Kätzchen

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Cheguei em casa, estava suado e ofegante, os cachos desgrenhados grudavam em minha testa. Era sábado de manhã, o que significava que eu tinha um compromisso com o meu corpo, e tinha de fazer uma pequena corrida pelo parque que ficava à uns três quarteirões da minha casa. Tirei as chaves do bolso da minha bermuda, e destranquei a porta de casa, adentrando o recinto silencioso.

Meu olhar varreu o cômodo a minha frente, a sala não estava bagunçada assim quando eu saí de casa. Respirei fundo, soltando o ar lentamente, e dei passos silenciosos em direção a minha cozinha, esperando que quem quer que fosse que tivesse invadido a minha casa, já não estivesse mais lá.

Assim como a sala, a cozinha estava uma imensa bagunça, mas não tinha ninguém lá também. Peguei no armário a maior frigideira que eu tinha - só por precaução - e fui verificar os outros cômodos da casa. O lavabo do corredor não havia sido vasculhado, então fechei a porta suavemente e fui até meu quarto.

A porta estava entreaberta e eu podia ouvir um leve ressonar vindo de dentro do cômodo. Pressionei com força o cabo da frigideira contra a minha palma suada e dei um empurrão leve na porta. Soltei um murmúrio surpreso e empurrei mais a porta, que se abriu de vez, rangendo alto. O corpo que estava em cima da minha cama se mexeu abruptamente, saindo de cima da mesma. Olhos assustados e arregalados me encaravam, e eu encarava o ser a minha frente da mesma forma.

O menino direcionou os olhos para o objeto em minhas mãos. Suspirei e abaixei a frigideira lentamente, ainda encarando o garoto assustado à minha frente, mas não a soltei. — Quem é você? — perguntei.

Ele nada me respondeu, ainda ficou me encarando com seus olhos azuis brilhantes. Sua face desesperada e a respiração alta e acelerada entregavam que ele não estava tão bem quanto eu estava - não que eu estivesse bem, na verdade. Eu só era muito bom em controlar a minha respiração, desde que eu não estivesse correndo.

- O que você está fazendo aqui? — insisti. O garoto baixinho permaneceu em silêncio, mas chiou nervoso quando dei um passo em sua direção. Ignorei o fato de que a cada passo que eu dava fazia ele recuar, até o momento em que ele se encostou na parede, bem ao lado da janela que estava aberta - por onde ele, provavelmente, devia ter entrado - e fiquei parado bem em frente a ele, que parecia que ia desfalecer a qualquer momento — Não vou te machucar. — garanti, mesmo que a frigideira em minha mão demonstrasse o oposto que minhas palavras.

Pisquei os olhos um pouco demoradamente e o garoto usou isso ao seu favor, saindo correndo do quarto, tentando achar uma saída - já que eu o impedia com meu braço de chegar na janela - e eu saí correndo atrás dele, largando a frigideira pesada em cima da minha cama. — Pare já de correr! — gritei irritado e consegui alcança-lo pouco antes que ele chegasse na porta da frente. Prendi ele entre meus braços e o virei de frente pra mim — Quem é você e o que estava fazendo dormindo na minha cama? — perguntei novamente, de forma nada gentil.

O garoto me encarava apavorado, e tentava se soltar do meu aperto, mas não era forte nem grande o suficiente para tal. Naquele momento, enquanto observava seu rosto atentamente, levantei um pouco o olhar, até seus cabelos castanhos onde encontrei algo que me fez arfar de espanto. Levei uma das minhas mãos até tocar uma daquelas orelhas, para testar pelo tato se elas eram tão reais quanto pareciam ser.

- Mas que porra! — gemi ao sentir a pele fina encoberta por pelos finos, castanhos assim como os cabelos do menino. Ele tremeu ao me sentir tocar novamente aquelas orelhas extremamente parecidas com orelhas felinas, soltando um chiado nervoso ao notar que eu afrouxei o braço ao redor de seu corpo, saindo de perto de mim, indo até a porta, girando a maçaneta e correndo para fora de casa.

Lembranças de três anos antes bateram na minha cara e eu me senti estúpido, enquanto saía correndo atrás do garoto assustado. Era mais do que óbvio que ele não era um simples garoto, e não me parecia seguro deixá-lo solto no meio da rua. Na verdade, eu podia, mas o meu instinto protetor insistia no contrário. Ou sei lá porquê eu tive essa atitude, eu apenas o fiz.

Achei o garoto cerca de cinco minutos após termos saído e, bem, ele estava em cima de uma fucking árvore, e eu não fazia a mínima ideia de como ele havia subido. — Hei! — Chamei suavemente, controlando a respiração que estava saindo meio desesperada pela breve corrida — Como você subiu aí? — perguntei e balancei a cabeça de forma negativa — Venha... desça daí, vou te levar de volta pra casa.

O garoto abraçava a si mesmo e me encarava atentamente, mas não dava indícios que iria descer. — Você consegue me entender, certo? — perguntei e esperei um pouco, até que ele movimentou suavemente sua cabeça, afirmando — Ótimo. Eu não vou te machucar, prometo. Mas você não pode ficar aqui fora, sim? As pessoas não estão... acostumadas. — falei e apontei para o topo da minha cabeça, para que ele pudesse entender que eu falava de suas orelhas pontudas e fofas.

Mas ele ficou lá, me encarando nervoso. — Por favor. — murmurei, agoniado.

Eu estava prestes a deixar ele naquela árvore para se virar completamente sozinho e voltar para minha casa, que eu larguei com a porta escancarada, e arrumar a bagunça que ele havia feito. Esperei mais alguns minutos e, como nada aconteceu, dei as costas para o garoto e sua árvore e comecei a caminhar de volta para a minha casa, disposto a esquecer de que eu havia conhecido um... híbrido.

Convenhamos, era aterrorizante imaginar pessoas e animais sendo combinadas em experimentos científicos sem lógica e finalidade. Anos antes, quando eu fiz aquela pesquisa sobre híbridos para um dos meus professores da faculdade de biologia, eu não acreditava que haviam seres humanos capazes de fazer aquele tipo de coisa repugnante com pessoas. Da pesquisa, eu não sabia o quanto do que eu tinha visto era real. E, após ver aquele garoto com orelhas de gato, eu desejava profundamente não saber.

Minha mão alcançou a maçaneta da porta ao mesmo tempo em que senti algo agarrar minhas pernas. Soltei um gritinho agudo em surpresa e olhei pra baixo, apenas para encontrar o garoto que me olhava suplicante. Suspirei, de certa forma aliviado, e dei espaço para que ele entrasse na minha casa. Ele se soltou da minha perna e correu para cima do meu sofá, se sentando no mesmo, por cima das suas pernas, que estavam dobradas.

Tranquei a porta e me virei para o garoto, que parecia bastante confortável naquela posição e que me encarava curioso. — Bom... Você consegue falar? — perguntei.

O garoto fez um careta, e depois mordeu o lábio inferior. Seu olhar se voltou para baixo, provavelmente observando seus dedos que brincavam um com os outros. Revirei os olhos, digamos que paciência nunca foi meu forte. Então, decidi ignora-lo até que ele decidisse se ia me ajudar a compreender o que diabos ele fazia na minha casa, e em como eu poderia ajudá-lo.

Comecei, então, a reorganizar a sala do jeito que estava antes. Recoloquei as almofadas no sofá, arrumei o tapete, coloquei os controles em seus devidos lugares, bem como os porta-retratos que, por sorte, não haviam sido quebrados. Rumei para minha cozinha e fui guardando as panelas que estavam no escorredor, colocando as sujas - que estavam espalhadas pelo chão - dentro da pia, guardei todos os utensílios que estavam jogados, com cuidado, joguei os copos e pratos quebrados no lixo, limpei o chão sujo de comida e lavei a pouca louça que tinha. O garoto de olhos azuis iria me explicar o motivo de toda aquela bagunça e destruição depois. Quando acabei tudo, tomei um pouco de energético que tinha na geladeira e voltei para a sala.

Era adorável a cena que presenciei quando retornei ao cômodo. O garoto dormia no sofá, todo enrolado em si mesmo, como um verdadeiro gatinho. Ele ressonava baixinho, os lábios estavam entreabertos para facilitar a respiração. Enrolado do jeito que ele estava, era inegável que ele também havia herdado, além das orelhas, da personalidade desconfiada, a agilidade, e a flexibilidade dos felinos.

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Yay, já estou aqui de novo porque... Porque eu não tenho jeito mesmo kk. Bom, espero que tenham gostado desse primeiro capítulo *u*

O título, "Kätzchen", significa gatinho em Alemão. E não, não faz sentido o nome do título ser em Alemão, mas vai ser assim, me processem *moon face*

É POV Harryzinho pica das galáxias mas, se em algum momento da história for POV de outra pessoa, eu não vou avisar. Então prestem atenção em quem está narrando (: BEIJO NA BUNDA


 Sweet Purrfection  LS (Hybrid!Louis)Where stories live. Discover now