Capítulo 02

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"Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento." - Lucas 5:35

Era quarta-feira, já passavam das dez da noite, quando minha campainha tocou. Eu estava comendo um macarrão instantâneo, daqueles de copo, quando caminhei até a porta e a abri. Ao ver a berrona mal-educada parada do outro lado, encostei-me ao batente da porta e esperei para ver o que ela ia dizer.

- Oi! - Ela me cumprimentou simplesmente. Parecia um tanto quanto envergonhada.

- Olá! - Respondi.

- Eu... Bom... Acho que começamos com o pé esquerdo naquele outro dia. - Ela finalmente disse, após gaguejar um pouco.

Seu nervosismo era nítido, já que não parava de mexer nas chaves em sua mão e seus olhos iam de mim para o chão repetidas vezes.

- Eu nem tive tempo de me apresentar. - Ela me olhou e deu um pequeno sorriso e estendeu a mão. - Eu sou Aurora Letícia.

- Olá Aurora, eu sou o Miguel. - Respondi estendendo a mão e a cumprimentando rapidamente.

- Hummm... Pode me chamar de Letícia.

Fiquei alguns instantes a olhando. Ela não parecia com Letícia, mas sim com Aurora. Preferi não dizer isso.

- Apresentações feitas. Vai me pedir desculpas pelas grosserias daquele dia, também? - Perguntei provocando-a.

- Você me chama de gorda e baixinha e eu que preciso me desculpar? - Ela responde com um tom de voz ácido.

Não pude conter um sorriso. Vê-la irritada era divertido.

- Só para você saber... - Ela começou a falar e levantou o queixo em claro sinal de desafio. - Eu calculei meu índice de massa corporal e estou dentro do considerado ideal.

- Mas isso ainda não quer dizer que você tenha genes para ser modelo. - Rebati imediatamente.

Ela se irritou e bufou.

- Eu te diria exatamente o que estou pensando a seu respeito, mas nesse momento tenho uma suspeita de que você está se divertindo com a minha irritação.

Gargalhei.

- Sem genes de modelo, mas com neurônios funcionando. Isso é encantador.

- Seu... Seu... Idiota. - Ela bufou e virou-se em direção ao seu apartamento, então parou e voltou até onde estava. - Merda!

- Alguém já lhe disse que você fala palavrões demais? - Perguntei, me divertindo com os trejeitos dela.

- Palavrão é uma palavra grande, então merda não é um palavrão. Paralelepípedo é um palavrão.

- Obrigada pela aula sobre aumentativo de palavra. Agora se me der licença, tenho várias provas para corrigir. Boa noite Aurora.

Eu já estava começando a fechar a porta, quando ela se aproximou, impedindo que eu fizesse.

- Eu preciso da sua ajuda. - Ela sussurrou olhando para baixo.

Eu abri a porta novamente e a olhei por um segundo antes de responder.

- Eu ajudo, mas com uma condição.

- Você nem sabe o que é, como você já topou? E que condição é essa? Não vou te prestar nenhum favor sexual, nem vem...

- Eu só quero que você peça desculpas por ter me acusado de roubar seu celular e por não ter me agradecido de maneira correta por ter ajudado ontem. - Respondi sério.

- Tudo bem, mas você não sabe que tipo de ajuda eu preciso, como já topou? E se eu precisasse de ajuda para assaltar um banco?

- Então eu seria seu motorista de fuga. - Respondi e consegui que ela desse um sorriso.

Miguel - (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora