5-Apenas um chiclete

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Eu senti que poderia dormir a qualquer momento bem ali, no meio da aula.

- Sua cara tá péssima! O que aconteceu? - Tabata sussurou enquanto a professora escrevia no quadro.

- Fiquei conversando até tarde com a Júlia. Acho que preciso lavar o rosto ou vou entrar em coma bem aqui.

- A água não vai tirar essas suas olheiras de noiva cadáver, mas pelo menos vai te espertar- Forcei um sorriso pra ela e fui ao banheiro.

Quase procurei um canto pra poder dormir. A noite havia sido longa, mas consegui convencer Júlia a procurar um tratamento. Ela já fazia isso há seis meses, me senti péssima por não ter descoberto antes, afinal morávamos na mesma casa, dormíamos no mesmo quarto. Será que existiam mais coisas que aconteciam na minha casa e eu não sabia?

A água já escorria pelo meu rosto quando senti uma mão cobrir meus olhos. Tentei tirar mas apertaram mais.

- Para com isso Rafael!- foi a primeira pessoa que veio em minha mente.

-Nossa!Você costuma se encontrar com garotos dentro do banheiro feminino?- Virei para olhar. Era Natasha com um sorriso cínico.

- Eu esqueci que tava aqui dentro. Apareça de uma maneira mais normal da próxima vez- Continuei lavando o rosto.

Ela deitou no banco perto da porta e acendeu um cigarro...diferente.

- Isso é...

-Cannabis, Maconha, chame do que quiser- Disse isso e soltou a fumaça em direção à mim. Tinha um cheiro horrível.

- Você tá maluca?!! Não pode fumar isso aqui!- gritei da forma mais baixo que consegui, para que ninguém ouvisse- Aliás, sabia que isso ainda é ilegal no Brasil?

- Na Holanda não! Por isso eu adorava lá. Quer experimentar? Vem! Não sou mesquinha, tenho mais aqui.- Abriu uma caixinha repleta de cigarros e me deu um.

-Você morava na Holanda?Tipo Amsterdã?- Joguei o cigarro que ela me deu no lixo.

-É isso aí! Você conhece as capitais dos países, garota da biblioteca- Os olhos dela já começavam a ficar vermelhos- Já foi lá?

- No máximo vi no filme A culpa é das estrelas- ela riu.
Levantou do banco. Apagou seu cigarro. Pegou minha mão e pôs ele entre meus dedos.

- Quem sabe um dia eu não te leve lá- ela ja ia saindo do banheiro- Ah! esconde isso, me disseram que aqui é ilegal.

Natasha era um problema. Fui atrás dela.

-Ei! - ela se virou- Você é de qual turma?

-3 C- O sinal tocou e ela continuou andando.

- Se quiser pode sentar comigo e meus amigos no recreio- Ela fez cara de pensativa.

-Tudo bem, mas você paga.

Me virei em direção à sala quando ela gritou.

-Ei garota da biblioteca!- olhei para ela- A ilegalidade ainda tá na sua mão.

Olhei assustada para o cigarro de maconha. Guardei no bolso. Ela riu.

..

Procurei ao redor mas Kaleb não estava em nenhum lugar no refeitório...nem Brenna. Meu coração apertou.
Rubens e Tabata discutiam sobre para onde iríamos sexta. Todas às sextas à noite ficávamos juntos. Era uma tradição.

Meu NÃO querido diárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora