Capitulo 2

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- Bons dias - disse Mr. Button, nervosamente, ao empregado da Chesapeake Dry Goods Company. - Preciso de comprar roupas para o meu filho.

- Que idade tem o seu filho?

- Cerca de seis horas - respondeu Mr. Button, sem a necessária reflexão.

- A secção de artigos para bebés fica nas traseiras.

- Bem, não creio... não tenho a certeza de que é isso que quero. É que... trata-se de um bebé invulgarmente grande. Excepcionalmente... hum... grande.

- Eles têm os tamanhos maiores para bebés.

- Onde fica a secção para rapazes? - perguntou Mr. Button, mudando desesperadamente de rumo. Tinha a sensação de que o empregado farejaria, com certeza, o seu vergonhoso segredo.

- Aqui mesmo.

- Bem... - hesitou. Repugnava-lhe a ideia de vestir ao filho roupas de homem. Se ao menos conseguisse encontrar um fato de rapaz muito grande poderia cortar-lhe aquela comprida e horrorosa barba, pintar-lhe o cabelo branco de castanho e ocultar, assim, o pior e manter algum do seu amor-próprio - para já não falar no seu lugar na sociedade de Baltimore.

Mas uma inspecção desesperada à secção para rapazes revelou não existirem fatos que servissem ao recém-nascido Button. Deitou as culpas à loja, evidentemente - em casos destes, culpa-se a loja.

- Que idade disse que o seu rapaz tinha? - perguntou curiosamente o empregado.

- Tem... dezasseis.

- Oh, queira perdoar. Pensei que tinha dito seis horas. Encontrará a secção para jovens na coxia seguinte.

Mr. Button virou-se desanimadamente. Depois parou, recuperou o ânimo e estendeu o dedo para um manequim vestido que se encontrava na montra.

- Ali está! - exclamou. - Levo aquele fato, o que o manequim tem vestido.

O empregado olhou fixamente.

- Mas - protestou - aquele não é um fato para criança.

Quero dizer, poderá ser, mas para usar como fato de fantasia. O senhor mesmo o poderia usar!
- Embrulhe-o - insistiu nervosamente o freguês. - É aquele que eu quero.

O estupefacto empregado obedeceu.

De novo no hospital, Mr. Button entrou no berçário e quase atirou o embrulho ao filho. - Aqui tens as tuas roupas - rosnou.

O velho tirou o cordel do embrulho e observou o conteúdo com um olhar intrigado.

- Parecem um pouco esquisitas para mim - queixou-se. - Não quero fazer papel de macaco...

- Já fizeste de mim macaco! - explodiu Mr. Button, furiosamente. - Não te preocupes com o quanto pareces esquisito. Veste-as... ou eu... ou eu desanco-te. - Engoliu com dificuldade depois de dizer a última palavra, mas sentiu, apesar disso, que dissera as palavras adequadas.

- Está bem, pai. - Este assentimento era uma simulação grotesca de respeito filial.

-Já viveu mais tempo do que eu e, por isso, sabe mais do que eu. Farei como quer.

Como acontecera antes, o som da palavra «pai» fez Mr. Button estremecer violentamente.

- E despacha-te.

- Estou a despachar-me, pai.

Quando o filho acabou de se vestir, Mr. Button olhou para ele, deprimido. O vestuário constava de meias às bolinhas, calças cor-de-rosa e uma camisa com cinto e uma larga gola branca. Sobre esta agitava-se uma comprida barba esbranquiçada que descia quase até à cintura. O efeito não era nada bom.

- Espera!

Mr. Button empunhou uma tesoura hospitalar e, com três tesouradas rápidas, amputou uma grande extensão da barba. Mas, apesar dessa melhoria, o conjunto ficou aquém da perfeição. O restolho esparso do cabelo que restara, os olhos lacrimosos e os dentes velhos e amarelos pareciam destoar peculiarmente do aspecto vistoso do fato. No entanto, Mr. Button manteve-se inexorável e estendeu a mão:
- Anda, vamos! - disse, firmemente. O filho deu-lhe, confiante, a mão.

- Como me vai tratar, pai? - perguntou, em voz trémula, enquanto saíam do berçário. - Apenas por «bebé», durante algum tempo? Até se lembrar de um nome melhor?

Mr. Button soltou um grunhido.

- Não sei - respondeu, irritado. - Acho que vamos chamar-te Matusalém.

O Curioso Caso De Benjamin Button Onde as histórias ganham vida. Descobre agora