Capítulo 11 (Revisado)

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Psiu! Ele está acordando. Silêncio que o matador de Acordador está vivo. – I.N ouvia vozes e mais vozes em sua cabeça. Ouvia L.V dizendo para ele ficar deitado e não se esforçar muito. Ouvia também A.E, só que o mesmo, conversava sobre asas de borboleta com C.D. Foi S.F que retirou o pano molhado do rosto de I.N que sucintamente foi abrindo seus olhos, meio lacrimejando, meio embaçado, até se adequar a luz local. Estava no Aposento. Todos estavam lá, ou melhor, todos não. Não foi surpresa nenhuma não notar a presença de Robert. Mas o mesmo não fazia tanta diferença para ele. Ao se ajeitar na cama, I.N pergunta quanto tempo está naquela situação. É B.F que pronuncia primeiro, vencendo A.E, que mesmo distante, tentou falar.

– Três dias e com esta, é a sua quarta noite.

"Fiquei todo este tempo desmaiado? Aquela visão seria apenas um sonho? Uma lembrança?" – Perpetuava no vazio de seus pensamentos.

A.E vai até ao pé da cama e como um tiro, solta aquilo que o coitado do I.N não imaginara ouvir tão cedo.

– Está pronto para morrer I.N? Hoje é o sétimo dia. Hoje é o dia dos Acordadores. Estamos sem Sonhadores, agora somos nós. É guerra!

– Poxa A.E, não era para falar agora! O coitado mal levantou e você já quer derrubá-lo? Você e sua boca grande!

– Foi mal S.F. Escapuliu.

Aquela notícia pegou realmente I.N de surpresa. Mal acabara de despertar, ou melhor, mal havia acabado de realizar algo inédito, algo incrível, vencido um e lá estavam esses seres para atormentarem novamente. Saiu de um pesadelo e já estava adentrando outro.

– Vão em frente, galera. Logo alcançamos vocês. Faremos como combinado, Ok? – disse o líder do bando despachando-os e já fitando o recém-acordado – Agora, preciso que você me ouça I.N.

Como de praxe, B.F e M.F disputaram quem chegaria primeiro nos pés de macieiras. Pobres coitados, quase se estropiaram ao descer as escadas.

– Depois vocês esculacham o A.E por ser desastrado. Quantas vezes eu falei que dois corpos não ocupam o mesmo lugar? Queria só ver se vocês tivessem caído e machucado. – o sermão de I.N valera à pena. Os dois abaixaram a cabeça, amuados – Estragou a brincadeira. – Disse M.F antes de descer as escadas.

– Eu pedi para eles irem porque queria trocar uma palavrinha com você. Não é nada demais, mas gostaria de agradecer pelo que fez por nós. Você nos deu esperança, sei que agora podemos vencê-los.

– E você dizendo que não tinha como derrotá-los... – Riu.

– Não, não. Eu havia dito que era muito difícil de derrotá-los e nunca havíamos visto um morto, mas agora que você nos deu a chance de... – os olhos se moveram, pensativo. Procurou a melhor forma de explicar. – Digamos que vasculhar internamente e mais profundamente e, não! Não me pergunte nada porque só de imaginar já passo mal. O fato foi que o C.D e o S.F, encontraram um ponto fraco nos malditos. Ainda assim será muito difícil derrotá-los porque para que isso ocorra, teremos que acertá-los bem na epiglote e...

– Epiglote?

– É uma espécie de válvula que serve para fechar a ligação da faringe com a glote e, antes que me pergunte, a glote serve para impedir a entrada de alimentos e assim facilitar a entrada e a saída de ar nos pulmões. Ou você come ou você respira. Palavras de S.F.

– Entendi. Mas, como vamos fazer para acertar essa coisa?

– A epiglote? Então, eu não disse que seria difícil do mesmo jeito? A forma mais rápida de matá-los seria cortando suas cabeças. O corpo não respira nem come sem cabeça não é? Claro que se acertarmos o coração também os matamos. Eles são como nós e isso foi à descoberta mais chocante. Pulmão, intestino, clavícula, ossos, cérebro, enfim, tudo que um ser humano normal tem para sobreviver. Claro que neste caso, "apenas" o coração e uma pequena porção do cérebro funciona. O hipotálamo. É o S.F novamente com suas palavras difíceis.

– E o restante?

L.V abaixa a cabeça e ri lembrando-se da cena. – Novamente agradeço por não ter estado presente na hora do abate, porque meu amigo... só te digo que fez o S.F vomitar quase as tripas de tão podre e fedido que estava o interior do Acordador. – L.V ri mais uma vez lembrando-se do S.F correndo pelos quatro cantos de Paraíso, todo vomitado – Mas enfim, agora, precisamos ir que está quase na hora e os meninos já devem estar a postos. Vamos que no caminho conversamos mais.

Ao saírem do Aposento, I.N logo percebeu o quanto os meninos haviam trabalhado nestes três dias de sua ausência. Sentiu-se inútil por não ter ajudado. Possuíam lanças, escudos, espadas, arcos e flechas. Claro que tudo feito na pior condição possível. A espada não cortava nem papel de tão mal feita que fora fabricada. Não os culpavam, afinal não tinham ferramentas para forjar na melhor forma possível. O escudaria fora feito de cadeiras e mesas, não se dando o luxo nem de retirar os solados. Lanças e arco e flechas eram madeiras talhadas.

Oprimidos à espreita estavam M.F, B.F e C.D, onde por de trás de uma mesa tombada, feita como escudo, aguardavam pelos malfeitores. Foi então que S.F, escondido com seu arco e flechas atrás do Entulho, esgoela com toda a força que sua garganta pudesse aguentar antes de estourar:

– O PORTÃO ESTÁ ABRINDO! O PORTÃO ESTÁ ABRINDO! – Finaliza com um gritinho muito esquisito que fez com que M.F se desconcentrasse e olhasse para o pobre amedrontado. Ria e gesticulava. O fato foi que o ataque de riso do M.F quebrou o clima para o que estava preste a acontecer. Desesperados, medrosos, porém unidos. Todos no aguardo dos Acordadores. O portão externo encontrava-se em sua metade e, no interior, passos começavam a surgir. Cada vez mais próximo.

– Foi muito bom tê-lo como amigo. – Dizia despretensiosamente B.F para M.F.

Olhos cruzaram entre A.E e C.D. Nenhuma palavra fora dita, porém o silêncio falou por si. A amizade estava presente naqueles garotos.

Da neblina que se estende no externo do portão uma sombra toma forma.

– Todos em guarda! Lutaremos até o fim. – Anunciou L.V.

– É AGORA! – Berrava B.F.

Foi então que tudo mudou. Do portão de Paraíso, criatura nenhuma saiu. Nenhum Acordador. O que lá surgiu, fizera com que S.F praticamente sofresse um piripaque de tão assustadora a cena. Um ser humano. Uma mulher. Identicamente ao sonho de I.N. Mesma feição e roupa, porém suja e maltrapida. A vanguarda de sua cabeça, um pequeno ferimento. O sangue ressecado, acompanhado de um protuberante hematoma com cores verde, roxo e amarelo queimado, envolvia o franzino corte de sua testa. Era Anne Storer. Sem pestanejar, I.N corre todo desajeitado,devido ao tempo desmaiado, de encontro àquela mulher. Ao se aproximar, nota o desespero. A garota estava em estado de choque. Um único respiro fora dado, o mais profundo que sua alma conseguiu suportar, então, ela, sentiu o corpo pesar. Despencou rumo ao chão, não antes de ser envolvida pelos braços de seu salvador. Com um olhar trêmulo, Anne movimenta os lábios. Sorrateiros.Vagarosos. Brandos. Uma única palavra sucinta: "Por quê?" – E então desmaia.

PROJETO I.N - DESPERTAROnde as histórias ganham vida. Descobre agora