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Robert Wilsen ligou para a polícia informando o acontecido. Ele havia ido até sua plantação de tabaco (que era relativamente pequena), como fazia semanalmente para inspecionar o sistema regador. Ele talvez fora um grande agropecuarista em sua época dourada, mas agora parecia produzir somente para o sustento seu e de sua esposa. Quem sabe até mesmo por opção, pois Kingsland era um ótimo lugar para passar se passar o fim da vida, já que possuía uma pequena população de um pouco mais de dez mil habitantes. O detetive Philip não ousou perguntar se seu declínio se deu à crise dos anos 1980, porém calculava que sim.

A má fama dos Wilsen havia há muito se espalhado. Eles eram conhecidos por não usar nem mesmo um tipo de inseticida em suas plantações, nem mesmo adubos. Algo religioso, acreditava Philip. Eram cristãos, como a maioria das pessoas no Estados Unidos. O fato de deixarem suas plantações mais "naturais" chamava a atenção dos hippies das cidades vizinhas, e era isso que garantia o ganha pão de Robert e Martha Wilsen. Talvez acreditassem que Deus os castigara por interferir no "milagroso processo da vida", mas isso de pouco importava.

O detetive saiu do Frod Mustang GT e se dirigiu em direção a Robert. Wilsen não conhecia o sujeito, e seu comportamento para com Virgil não foi diferente das demais pessoas na cidadezinha. Havia um mês e meio que Philip chegara à cidade. Era um completo estranho para todos, evidentemente. Tinha cabelos escuros, podia-se dizer que eram enrolados, mas não com muita certeza. Sua altura era de mais ou menos 1,85m, era um homem muito magro, se não fosse pela sua postura, nunca o levariam a sério como policial.

Quando pisou no solo seco, encarou com certa rispidez para a criatura semi-curvada à sua frente. Robert era um homem muito velho, na casa dos 80, não se podia ver se era calvo, pois seu chapéu de cowboy era quase como uma tatuagem em sua cabeça. Sua pele era seca e enrugada, com manchas que apontavam um possível câncer de pele. Philip o questionou sobre as coisas básicas para preencher um relatório.

- Que horas o senhor descobriu o corpo?

- De manhã. - Respondeu, com muita desconfiança.

- Não marcou a hora exata?

- Por que pergunta?

- Nada, esqueça - o detetive aceitou que o velho senhor não tinha nada a ver com o crime. - Indique-me o local, por favor.

Os dois avançaram pelo campo de tabaco por uma das trilhas que ficavam distribuídas paralelamente pela plantação. Andaram por cerca de duzentos e cinquenta metros, chegaram ao que, se estivessem em uma floresta, chamariam de clareira. Era um círculo perfeito, era claro que os "cultistas", como chamariam mais tarde, retiraram cerca de 20³m de tabaco. Queimaram o centro do círculo muito cautelosamente, pois o fogo poderia se espalhar muito facilmente para o restante da plantação. Virgil estava indiferente ante a macabra e medonha figura que consistia em um ser decrepito e uma cruz. O corpo arroxeado e frio de uma mulher jazia em sua frente, e não expressara reação alguma.

A mulher estava nua, atada a uma cruz com dimensões exatas à sua altura e envergadura. A cruz estava no meio de sus pernas, quase que entrando em sua vagina, seu rosto estava apoiado no braço esquerdo, e seus braços estavam abraçando o sagrado símbolo, se contorcendo até as mãos serem amarrados como que em súplica aos céus. Havia moscas para todos os lados, o fedor por si só, desestabilizaria qualquer pessoa mais fraca. Esse não era o caso de Virgil.

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⏰ Last updated: Oct 18, 2016 ⏰

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