Capítulo 06

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"Vigie me orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto,mas a carne é fraca." – Mateus 26:41


Dias depois da nossa conversa, finalmente comi o famoso tijolo, e preciso confessar que realmente havia virado um tijolo, pois o macarrão grudou, o molho curry secou e o frango endureceu. Mesmo assim, estava muito melhor que qualquer sabor de macarrão instantâneo. Quando disse isso para Aurora, ela não ficou muito feliz, mas ao ver que comi quase todo o macarrão, ficou de bom humor novamente.

Além do macarrão, Aurora sempre que podia cozinhava alguma coisa no jantar. Nós aproveitamos alguns dias para realmente nos conhecer,descobrir os gostos um do outro e algumas manias. Além da mania de organização, Aurora sempre fazia um coque no cabelo quando ia cozinhar, andava descalça o tempo todo que estava no apartamento,adorava lilás, detestava pimentão e tinha outras mil facetas.Sempre que achava que a estava conhecendo, ela me mostrava uma faceta nova e eu voltava à estaca zero, tentando novamente desvendá-la.

Na primeira sexta após o episódio da tal boate gay, a levei no grupo de jovens comigo e depois fomos comer pizza. Aurora é enlouquecida por pizza marguerita, que não passa de queijo, tomate e manjericão.Eu ainda não consigo entender a graça de uma pizza como essa.

No sábado, depois da minha aula de catequese, ficamos no apartamento dela assistindo minhas séries favoritas e comendo pipoca. Quando anoite caiu, minha bunda já estava quadrada de ficar sentado no sofá,mas eu não queria sair de lá, porque Aurora estava aconchegada no meu colo. Resolvi ler um pouco. Aurora aproveitou para analisar alguns documentos da empresa de importação que ela e irmã estavam abrindo.

– Vocês vão importar o que? – Perguntei em um dado momento.

– Um pouco de tudo, mas nosso foco principal inicialmente vão ser os produtos para adultos. – Ela falou baixo e rápido.

– Produtos para adultos? – Perguntei sem entender. – Que tipo de produtos?Alguma coisa que eu vá me interessar?

– Com certeza, mas não agora. – Ela respondeu sorrindo. – Acho que daqui há algum tempo esses produtos vão te interessar bastante.

– Que tipos de produtos são?

Eu começava a ter uma ideia do que seria só pelo sorriso sacana que ela estava dando.

– Produtos para sexshop.

Seus olhos fixaram-se nos meus, quase me desafiando a falar alguma coisa.Definitivamente não era o que eu gostaria que ela estivesse comercializando, mas a empresa era anterior a nós. Eu não seria louco de me meter nisso.

– Humm – Murmurei sem saber o que dizer e que não fosse causar uma discussão entre nós.

Nós tínhamos muitas pequenas discussões.

– É só isso que você vai dizer? – Ela perguntou, sem sorrir.

– Bom,o que você gostaria que eu falasse?

– Quem sabe me dizer que não deveria vender esse tipo de produto, que estou cometendo um pecado ao comercializar produtos para prevaricação.

– Prevaricação?Você andou brincando com um dicionário?

– Não,Miguel, mas eu também tenho um pouco de cultura e meu catálogo de palavras é mais extenso do que apenas palavrões.

– Ei,o que foi? Qual o problema?

– O problema? O problema é que você não está sendo totalmente honesto comigo. Eu te digo que vendo produtos para sexshop e você não diz nada. É claro que você prefere guardar sua opinião para você e isso não é ser honesto. Com certeza se você fosse honesto diria alguma coisa sobre eu vender vibradores de todos os tipos, cores e tamanhos. Vibradores que as pessoas vão usar para se masturbar ou para enfiar em seus companheiros de maneiras que duvido que você sequer consegue sonhar. – Ela me atacou, levantando do meu colo e começando a caminhar pela sala.

Miguel - (Degustação)Where stories live. Discover now