer beber alguma coisa?

— Tenho algumas coisas na adega. — Completei — Vinhos, uísque, rum... Isso é, se você aguentar algo mais forte que trinta gotas de dipirona.

— Não aguenta nem quinze. — Jamie disse, e então cobriu os lábios com as mãos.

— Eu agradeço — Guillermo respondeu olhando para Jamie como se estivesse pensando na melhor forma de reatar com ela ali mesmo — Você sabe que desmaiei com dipirona porque sou alérgico.

— Ah, claro. E desmaiou com uma caipirinha porque ela é cheia de dipirona sódica. Compreendo. — Jamie disse, uma pontada sarcástica em sua voz. Jamie sargentão está vindo fazer as honras da casa, babies.

Ele não respondeu, pois não teve tempo suficiente para fazê-lo. A apenas alguns metros dali, Yusuke tinha caído – se jogado – em cima de Dominó. O garoto bateu a cabeça na mesinha de centro e o supercílio sangrava.

— Desculpe! — Yusuke disse, com a feição do gato do Shrek perfeitamente nítida ante as pupilas dilatadas e aquela cara de inocência que, de alguma forma, sempre convencia Jamie de que ele era um garotinho bondoso e não um mini terrorista corrompido pelo demônio que fica armando planos para interferir na vida das pessoas com o dinheiro que eu dou a ele no natal — Eu sinto muito mesmo! — Garoto falso! Como pode?

Emburrados (Concluído).Where stories live. Discover now