39-Perdidas para se encontrar(parte 2)

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- É, deveria mesmo. Me arrependi de não ter soltado. Infelizmente ainda não sou tão filha da puta como você! - antes que ela ousasse responder um trovão ensurdecedor ecoou do céu.

Nos olhamos com olhos arregalados de medo. Só então percebi que a noite já havia chegado. A dificuldade de enxergar era grande. A copa das árvores encobriam qualquer claridade que a Lua quisesse proporcionar. O silêncio que fizemos após o barulho do trovão nos fez conseguir ouvir barulhos ao redor. Folhas se arrastando, animais correndo pelo mato. Quase não conseguia enxergar Brenna diante de mim, apenas o azul dos seus olhos ressaltava em seu rosto.

- Não pode chover, isso só pode ser castigo! - Brenna mal fechou a boca e senti um pingo cair sobre minha testa.

Em questão de segundos caía uma chuva intensa e constante.

- O que vamos fazer? - falei um pouco mais alto já que a chuva abafava o som de nossas vozes.

- Vamos subir numa árvore! - finalmente ela teve uma boa ideia.

Procuramos uma árvore com galhos baixos para subir, lá estaríamos livres de animais e menos expostas a chuva.

- Não vou conseguir subir aí - altura nunca foi o meu forte.

- Claro que vai! Fazíamos isso quando éramos crianças - ela subiu com habilidade e depois me ajudou a subir também.

Tentei não olhar para baixo, assim não ficaria tonta. A chuva ainda nos pegava só que menos que no chão. O barulho da água batendo forte contra as folhas de certa forma me tranquilizou e acho que a Brenna também, pois ela ficou em silêncio por um longo tempo.
Minha cabeça latejava tanto que tentei apertar a ferida aberta, havia um corte da ponta da minha sobrancelha até a testa. Torcia desde já para que não ficasse cicatriz. A ferida ainda sangrava, mas agora o sangue era lavado pela água da chuva.

- Deixa eu ver isso - Brenna se aproximou e analisou o corte - Caramba! Me passem o bisturi - ela falou e eu sorri.

Em seguida ela tirou o casaco que vestia e rasgou parte de sua manga. Não sei como, mas conseguiu envolver na minha cabeça e estancar o sangue. Observei ela enquanto fazia isso bem perto de mim. O cabelo bagunçado, a maquiagem borrada, a roupa suja e rasgada. Nem de longe parecia a Brenna que todos conheciam, parecia apenas a que eu conheci um dia.

- Deixa a cabeça levantada, vai ajudar a estancar o sangue - ela ergueu meu queixo e minha cabeça encostou na árvore.

Ela ficou sem se encostar já que estávamos no mesmo galho, mas não pareceu se importar.

- Desde quando você entende de primeiros socorros ?

- Eu fui escoteira, lembra? - ela falou orgulhosa - eles ensinavam essas coisas e davam lanche também.

- Obrigada!

- Obrigada também por não me soltar e ah... - hesitou antes de falar - ... Saiba que se fosse ao contrário eu também não te soltaria.

Senti que ela foi sincera, então sorri e ela sorriu  de volta.

Só não estávamos em silêncio absoluto porque a chuva não permitia. O frio começou a me fazer tremer, havia sido uma péssima ideia ter saído apenas se camiseta.
Tentei controlar os espasmos em meu corpo, mas à cada vez que o vento se encontrava com minha pele descoberta era impossível não tremer.

Meu NÃO querido diárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora