25- Quem é ela?

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Coloquei o casaco nela e a arrastei por entre as pessoas. Quando chegamos na saída ela parou.

- Não posso ir agora. Tenho um dinheiro para receber aí. - ela ainda chorava e não me encarava.

- O QUE?

- Não entendeu ainda? Eu trabalho aqui.

- NATASHA, VOCÊ TÁ SE OUVINDO? VAMOS SAIR DAQUI AGORA!

Peguei as chaves do carro dela e fui dirigindo até sua casa. Permanecemos em silêncio o caminho todo.

- Acho que mereço uma explicação - disse assim que entramos em sua casa- aquilo tem explicação não é?

Ela não respondeu.
Foi pro quarto e voltou usando uma roupa decente. Pegou um cigarro e quando ia acender tomei dela.

- Não quero você alucinada!

- Quer que eu diga o que Kendra? - dessa vez ela me olhou.

- COMO ASSIM O QUE? Por que uma garota que morava na Europa, tem pais ricos e tudo, precisa fazer aquilo?

- Talvez eu tenha mentido um pouco sobre mim ou você fantasiou demais...

- NATASHA! - gritei tão alto que ela se assustou - POR QUE DIABOS VOCÊ É PROSTITUTA? ? ?

- Eu não sou prostituta! - a voz dela falhou segurando o choro.

Peguei ela pelo braço e a trouxe para o sofá. Talvez eu tenha pegado nela forte demais, então ela me empurrou e joguei ela no sofá.

- SAI DAQUI! - ela gritou chorando e se debatendo.

Segurei seus braços, mas ela era mais forte que eu.
Respirei fundo e dei um tapa no rosto dela. Ela colocou a mão no rosto vermelho e começou a chorar.
Me arrependi de ter batido, mas pelo menos ela não gritava mais.
A abracei e ela chorou mais ainda.

- Desculpa. - falei e ela me olhou sem raiva alguma.
Apenas fechou os olhos e começou a falar.

- Nós morávamos no Brasil e quando eu tinha oito anos minha mãe abandonou eu e meu pai. Nunca entendi porque, achei que ela fosse feliz. Mas foi embora sem se importar comigo ou com ele - ela forçava as palavras mesmo o choro a impedindo - Então meu pai arrumou um bom emprego e começou a viajar o mundo comigo, era praticamente uma cidade diferente por ano. Eu evitava amigos porque sempre tinha que me separar deles. Até que fomos pra Holanda e lá ele conheceu uma mulher que tinha idade pra ser filha dele. Eles se casaram e tudo, e eu me dava super bem com ela, apesar de achar que ela só queria o dinheiro dele. Vivíamos bem, foram dois anos bons.

Ela fez uma pausa e não ousei perguntar nada.
Continuou.

- Mas aí ela começou a mudar. Vou resumir e ser bem clara, ela me desejava mais do que desejava meu pai. Perdi a conta de quantas vezes fugi dela...

- Perai, como assim? - perguntei confusa.

- A maluca era sustentada pelo coroa mas queria pegar a filha de brinde, entendeu?

- O que você fez?

- Uma noite quando cheguei em casa, ela tava praticamente nua na minha cama. Foi o limite, não dava mais pra esconder dele. Tinha que contar pro meu pai sobre ela, mesmo sabendo que ele iria sofrer. Mas aquela vadia se antecipou e armou uma situação como se fosse eu que quisesse ela. E O IDIOTA DAQUELE VELHO ACREDITOU, QUE PORRA BURRO! - Natasha chorava com ódio - me expulsou de casa, meu próprio pai me expulsou. Fiquei uns dias na casa de um amigo, então resolvi pegar um dinheiro que tinha e vir pro Brasil. Essa casa aqui tava no meu nome, então vim pra cá, mas o dinheiro acabou e eu juro que tentei arrumar emprego, mas levei vários "nãos". Não conseguia nada, eu tava muito ferrada, aí uma amiga me apresentou a boate e disse que eu podia dançar lá, mas que devia sair com os caras porque eles pagam bem. Um dia saí com o pai da Duda sem saber, preciso ressaltar que ele é muito gostoso, que homem maravilhoso, acredita que a gente. . .

- NATASHA! ME POUPE DOS DETALHES.

- Desculpa. A demonia da Brenna viu a gente junto, me seguiu e me viu na boate e disse que queria uma boa razão pra manter segredo de tudo. Ela queria saber algo sobre você e o lance das fotos foi a única coisa relevante que lembrei - ela voltou a chorar - Eu não sabia que ela ia te atropelar, mas não queria que você soubesse que faço isso. E quando você brigou comigo fiquei sem chão. Eu não tenho mais ninguém, ninguém. A única pessoa que gosta de mim é você...

Enquanto ela falava lembrei de quando nos conhecemos. Não imaginava que por trás de toda a ousadia dela havia alguém com tantos problemas.

- Você não tem culpa de nada. Me desculpa por não te ouvir, não ter confiado - ela me abraçou enquanto eu falava - Mas você vai parar de se vender naquele lugar.

- Eu vou viver do que? - ela chorava como criança e não aguentei ver ela assim.

- Vamos dá um jeito, prometo que vou te ajudar. Tem mas alguma coisa que não sei sobre você?

Ela enxugou as lágrimas e me olhou séria.

- Tem sim - ela virou de costas e levantou o cabelo - fiz essa tatuagem nova. Gostou?

Sorri e ela também.
Não sei como, mas a ajudaria.

- Gostei.

Resolvi dormir na casa dela, pois já estava muito tarde.
Quando já estava pegando no sono ela falou.

- Ken?

- Tô dormindo.

- Se um dia eu encontrar aquela vaca, você me ajuda a quebrar a cara dela? - ela me olhou dum jeito psicopata.

- Eu seguro e você bate nela.

- Obrigada por continuar minha amiga mesmo depois de saber de tudo isso. - ela sorriu meio tímida.

- Eu não conseguiria ficar sem minha melhor amiga.

- Não deixa a Tabata ouvir isso!

- Sabia que quando ela te viu pela primeira vez disse que você tinha cara de stripper?

Natasha sorriu e fechou os olhos para dormir.

- Ela estava certa - respondeu.

- Não mais.

..

Antes de ir para escola pedi que Natasha me deixasse na casa do Nick. Quis fazer uma surpresa, ele ia adorar me ver logo de manhã.
Quando abriu a porta me olhou assustado.

- Kendra?

Pulei nele e o beijei.
Ele estava sem camisa.
Ainda nos beijando fui guiando ele até o quarto.

- Adivinha o que vim fazer aqui? - sussurei no ouvido dele.

Quando ia o beijar de novo uma garota saiu do quarto dele.
Era linda.
Paralisei.
Tinha cabelos claros e ondulados, os olhos azuis (tinha mesmo que ser azuais?) eram quase tão bonitos quanto os de Nick.
Ela vestia uma camisa que eu tinha certeza que era dele, principalmente porque estava enorme nela. A camisa deixava suas pernas de fora e ela me olhou esfregando os olhos como se tivesse acabado de acordar.
Deu um sorriso perfeito.
Que ser humano normal acordava linda assim?
Minha expressão se fechou para ela.

Me afastei dele e falamos ao mesmo tempo.

-Quem é ela, Nick?

Meu NÃO querido diárioWhere stories live. Discover now