Depois disso, Floyd e Link viajaram em silêncio. Mas o silêncio só durou

alguns minutos, porque então Floyd olhou para ele e começou a falar, do

nada.

— Não é da minha conta.

— O quê? — Link não estava prestando atenção. Estava observando um

cara no fim da fileira colocando o dedo no nariz na surdina, o que não era

tarefa fácil em um vagão lotado do metrô durante a hora do rush.

— Você merece coisa melhor. Só digo isso. — Floyd desviou o olhar.

Link passou a mão no cabelo, confuso.

— Melhor o quê? Do que está falando? — Ela não estava sendo muito

específica. Além disso, o cara estava com o dedo muito enfiado no nariz. Se

não tomasse cuidado, ia atingir o próprio cérebro.

— Você sabe do que estou falando. — Floyd estava irritada. Link

percebeu.

Ela parece meio com raiva.

— Não sei, de verdade. — Agora Link estava irritado. Apertou a mão que

estava queimando contra o poste ao qual estava se segurando.

Sério. Não faço ideia.

— Não é de minha conta. Parei.

Viu? Ela está maluca.

— Tudo bem — falou ele. — Pode parar.

Considerando que não faço ideia do que você está parando.

Um homem se meteu entre eles. Floyd o empurrou de volta. Deslizou

mais para perto de Link.

— Ridley o trata como lixo.

Pronto.

— Rid trata todo mundo como lixo.

— Por que você deixa?

— Ninguém deixa Ridley fazer nada. Rid é assim. Ela é uma Sirena. É... —

Suspirou. — Confusa.

Floyd cruzou os braços.

— Você merece coisa melhor. É só isso que eu queria dizer.

— Eu sei. — Ele tinha visto o beijo. Não havia mais nada a discutir. Não

que Link quisesse discutir isso com ninguém, principalmente com Floyd.

Ridley não o queria mais. Ninguém deixa um cara beijá-la daquele jeito se

estiver apaixonada por outra pessoa.

Se é que já esteve.

— Você não entende. Qualquer garota seria sortuda se tivesse um cara

como você — continuou Floyd.

— Qualquer garota? — Uma dor súbita pulsou do anel para sua mão. —

Santo Zeu... — O apoio metálico que Link segurava soltou do teto, saindo na

mão dele.

Link olhou em volta em pânico, acidentalmente balançando o metal em

um círculo sobre a cabeça. Os vizinhos em todas as direções se desviaram.

— Desculpe. Não foi nada. Vou colocar isso de volta no lugar. — Ele

tentou, mas não deu certo. — Está tudo bem.

Link desistiu e descartou a barra no chão, chutando-a para baixo da

fileira de assentos ao lado. Só o sujeito com fones de ouvido que estava

mais próximo dele pareceu se importar.

— Muito bem, babaca.

O resto dos passageiros sequer olhou na direção de Link, agora que a

barra estava longe de suas mãos.

Link se sentiu o mais longe de Gatlin que imaginava ser possível.

Sentiu muitas coisas, na verdade.

Tinha sido sacaneado pela namorada, como todos sempre disseram que

seria. Ele a viu beijando outro cara que — convenhamos — era quase tão

bonito quanto ele próprio. Uma pessoa de sua banda estava morrendo. Ele

não podia comer. Não podia dormir. Seu melhor amigo estava longe. Sua

família era maluca. Ele nem tinha certeza se sua música era boa, por algum

motivo.

E acabei de quebrar o maldito metrô.

Assim que pensou nisso, o trem parou.

As portas se abriram, e mais pessoas entraram.

A mão de Link estava latejando. Ele tinha a sensação de que quase

conseguia escutar a pele chiando. Estava cogitando quebrar o vagão inteiro.

Então olhou para Floyd.

— Isso é ridículo. — Link pegou a mão dela e fechou os olhos.

Ela o fitou, confuso.

— Link, o que você...

Ele a puxou para perto.

Então se fez silêncio, exceto por um ruído familiar, o som de uma

Conjuradora e um Incubus, deslizando para fora do vagão, por um túnel em

ruínas, deixando a hora do rush e até mesmo aquela dimensão.

Viajando.

Ninguém no trem sequer olhou.

SirenaWhere stories live. Discover now