N° 5

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Vamos andando até uma praça que fica há dez minutos da livraria. América e eu não soltamos nossas mãos nem por um segundo. Meu coração batia descompasadamente apenas por sentir seu toque.

Atravessamos a rua e fomos para debaixo de uma árvore.
Ao soltar sua mão, sinto que estamos nos distânciando e minha vontade é de nunca soltar.

- Você veio para essa praça? - pergunto colocando nossas mochilas no chão e me sentando.
Ela se senta de frente para mim.

- Não, a praça era um pouco... longe.
- Longe quanto?

- Tipo.... perto de casa.

- Andou sozinha da praça perto de casa até aqui, sem saber por onde estava andando?!

Ela fica ruborizada e abaixa a cabeça.
Coloco minhas duas mãos em sua face e levanto seu rosto.

- Quando quiser sair para conhecer a cidade, por favor, me chame. Não importa a hora ou o lugar, eu vou. Não sei o que faria se você estivesse sumido. Poderia ter acontecido alguma coisa com você e... eu não me perdoaria por isso.

- Kath...

- Eu sei. - digo tirando minhas mãos de seu rosto. - Você não gosta de mim.

- Eu ia dizer pra você ficar parada enquanto eu desenho você e o passáro que pousou em seu ombro.

Olho para o lado e vejo um lindo pássaro azul no meu ombro.

- Não se mexe. - diz ela baixo.

America pega seu caderno e olha para mim. Sorrio para ela e a vejo se afastar um pouco, encostar na árvore e desenhar. Fico parada, imóvel, enquanto ela me desenha.
Seu rosto fica sério enquanto me desenha e de todos as caras e bocas que ela faz, esse é o que eu mais gostei. O jeito como sua sobrancelha fica um pouco levantada ao desenhar, o jeito como ela coloca seu cabelo atrás da orelha ao me olhar e desenhar, o jeito como morde a porta do lápis e fica me observando durante horas. Depois vê que eu estou observando-a, ruboriza e desenha novamente. Sinto borboletas na barriga e sinto meu coração bater rápido de cinco em cinco minutos.
Não queria assumir para mim mesma, mas me apaixonei por América a partir do momento em que eu a vi na escola. O jeito como ficou quieta ao ver minha irmã dar um ataque.

- Acabei.-diz.

Vou para frente e coloco meu peso nos braços, olho para seu caderno e parece que estou vendo uma foto minha em preto e braco. Parece mágica, ela me desenhou perfeitamente bem, assim como desenhou o pássaro.

- Está incrível.- digo e olho para seus olhos.

Estamos à poucos metros de distância, olho para seus lábios e depois para seus olhos, uma forma de pedir permissão para beijá-la.

Ela sorri, abaixa a cabeça e fecha o caderno.

Me afasto e fico olhando-a.

- Sua vez.- diz.

- Posso ficar com o desenho?-pergunto.

- Por que?

- Eu gostei.

- Sério?

- Sim! E gostaria de ficar com ele.

Ela escreve algo perto do desenho e me entrega.

Vejo que é sua marca e sorrio.

- Agora a poesia.- diz.

- Hummm...Quer que eu faça uma agora ou uma antiga.

- Nada mais justo do que ver você fazendo uma na minha frente.

Sorrio para ela e balanço a cabeça.
Pego meu caderno dentro da mochila, abro em uma folha e começo a escrever.
Olho para América várias vezes, encontrando palavras e frases que possam descrevê-la.
Ficou um pouco grande, mas ficou do jeito que pretendia.

- Pronto.- digo.

- Pode ler em voz alta, por favor?

Abro a boca para dizer não, mas vejo seus olhos cinzas ficarem suplicante e eu não aguento.

- Ta bom.- digo rindo.

Ela sorri, coloca um mecha do cabelo atrás da orelha e espera.

Suspiro uma vez e começo:

" É impossível não perceber você...
O seu jeito meigo...
O acalento de sua voz aos meus ouvidos,
O olhar de sentimentos tão vívidos.
É impossivel não perceber...
A felicidade que se encontra,
Em cada sorriso eu...
A moradia em que você se permitiu...
Para mim viver...
É impossível não amar cada gesto seu...
Seu jeito tímido preenche lacunas descontorcidas dentro de mim...
Seu jeito atraente e descontraído de...
Com um simples olhar...
Transmitir ondas de eletricidade pelo meu corpo...
É impossivel não amar cada gesto seu...
O modo como se ruboriza ao perceber que estou...
Só por alguns segundos...
Olhando para seus olhos e dizendo na minha mente...
O quão linda você é...
É impossivel não amar cada gesto seu...
O jeito como seus olhos cinzas são verbos complexos...
O modo como coloca seu cabelo para trás e...
Tenta não olhar para mim...
Pois sabe que estou olhando toda a beleza que é você...
É impossível não amar você..."

Continuo olhando para o meu poema e depois olho para ela.

Seu olhos estão fixos no meu, não percebi que ela tinha chegado perto de mim.
Toco seu rosto com a minha mão e olho para seus olhos.
Uma mecha de seu cabelo cai no seu rosto, coloco ele para trás e sorrio para ela. Chego mais perto dela e de seus lábios. Assim que consigo ficar a poucos centímetros de seus lábios, meu celular toca e nos afastamos.
Pego meu celular dentro da mochila e atendo

- Alô?

- Kath! - diz minha mãe. - Graças a deus você está bem.

- O que aconteceu?

- A filha do amigo de trabalho do seu pai ainda não voltou para casa, ela é nossa vizinha.

Olho para America e sorrio.

- Ela está aqui na minha frente.

- Mesmo?! Que alívio, eles estavam vindo jantar com a gente, mas ela até agora não chegou. Fomos até a praça onde ela estava, mas ela não estava lá.

- Eu a vi na praça e a chamei para dar uma volta. Me desculpe mãe, eu não sabia, devia ter pedido para ela ligar para os pais dela.

- Tudo bem, filha. Irei dizer para os pais dela.

- Ta bom. Já estamos indo embora.

- Cuidado.

Desligo o celular e sorrio para ela.

- Seus pais estão preocupados.

- Ah droga!!! Meu celular ficou em casa.

- Tudo bem, disse pra minha mãe que a vi na praça e te chamei para dar um volta.

Ela arregala os olhos.

- Mentiu por mim?

- Faria qualquer coisa por você. - digo me levantado e pegando nossas mochilas.

Ela estende a mão.

- A poesia é minha.

Dou um risinho, arranco a folha do caderno, tiro as dobras e lhe entrego.

- Seus pais vão jantar lá em casa.- digo.- Parece que meu pai e o seu são amigos de trabalho.

Ela sorri e balança a cabeça.

- Bom... - ergo minha mão para ela.- Vamos?

Ela olha para minha mão por um instante, depois coloca sua mão na minha, entrelaçamos nossa mão e vamos embora para casa.

Agora & Para SempreWhere stories live. Discover now