— Ele ficou alguns minutos parado com seu maravilhoso carro na entrada e depois saiu uma mulher. Diz aqui no blog da Sabrinna, que é mais uma de suas diversões ou uma fornecedora de entorpecentes.

— Entorpecentes? Só porque a garota mora em uma favela não quer dizer que...

— Acho que conheço ela, olha aqui. — enfia o celular na minha cara. E arregalei os olhos ao me ver naquela foto. A resolução não era das melhores, então não estava evidente que era eu, mas óbvio que auto me reconheceria.

Minha vida anda muito, mas muito estranha depois que fui brutalmente atropelada e levada à força para o hospital por esse homem. Meu Deus o que ele quer de mim? Se isso é um castigo, prometo que daqui para frente vou olhar dez vezes de cada lado antes de atravessar qualquer rua, nisso inclui até as sem saída e os becos.

— Porque ficou assim?

— Na-nada, só estava... Ah, não vou ficar perdendo o meu tempo com essas idiotices! Não estou afim de perder o ônibus hoje.

— Nem podemos, se eu chegar mais uma vez atrasada no trabalho, é rua.

— Novidade, Beatriz, ping pong. — ironizo. Ela mostra a língua. Esse emprego em que ela se mantém agora, está sendo o mais longo de toda a sua vida, chegando aos sete meses.

Já me acostumei com essa rotina de levantar da cama antes do cantar do galo. Não é nada fácil trabalhar em um café que começa atender às 06h30 da manhã. Beatriz e eu vamos juntas no mesmo ônibus até a metade do caminho onde cada uma segue o seu próprio trajeto, porém hoje está sendo uma glória nós duas está sentadas. Só não vou correr o risco de me levantar para aplaudir, se não já sabe, né?! Normalmente vamos em pé sofrendo encoxadas de homens asquerosos, eu simplesmente me afasto ao contrário de Beatriz que não leva desaforo para casa e logo dá seus chiliques contrariada. Devido a isso ganhou o título de "loirinha arretada".

Depois de três ônibus e mais uns dois quilômetros a pé, enfim chego exausta sem nem ao menos ter começado atender as mesas e minutos depois voltar equilibrando os pedidos na bandeja. Foi o que acabei de fazer e nesse momento estou sentada em uma banqueta descansando por uns segundos.

— Chegou o seu mais que fiel freguês.

— Ah meu Deus! Vai lá Vitória, por favor. Hoje não tô com cabeça pra aturar certas pessoas, principalmente quando se trata daquela pessoa. — faço bico.

— Não adianta, ele sempre vai exigir você. E vem me dizer que não gosta de entre todas as garçonetes, ser a única escolha perfeita daquele gato mais que cobiçado por todas?

— Todas vírgula! Não me inclua nesse pacote de loucas sem amor próprio, que quando vêem ele aqui pede autógrafos, tira foto e se atrevem a dar até o número do celular anotado num guardanapo. — ela ignora tudo o que eu disse e me entrega o menu.

— Vai logo, ele já tá te olhando. — disse como quem não quer nada, mas esse sorriso diz que quer tudo. Bufo e dou as costas indo de encontro a quem eu menos queria ver hoje.

Enquanto caminho em sua direção ele me encara. E é impossível não reparar aqueles olhos, como dois avelãs bem intensos e claros, seu olhar parecia estar focado em mim. Havia algo misterioso nele, algo que mesmo não querendo, queria descobrir. Sua postura era um tanto tensa e me prendia, mesmo que eu não ligasse para aparências.

— Não vai me desejar bom dia? — disse ele com um sorriso torto de lado.

— Bom dia senhor, o mesmo de sempre? — faço um sorriso fechado.

— Não precisa dessa formalidade, já disse...

— É como devo tratar o freguês, aliás não somos amigos aqui e muito menos fora daqui. Vai pedir algo ou preciso voltar depois?

Irrefutável DesejoWhere stories live. Discover now