25 ANOS

37 2 3
                                    

E então, estou aqui, 25 anos, desempregado, sem faculdade, vivendo as custas dos pais e do irmão caçula (nota: eu sou o mais velho e é o mais novo que trabalha). É dito que a vida humana deve seguir certos caminhos para estar, de certa forma, garantida: terminar a faculdade; conseguir um emprego e ter uma carreira promissora; ter muitos amigos, ir a festas, me divertir, viajar; conhecer uma pessoa legal, namorar, casar, ter filhos; ter uma casa, pagar as contas no fim de cada mês, comprar um carro, planejar as férias da família; e tantas outras coisas que eu adoraria fazer agora, mas que me são completamente distantes agora... A única coisa que eu realmente tenho agora é a escrita, eu escrevo tanto em alguns poucos comentários que me arrisco a por a minha opinião neles que me sinto envergonhado de ser tão diferente dos demais, de estar falando demasiadamente e desnecessariamente. Eu escrevo compulsoriamente, não tenho outras palavras pra explicar a minha verborragia escrita.

O mais estranho na minha vida não é isso, essa angustia pra me encaixar desvairadamente num mundo insensível e indiferente que, no fundo, parece não valer tanto a pena quanto parece, pois ninguém realmente segue nesse caminho - é tudo aparência mesmo. O que me deixa mais decepcionado com a vida é ser atormentado por sonhos, por coisas que eu deveria fazer, deveria dizer, pessoas que eu devia ajudar e nunca me vejo em condições de fazer alguma coisa, uma vez que tenho essa mania de simplesmente desenvolver pensamentos complicados como construir bibliotecas de literatura nacional contemporânea, construir casas e mais casas para abrigar moradores de rua de forma confortável, aproveitar aquele fim de feira para comprar muita comida que seria jogada fora, montar cooperativas que possam ajudar a limpar a cidade e aproveitar o que é descartado para ganhar dinheiro, entre muitas outras coisas que eu queria tornar realidade...

Eu não sei quem eu sou. Para muitos é fácil dizer, para outros é uma dúvida tão grande quanto a minha. Eu olho para o mundo e não sei se sou capaz de encontrar quem me ajude a pensar que essas alucinações idílicas são uteis de alguma forma. Para mim, olhar para o mundo não é algo simples, é encontrar pessoas passando necessidade, doentes sem recuperação, acidentes que levam vidas e arrasam outras, pessoas matando, pessoas morrendo, crianças chorando e você as ouve chorar... É encontrar pessoas reclamando, falando mal umas das outras, comentando sobre erros e mais erros sem perdão algum... É encontrar pessoas rindo do que não tem graça, ver pessoas sendo preconceituosas não apenas por causa de etnias, gênero, orientação sexual, deficiência física, mas a respeito de muita coisa que está arraigada na sociedade e é visto como preconceito, como errado, com indiferença... É encontrar pessoas cometendo erros, porque todo mundo está errando e é ver pessoas deixando de fazer o certo porque ninguém mais está fazendo... Acho que eu sinto falta de um mundo com mais amor, altruísmo, compaixão, misericórdia. Tanta gente precisando, tanta gente se negando a dar. E olha que não precisava ser muito... Queria poder dizer que pais e filhos conseguem dizer um ao outro que se amam, que de vez em quando se lembram que tem sorte de ter um ao outro... Acho que não tenho coragem de dizer algo assim... Não sei se posso confiar em pessoas que tem a péssima tendência de te julgar primeiro e só não julgam quando não sabem quem você realmente é...

Isso mata pessoas... E está me matando lenta e dolorosamente...

Um simples exemplo: sabe aquela hora que você faz algo que ninguém mais pensa em fazer e alguém te chama de maluco? Você não é maluco e mesmo assim fez algo diferente, então, você é maluco ou não? Bem, dependendo do que você fizer, talvez sim, provavelmente não... Mas a mente das outras pessoas costuma ser tão pequena que elas realmente acreditam primeiro que você é maluco e se você não fizer coisas 'normais' para 'remediar' a situação, as pessoas vão insistir que você é maluco... e uma hora você acaba acreditando...

Talvez eu seja maluco mesmo, por mais que eu saiba que sou limitado, que tenho que me ater a minha realidade, sou assaltado por pensamentos que só seriam reais com muito esforço, muito empenho, com coisas que eu não tenho agora e demoraria ainda muito tempo antes que eu conseguisse torná-las realidade, que eu seja capaz de torná-las reais e concretas. Há um abismo entre o que eu quero que seja realidade e a verdade que eu vejo. Quem sabe tudo o que eu quero seja apenas criar um mundo melhor, um mundo onde eu possa dizer quem eu realmente sou. Contudo, devo estar enganado, eu sempre estou, nada do que eu disse deve ser verdade... Sinto que preciso esquecer esses pensamentos tolos de uma vez antes que finalmente eles partam o meu coração...

25 Anos - Minha históriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora