Prólogo

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DEZEMBRO DE 2010

A MULHER ao volante sorriu, satisfeita com a nova vida que teria pela frente

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A MULHER ao volante sorriu, satisfeita com a nova vida que teria pela frente. Ela jamais esqueceria o bom homem que lhe proporcionou conselhos, presentes e, claro, um futuro melhor. Não sabia ao certo quando ele apareceu em sua vida, mas, ela achava, baseando-se nas lembranças turvas de um passado não muito distante, que foi logo depois de ter sido expulsa de casa e vivido um ano no ramo da prostituição no Stillus — único bar de striptease de Sarutobê.

Ela fitou a rodovia. Ali, dirigindo seu primeiro carro, ela pôde finalmente sentir o que era ser feliz. Não aparentava ser tão jovem quanto antes, já que o tempo que passara no Stillus havia transformado ela numa figura quase esquelética. Tinha mudado fisicamente, mas a beleza não havia fugido completamente de seu semblante e ainda existia um pingo de desejo de vida em seu âmago. Obrigada por tudo, meu anjo, viu-se agradecer novamente. Estou mais viva que nunca! Só teve conhecimento disso por causa do seu anjo, um homem totalmente calvo, que lhe dera tudo para que a mesma pudesse começar uma nova vida.

No fundo, ingenuamente, todos querem acreditar — e ela sempre acreditou — que em algum lugar do mundo deveriam existir pessoas boas, pessoas que vivem para ajudar os mais necessitados, pessoas que ela rotulava singelamente de "verdadeiros anjos". Ela sabia que o homem calvo que frequentava o Stillus era um anjo somente pelo fato dele lhe dar tudo e não pedir nada em troca. Ele dizia que só desejava a felicidade total dela. Na despedida, contentou-se apenas com um abraço mais que sincero e foi embora dizendo num tom incisivo: "Agora, minha querida, siga em frente e jamais pare".

Ela sorriu novamente, acelerando o veículo. E, de repente, a felicidade sumiu de sua face, pois, naquele instante, sua cabeça começou a girar. Estava grogue. As mãos tremiam e a visão ficava turva. Aos poucos, perdia a perceptibilidade do mundo a sua volta. Ela já havia tido algo semelhante antes, os mesmos efeitos colaterais, mas tudo ocorreu há um ano, no dia em que injetou ecstasy na própria veia. Estou... Fui drogada?

— O que há comigo? — indagou-se, atordoada. Em um último momento de lucidez, emitido por seu cérebro, uma voz a avisou que era preciso parar o carro com urgência antes que perdesse o controle, porém, ao tentar forçar o pedal respectivo ao freio, o veículo não parou. Ela xingou e começou a perder os sentidos; um espasmo a fez largar o volante e, em seguida, desmaiou. O carro despencou para o desfiladeiro ao longo da BR-160 e capotou cinco vezes. As malas de viagem pularam do porta-malas do carro, depois houve uma explosão e o veículo foi consumido pelo fogo.

...

DE LONGE, um homem totalmente calvo viu tudo. Ele não sentia pena daquela mulher. Ela precisava morrer, era o objetivo de tudo aquilo. Observando as chamas devorarem a lataria do carro, seu presente final para ela, lembrou que a mesma costumava chamá-lo de anjo. Ele não conseguiu conter a risada. Sim, talvez fosse realmente um anjo. O anjo da morte.

— Ela está morta, Doutor X — disse, falando ao telefone, irônico. — Podemos seguir com a segunda parte do plano. Já liguei para a emergência. Vou esperar a polícia chegar. Afinal, sou ou não sou o amigo mais próximo da vítima e testemunha ocular do trágico acidente envolvendo a sobrinha do cientista?

— Está tudo perfeito, Xavier — disse a voz do outro lado da linha.

Juventude Engarrafada - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora