Capítulo 2: Quando as luas cobrem o sol

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Ninguém jamais soube explicar o porquê, mas aqueles eclipses sempre tiveram algum poder sobre os feiticeiros do verão, revitalizando ou fortalecendo seus poderes. O mesmo, entretanto, não se aplicava aos feiticeiros de outras estações.

Não sabia se tinha algo a ver com o poder do eclipse ou não, mas teve um pensamento que não deixou de fervilhar na sua cabeça durante um único instante durante todo o evento.

Já vinha pensando naquilo há algum tempo, mas os momentos de silêncio ao lado de Edric tornaram aquela concepção muito mais palpável dentro de si. Eram os fantasmas da sua consciência voltando a assombrá-la. Não conseguia esquecê-los.

Foi apenas questão de pouco tempo até que o olhos dos feiticeiros retornassem a sua cor original. Ariane desceu da rocha com um olhar taciturno, fitando o chão como se pudesse encontrar suas respostas jogadas lá a qualquer momento.

― Alguma coisa errada? ― Edric lhe perguntou, dando um salto de cima da rocha. ― Está tão silenciosa. Já estava até me preparando para ficar ouvindo você falar eternamente sobre o quão incrível havia sido o eclipse e se perguntando quando viria o próximo...

― Você repara em tudo mesmo, não é? ― indagou, não podendo evitar um sorriso.

― Um bom espadachim deve estar atento a tudo em todos os momentos. Você devia saber isso. ― ele devolveu-lhe o sorriso.

― Sei.

Mudou o foco de sua visão, passando a fitar o amontoado de árvores do pequeno bosque, logo atrás de Edric.

― Sabe, é sobre algo que vem me torturando já faz um tempo, e só agora percebi o tamanho da influência que ela possui. ― fez uma pausa, respirando fundo, e então suspirou ― Eu estava pensando em, sabe? Renunciar. É isso. Eu não fui feita para o governo. Na verdade eu devia ter nascido em outra família, uma que não me desse tanta responsabilidade política. Analice é quem deve ser a rainha, ela quer isso, não eu.

Disse tudo de uma vez, como se assim fosse mais fácil. Enquanto falava, balançava o pé direito para frente e para trás, chutando o solo até que arrancou um tufo de grama do chão, deixando um pedaço de terra nua.

A resposta do outro ainda demorou um pouco para vir.

― Você não quer governar ou acha que não está preparada para isso? ― ele perguntou, agora com seriedade.

― Não sei, talvez as duas coisas. Não tenho certeza! Não é exatamente o modelo de alguma coisa simples, Edric!

― Ei, calma, eu sei disso. Talvez você não deva fazer nada por enquanto, já que não sabe qual é a escolha certa. Você tem até o seu aniversário para pensar, lembra?

― Sei, mas...

― Ariane, uma vez que você tenha renunciado não tem mais volta. Se você se arrepender disso, o máximo que vai conseguir é ser a Duquesa de Gloriam. ― ele falou essa última parte com um sorriso nos lábios.

Sabia que irritaria a feiticeira com aquelas palavras, pondo fim a extrema seriedade com que falavam. A verdade é que Edric não suportava climas pesados, e fazia de tudo para findá-los.

― Du... Duquesa de Gloriam? ─ ela não compreendeu de imediato.

― Isso levando em consideração que o irmão mais velho do projeto de duque morra de alguma fatalidade sem deixar herdeiros.

― Mas é claro que não! ─ quase gritou ─ Gabriel não gosta de mim de verdade. Além do mais, nunca me casaria com aquele lá.

― Se você diz...

― Sim, Edric, é o que digo. Sem falar que eu te contei isso tudo porque queria saber a sua opinião, não para você ficar zoando com a minha cara! ― repreendeu-o.

― Minha opinião? ― ele pareceu surpreso, coisa que a feiticeira não esperava. Ariane nunca falara mais sério anteriormente em toda a sua vida. ― Mas eu... Que tipo de opinião eu poderia dar? Eu nunca ocupei nem nunca ocuparei um cargo importante em toda a vida. Não tenho a mínima ideia de como é ser pressionado a comandar um monte de gente e fazer tudo funcionar direito. ― ao fim da última palavra um silêncio desconcertante se instalou.

― Sim, você tem razão. Eu... Eu fui enérgica demais, desculpe.

― Não, você não precisa se desculpar. Eu também não fui o melhor amigo do mundo. ― disse, fazendo uma pausa ao final. ― Tem alguma coisa que eu realmente possa fazer por você?

― Um abraço seria bem-vindo. ― sorriu, agora fitando os olhos azul marinho do feiticeiro.

─ Isso é algo que eu posso fazer. ─ ele se aproximou com um sorriso tenro nos lábios e embalou a garota em seus braços, envolvendo-a em seu calor.

Uma História de Primavera [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora