Capítulo 6

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Eu nunca fiquei tão presa a um menino quanto fiquei a Jorge. Não sei se é uma prisão boa ou ruim. Na verdade, só está me fazendo mal até agora. Ja se passaram três semanas e a situação na escola não muda. Jorge não terminou com a garota, e está começando a me deixar nervosa. Sinto ele distante de mim. Durante todo esse tempo que passou ele não falou comigo ainda pessoalmente. Não entendo. Talvez eu é que esteja distante e me afastando dele. Só de pensar nisso, começo a chorar e me lembro que estou em público.

Na sala de aula, o professor me olha e pergunta se estou bem. Claro que não estou bem, que pessoa está bem quando se está chorando. Pergunto se posso ir ao banheiro e ele permite. Óbvio que não saio chorando. Quando eu havia percebido que todos me olhavam, tirei discretamente uma lágrima com o indicador e mantive a postura. Só o professor percebeu aquela lágrima teimosa ali.

Fui ao banheiro e lavei o rosto. Depois de ter certeza que ninguém entraria ali, caí em lágrimas e soluços. O rímel escorrendo. Limpei as manchas pretas de meu rosto e esperei até sumir a vermelhidão. Quando estava pronta para voltar a sala de aula, havia um menino encostado na parede ao lado da porta do banheiro feminino. Jorge.

- Me desculpe. Eu juro pra você que tentei. Não sei o que fazer. - Ele disse.

Naquele momento meu mundo desmoronou novamente. Ouvir a voz dele fez eu me derreter e sentir raiva e tristeza ao mesmo tempo. Não suporto sentir mais de uma coisa ao mesmo tempo. As lágrimas começaram a sair de novo.

- Por que você acha que eu estou chorando por você? - Pergunto.

- Na hora em que o professor olhou para você, foi exatamente segundos depois em que Nátalie empolgadamente me deu um selinho de alegria por ter acertado uma questão difícil.

- Ela te beijou na minha frente? - Perguntei sem esconder a raiva. Claro que minha pergunta não fazia sentido. Nátalie não sabe nada a respeito de mim e de Jorge. Refiz a pergunta. - Digo... na frente do professor. - Com a cabeça baixa e depois de ter ouvido o que ouvi, não queria mais ficar ali. Ia começar a caminhar até a sala quando ele me pegou pelo braço.

- Me escuta.

- Me deixa em paz. Você me faz mal. Não chegue perto de mim novamente.

- Anna, não é isso que está acontecendo. Você precisa ouvir minha parte da história.

- Eu cansei de ficar tendo que aturar você e ela. Não preciso de suas descupas. Só acho lamentável você esquecer tudo que passamos. Você nem sequer considerou o fato de que eu iria abrir mão de muitas coisas para ficar com você. - E o choro sai espontaneamente. - Olha pra mim. Desleixada, acabada... qualquer descrição semelhante você pode me dar. Nos corredores, as pessoas falam que estou doente. Nunca pensei que eu fosse passar por isso.

- Eu não imaginei que... - o sinal para o início do intervalo tocou.

- Droga! Sai daqui. Se me verem nessas condições vai ser o cúmulo. Só quero que fique sabendo que não vou mais chorar por você. Você não merece uma única gota de lágrima que sai de meus olhos. Até logo. - E entro no banheiro. Dessa vez em um dos blocos.

Cerca de dez minutos depois, me recomponho e saio.

Os comentários nos corredores. Antes eu era considerada a mais linda da escola. A arrogante mais perfeita, a menina mais rica e bela. Nessas últimas três semanas, fui perdendo aos poucos minha vaidade. De calça de jeans surrada e um pouquinho folgada, até o uniforme da escola que praticamente ninguém usava. Minha maquiagem era apenas uma máscara para os cílios, que acabou de se perder em meio as minhas lágrimas.

Minha mãe me perguntou porque eu estava agindo de tal forma. Simplesmente contei tudo a ela, como sempre tirando a parte de Godava. Ela me disse que estava passando por situação semelhante, e me deu conselhos. Mas é claro que se conselho fosse bom, ninguém dava de graça.

Talvez agora seja hora de mudar. Esperei demais por uma migalha de atenção de Jorge. Tenho que fazer ele implorar por uma migalha da minha atenção. Nada me tira da cabeça que Nátalie sabe muito mais sobre nós dois do que imaginamos. É hora de começar a descobrir.

♡♡♡♡

- Você tem certeza disso?- Gina me pergunta.

- Claro que não. Só sei que temos que descobrir. Mas ainda não sei como.

- E como você chegou a essa conclusão precipitada? - Pergunta Jessy.

- Sexto sentido, querida.

- Você não pode julgar as pessoas tendo apenas seu sexto sentido de prova contra elas.

- Vocês vão ficar contra mim?- Pergunto boquiaberta. - Desde quando vocês começaram a gostar dessa garota?

- Não se trata disso. - Gina suspira. - Domingo é sua festa na piscina. Você entregou convites pra eles? A gente pode encurralar ela, e precionar para ela falar algo. E se ela não falar... ja que você tem tanta certeza sobre isso, você conta a história para ela.

- É. - Jessy interfere. - O problema é como vamos fazer isso.

- Isso é o de menos. Anna já conseguiu obrigar um bando de gente a fazer os trabalhos dela. É só pensar um pouquinho.

- Muito obrigada, Gina. - Reviro os olhos.

- Desculpe, mas é verdade. - Ela fala, e dá um gole no suco.

O refeitório estava cheio. E claro que eu não pude deixar de notar a presença de Nátalie sozinha em uma mesa, com uma, maçã, fones no ouvido e lendo um livro.

- Eu vou lá falar com ela. - Quando vou me levantar, Gina me puxa.

- Nem pense nisso. - Ela balança a cabeça de um lado para o outro, negando minha atitude. - Olha pra você. Está acabada. Nem eu uso o uniforme da escola.

- Não consegui pensar no que vestir. Esse dava menos trabalho. Não vou me arrumar pra falar com Nátalie.


- Estou querendo dizer que você não vai conseguir intimidar ninguém vestida assim. Ela vai te humilhar mais do que você pretende humilhar ela.

Ela tem razão. Acho que Nátalie ainda está mais arrumada do que eu. Onde eu estava com a cabeça para usar a calça da minha mãe e o uniforme? Com certeza não era no lugar.

- Amanhã você vem arrasando, meu bem. - Jessy fala. - Depois de falar com ela você vai dar em cima do Jorge sem deixar que ele toque em você. Pra ele aprender.

Eu estava começando a entrar em uma depressão de verdade. Mas agora meu lado malvado voltou. E é claro que não vou igorá-lo dessa vez. Vou fazer o possível para destruir os laços entre os dois, e deixar Jorge sozinho de novo. Como o nerd inútil que ele era antes de eu parar de praticar bulling com ele.


Amores FurtadosWhere stories live. Discover now