19. Encontro de família

1.3K 145 5
                                    

— É aqui.

Olhei ao redor sem me sentir impressionada, invadir o Mercado foi muito mais fácil do que eu tinha imaginado. Uma vez dentro dos corredores, segui Jack por uma dúzia de corredores estreitos que ligavam a centena de escritórios comerciais até o pirata entrar em um. Não tinha nada ali que diferenciasse aquela sala das outras trinta pelas quais nós passamos. Mesma sala arredondada com móveis escuros, cortinas grossas e muito papel e pergaminho com números e mapas, a única coisa que distinguia um escritório do outro era o brasão pendurado no arco da entrada de cada um. Duas serpentes enroladas em uma espada, um leão rugindo, uma lula... O brasão daquela sala era a silhueta de duas mãos carregando uma chama.

— Tem certeza? Não vejo nenhuma entrada além da porta que usamos.

Jack parou na outra extremidade da sala, de frente para uma parede e se virou, sorrindo.

— É porque você está procurando com os olhos.

Dito isso, o pirata fechou os olhos e começou a tatear a parede atrás de si. Cruzei os braços e esperei. Era uma parede lisa sem qualquer tipo de decoração, diante dela havia uma mesa cumprida cheia de pastas e papéis, provavelmente acordos comerciais e encomendas. Quando a exploração sem sentido de Jack começou a demorar mais do que o esperado, decidi dar uma olhada ao redor. Havia uma dúzia de mapas e a maioria deles mostrava terras desconhecidas por mim. Uma pasta tinha um selo vermelho de comércio na primeira página, mas o contrato tinha sido escrito em uma língua estranha. Em toda pasta, todo papel e todo mapa havia o símbolo das mãos segurando a chama.

— A quem pertence esse brasão?

Jack não abriu os olhos e nem parou de tatear a parede como um idiota quando me respondeu:

— Não é um brasão, é uma marca comercial, todo escritório inscrito no registro comercial da coroa Medrak precisa de um. É como uma assinatura e é identificável independente da língua escrita que seja usada, nem todo mundo fala todos os idiomas, mas os símbolos podem ser facilmente reproduzidos.

— Inteligente, — murmurei passando o dedo pela extensão de um mapa aberto sobre uma das mesas, — mas tem algum significado? O símbolo?

— É a representação de Vällar.

— A rainha dos Vänir, certo?

— Certo.

Folheei mais algumas pastas, em outra mesa havia uma pilha de livros de aparência desgastada, dentro dele, listas gigantescas de números que não faziam muito sentido para mim. Um papel caiu de dentro de outro livro e quando me abaixei para pegá-lo percebi que estava em cima de outro mapa. Os corredores eram de madeira, assim como a maioria das salas, algumas tinham tapetes forrando o chão, mas aquele não era um tapete qualquer. Me lembrei da sala de guerra de Elizabeth, na cidade de Wali, cujo chão era todo forrado por um tapete daquele mesmo jeito. Mas ao invés do mapa do continente, o mapa daquele escritório era de outro lugar.

— O que você sabe sobre os donos desse lugar?

— São comerciantes de escravos como a maioria dos outros, não tem nada de particularmente interessante sobre eles.

Consegui identificar alguns pontos familiares naquele mapa. O cais, o Velho Cais e o Mercado Central. A sala inteira era um mapa das Ilhas de Ferro.

— Os Vänir são os deuses do crepúsculo, não são? Os únicos entre a Luz e a Escuridão. Escolher a representação de Vällar deve significar alguma coisa aqui.

Ouvi Jack bufar. Ele se virou para mim e abriu os olhos.

— Você está me atrapalhando com essa enxurrada de perguntas.

Alice no País das Sombras [EM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora