Capítulo 11

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JORGE

Sei que talvez nunca mais eu tenha Anna para mim de novo. Sinto tanta falta de nossos momentos juntos que as vezes até tento falar com Nátalie sem me importar com os sentimentos dela. Acabar logo com isso. Queria que fosse fácil. Queria ter a facilidade que Anna tem de não dar a mínima para o que os outros sentem.

Com esse pensamento, decido ir até a casa dela. Não custa nada. Na verdade temos que começar a pensar em como fazer nosso trabalho. Ela é a minha companheira.

Vou à escola desanimado porque ela não estará lá. Não é que Nátalie não seja uma boa companhia, o problema é que não é ela que eu quero por perto por enquanto. É Anna. Quando estou andando pelo corredor vejo Jessy parada em frente ao armário dela.

- Licença... Jessy... você sabe... - Não consigo organizar as palavras que quero usar. Ela boceja e está com olhos meio inchados. Provavelmente não dormiu essa noite. Vai ver estava colocando matérias da escola em dias.

- Ela foi suspensa, por culpa da sua namoradinha. Não quero falar com você. Você me irrita. Não sei o quê Anna viu em você. Se eu tivesse um bonitão como o Sérgio na minha cola eu nem ia notar sua presença. - Ela fala com uma voz meio cansada e boceja novamente.

- Sabe que suas palavras não me ofedem mais, né?

- Tanto faz. Eu só quero dormir. - Jessy se encosta no armário, joga a cabeça para traz e fecha os olhos.

- Jessy, pode entregar isso a An... - Antes que eu termine de falar ela faz um "Shh" duas vezes lentamente colocando o indicador na minha boca.

- Não se pode mais nem meditar nesse lugar. Que saco! - Ela começa a se afastar e para virando para mim. -Ah! Lembrei! Sua namorada foi até a casa de Anna e falou diversas atrocidades sobre ela para a empregada que Anna considera como segunda mãe. Ela disse que não era pra eu contar a você. Mas não resisti. Vê se larga logo essa cobra. Anna não vai esperá-lo para sempre. - Agora ela sai definitivamente. Jessy está usando uma saia jeans clara tão curta que quase vejo o que não devia quando ela se abaixou para pegar o dinheiro que ela deixou cair no caminho.

Nátalie foi até a casa de Anna ontem. Não acredito que ela tenha feito isso. Se bem que ultimamente ela tem agido muito estranho. Ela não desgruda de mim. Tento evitá-la de todas as formas, pois já está se tornando uma coisa muito melosa e chata.

- Meu amor! - Nátalie me abraça por trás, me assustando. - Procurei você por toda parte. Quero dizer uma coisa...

- Você foi até a casa de Anna ontem? - pergunto friamente.

- Não. Por quê? - Ela está corando. Não sabe mentir para mim.

- Não minta. - Olho nos olhos dela.

- Tudo bem. Eu fui lá. Mas eu queria conversar com ela.

- Você é uma péssima mentirosa. Você sabia muito bem que ela não estava lá. Ela estava aqui com você e depois você foi embora e ela ficou. O que você pensa?

- Jorge, eu... a culpa é sua. Eu não sei o que acontece entre vocês. Mas desde o dia em que voltaram para a escola depois de ter sumido por quatro dias, você se afastou de mim. E por incrível que pareça já os vi conversando. Você não está no mesmo nível dela. Por que estariam conversando?


- Somos todos iguais. Acho que não quero mais namorar você. - Falo abaixando a cabeça.

- Só pode estar de brincadeira comigo, não é? - O rosto dela fica vermelho. Ando do corredor dos armários até o refeitório e ela me acompanha. - Jorge, eu amo você. - Agora ela começa a chorar em silêncio.

- Sinto muito. Eu não quero magoar você. Só quero ficar em paz, e enquanto estivermos juntos, isso não vai acontecer.

- Por favor. Me dê mais uma chance.

- Você é uma garota bonita. Vai encontrar meninos melhores que eu. Meninos que a mereça. - Pego nas mãos dela. Estamos no refeitório, sentados em uma mesa. Um de frente para o outro.

- Você é um merda. Acha que ela vai olhar para você? Eu não sei o que aconteceu, mas eu conheço Anna muito melhor do que você. - Ela enxuga as lágrimas e me olha fixamente. - Depois que ela conseguir o que quer, vai desprezá-lo e você irá sentir exatamente o que eu estou sentindo agora. Não vou deixar barato para você. Muito menos para ela. - Quando ela pronuncia a última palavra, se levanta afastando com força a cadeira atrás de si.

Não me sinto bem por tê-la magoado dessa maneira. Mas me sinto muito mais leve. Preciso contar o que aconteceu para Anna. Um sorriso bobo escapa de mim e não consigo evitar. Pego um susto quando escuto alguém gritar a algumas mesas à minha frente. É Jessy.

- Ai, meu Deus! Você está louca? Eu demorei dias para terminar. - Ela fala levantando um papel com alguma coisa desenhada que não consigo identificar daqui. O rosto de Jessy começa a ficar vermelho. Ela se levanta e dá um tapa forte no rosto de Nátalie.


- Jessy, foi sem querer. Desculpe-me.- Ela parece estar falando sério, mas sei que não está.

- Você tem ideia do que fez? Tem ideia? - Ela eleva muito o tom de voz. - Isso foi tudo, menos sem querer. -Ela parece estar prestes a chorar. Então pega sua bolsa para sair rapidamente. Mas antes de virar as costas para Nátalie ela fala. - Vá se fuder! Idiota! Cretina! Mal amada! Invejosa!

- Parece que você está ficando igual a sua mãe, louca. Seria bom você procurar um psicólogo... ou melhor... acho que um psiquiatra é mais adequado.

Jessy não resiste mais às provocações de Nátalie. Quando percebo ela já pulou para cima dela derrubando-a no chão, puxando seus cabelos. Nátalie finge querer afastá-la, mas é óbvio que ela não está fazendo força. Todo mundo corre fazendo um círculo ao redor das duas. Que cena ridícula. Estão todos se divertindo as custas delas. Corro até lá, abrindo caminho entre as pessoas. E começo a tentar tirar Jessy de cima de Nat. É perceptível que todos se surpreendem por, justamente eu, ter ido lá. Mas não ligo.

- Jessy, calma. Isso só vai piorar sua situação.

- Eu não ligo. Quero fazer um estrago maior. - Jessy fala.

Nátalie está se levantando rapidamente do chão. Seu rosto está com três arranhões logo abaixo de se maxilar e está saindo sangue de seu nariz. Os braços... completamente arranhados.

- Suas unhas fizeram tudo isso? - pergunto sem acreditar.

- Se você não me segurasse, ela iria precisar de uma nova identidade.

- Não pense que vai sair ilesa dessa, Jessy. - Ela dá três passos se aproximando de Jessy e fala cuidadosamente. - Cuidado com sua bolsa. - e sai a passos largos.

Jessy pega a bolsa que jogou no chão e parece estar começando a associar as coisas, pois arregala os olhos e os mesmos começam a brilhar. Lágrimas querem sair, mas ela não permite. Apenas diz:

- Droga! Está tudo arruinado. Merda! - ela sai andando rápido e eu não entendo porque tanto afeto a esta bolsa, a bolsa nem sequer foi atingida.


Todos já voltaram ao normal. Felizmente não tinha monitor algum aqui. Mas isso não vai fazer com que ela escape da diretoria. Com certeza a notícia já está lá e a diretora está procurando-a. Sigo Jessy até o corredor dos armários. Ela abre o seu e se encosta na parte de dentro dele.

- Essa bolsa tem algum valor tão especial? Você está chorando por um objeto? - Pergunto, tentando animá-la. Confesso que sou péssimo nisso.

- Ela não estava se referindo à esta bolsa. - Ela abaixa a cabeça e diz entre soluços baixos e delicados, a voz meio rouca. - Eu sou bolsista aqui. Qualquer motivo, é motivo para expulsão no meu caso. E essa situação... provavelmente... - Ela coloca as mãos no rosto e começa a chorar. Como Nátalie pôde pegar tão pesado? Agora me sinto feliz por não estar mais com ela. E nem um pouco mal por tê-la magoado. Mas também sei que a vingança dela vai começar agora. Tenho medo do que vai acontecer daqui para frente.

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