7 - Estranho

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A carta de inscrição de Haidel entrou pela ranhura do posto de correio e misturou-se com todas as outras. Anna sentiu-se estranha, um arrepio por toda a sua espinha, ao ter deixado aquela carta ir para o sítio onde foi.

- Porque é que estás com essa cara, amor? – a mãe deu um abraço alegre à filha.

- Nada... Só tive um pressentimento estranho e...

  Um telemóvel começa a tocar. "Trim, Trim". Era o do pai

- Estou sim? – perguntou ele atendendo o telefone. Do outro lado uma mulher respondeu

- Fala o Sr. Johnson?

- O próprio!

- Era para informar que já pode ir buscar a menina Rylie Johnson ao hospital. - A família Johnson entreolhou-se, mais feliz que tudo. – O examinador diz que ela conseguiu aguentar o dia quase todo sem vomitar e que, como não foi detetada nenhuma doença, podia voltar para casa. Mas mesmo assim vai ter que ficar três dias de repouso.

- Muito obrigada! – e o pai desligou o telemóvel, mais feliz que sempre. – Ponham-se no carro, vamos buscar a nossa princesa!

Os Johnson puseram-se no carro e foram a alta velocidade para o hospital. O pai não parava de sorrir, a mãe cantarolava de alegria, mas Anna não estava assim tão contente. Quer dizer, em relação à irmã está porque finalmente a vai ter de volta, mas ainda tem uma sensação estranha em relação à carta. E agora com o telefonema ainda ficou mais intrigada... Foram dois segundos depois de ela mandar a carta, o hospital ligou!
Até parece que estava a vê-los...

Quando chegaram ao corredor 4 depararam-se com uma grande agitação e, encostada a uma parede estava Rylie muito descontraída a mexer no telemóvel.

- RYLIE! – Anna foi a correr dar-lhe um abraço, ação repetida pelo país.

- Porque é que já estás cá fora? – perguntou o pai pegando na mala de Rylie que continha tudo o que ela trouxera para o hospital

- Bom... podemos dizer que – Rylie olhou para Anna assustada – o quarto está em chamas.

- O QUÊ? – perguntaram os três ao mesmo tempo

- Pois... Alguma coisa – fez um sinal à irmã com a cabeça – ou pessoa não sei bem, conseguiu surpreendentemente incendiar um papel que se alastrou rapidamente pelo quarto inteiro

- Mas estão todos bem?

- Sim, sim! Conseguimos sair todos. Aquilo era um foguinho de nada, pai. Agora podemos ir para a casa?

- Ainda bem que estás bem minha filha – a Srª Johnson abraçou a Rylie – vamos embora.

Os Johnson, agora completos, voltaram para casa. No caminho para o parque de estacionamento Anna afastou-se um pouco dos pais e pegou na mão de Rylie

- O que é? – perguntou ela

- Foste tu?

- Do que é que estás a falar? – Rylie tinha a testa enrugada

- Se foste tu que ardeste o quarto do hospital.

- Ah sim, fui eu – ela afirmou com orgulho

- A mim também têm acontecido coisas estranhas... - confessou Anna

- O que é que ardeste?

- Eu não ardi nada. Eu criei! Consegui encher 3 centímetros de um copo com água e consegui esguichar água para a cara do teu gato.

- Pobrezinho! – exclamou Rylie imaginando o seu pobre gato, e tudo o que lhe aconteceu durante estes tempos que teve no hospital ao cargo da irmã.

- Pobrezinha sou eu que tive que limpar os cocós e gastar o meu tempo a dar-lhe comida... por favor, nunca mais voltes para o hospital – Rylie riu-se – Mas pelo menos hoje não vomitei nada...

- Eu quase! – Rylie olhou para o céu que estava escuro, apenas com a luz das estrelas – ainda bem que voltou tudo ao normal...

- Tudo, relativamente! – alertou Anna – então e a carta para Haidel?

- Ah pois! É muito estranho sermos aceite nessa escola para pessoas com boas notas, coisa que nunca tivemos!

- Agora é só esperar que dia 2 chegue...

- ... e as nossas amigas nos atendam! – exclamou Rylie zangada

Rylie sempre dera muita importância à amizade, Anna nem sempre. O que para a Rylie pode ser imperdoável, como por exemplo a traição de uma amizade, para a Anna não passa de algo não muito importante que será esquecido passado uns dias.

- Ah deixa lá, talvez elas liguem quando começar a escola para saber o porquê de não estarmos lá. – tentou animar Anna

- Ou se calhar nem querem saber...

Coisas estranhas aconteceram na semana seguinte para ambas as gémeas. Coisas impensáveis e sem explicação – coisas sobrenaturais...

Todas as terças o Sr. Johnson ia correr três quilómetros pelo bairro, para se manter em forma, e naquela terça decidiu levar as duas filhas. Depois de ter conseguido tirar a Anna do pijama e da televisão e a Rylie da cama, vestiram os fatos de treino e foram correr.
A verdade é que nenhuma delas estava com vontade:

- Vá lá Rylie tu consegues!

Nem os gritos de encorajamento do pai serviam para elas se mexerem mais depressa, e ainda por cima numa subida.

- Pai... eu estou a... morrer! DEIXA-ME PARAR! – suplicou Rylie quase rastejando no chão de alcatrão – Eu... preciso de água..

"Água..." pensou Anna "Já estou a correr à meia hora e não tenho nem um pouquinho de sede"
Era estranho realmente.

Depois de mais subidas e descidas foi a vez de Anna se queixar – não de cede ou cansaço mas sim de calor

- PORQUE É QUE O SOL ME QUER MATAR? – queixou-se ela levando as mãos ao céu

- Estás com calor? – perguntou Rylie surpreendida – Eu não tenho calor nenhum...

- BOA PARA TI RYLIE! NINGUÉM TE PERGUNTOU

- Nem a ti...

- Vocês hoje estão estranhas sem dúvida – comentou o pai – uma tem sede, outra tem calor... Calem-se e corram!

Quando chegaram a casa foram as duas direitinhas para a banheira. Quando Anna se estava a lavar, a água ficou a escaldar.

- Bolas! – exclamou Anna. Ela odiava que a água estivesse a embirrar com ela – ou estava a escaldar ou demasiado fria. – FUNCIONA E PARA DE ME IRRITAR!

Como se ela tivesse mesmo ouvido, a torneira começou a mexer-se sozinha para a zona mais fria e de seguida para a mais quente. A pobre rapariga apenas ficou especada a olhar para a torneira mágica, sem se mover. Quando esta se estabilizou Anna respirou por uns momentos tentando perceber o que tinha acontecido e se era realmente seguro entrar no duche...

O que lhe estava a acontecer era mais do que estranho – ERA ABSURDO! Era impossível...
Ou será que tudo aquilo tem uma explicação?

Twin Elements - (SLOW UPDATES)Where stories live. Discover now