Capítulo 1

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24 de Dezembro de 2015, às 19h37.

Aquela já deveria ser a quarta ou quinta vez que Jongin arrumava os doces que estavam sobre o balcão. Dentro de sua cabeça, ele podia ouvir uma parte mentirosa dizendo que aquele total desperdício de tempo era apenas para encontrar a posição perfeita para os bolos e tortas distribuídas ali encima.

Será que chamaria mais atenção se o bolo de creme ficasse ao lado da torta de morango ou ao lado da torta de limão?

Não fazia muito sentido ficar se perguntando sobre isso se nem ele mesmo se importava tanto assim. Já a outra parte da sua cabeça estava em completo silêncio, mas se prestasse atenção, Jongin perceberia um emaranhado de confusão e ansiedade se misturando ali dentro.

Do que? Ah, ele sabia muito bem do que. Isso nem sua cabeça, parcialmente, "preocupada" com a posição dos bolos, o deixaria mentir.

Ao lado da caixa registradora havia um calendário onde Jongin marcara quase todos os dias daquele mês de Dezembro, fazendo uma sequência de "x" até o dia 24, véspera de Natal. E como em todo o ano, aquele seria mais um Natal repetitivo e perfeito para as pessoas saírem com os amigos, ficarem com a família ou arranjarem uma namorada enquanto escutavam músicas natalinas. No entanto, naquele ano, Jongin também desejava ter o seu "momento especial", por isso havia planejado algo diferente para si, além de importante, aquele dia de Natal. Tudo parecia um plano perfeito em sua cabeça. Ele parecia mais um adolescente entusiasmado para dirigir o primeiro carro - último modelo do ano - depois de ter tirado a carteira.

Mas o que bagunçava a cabeça de Jongin naquele momento - diferente de um carro - era um garoto, que quando aparecia naquela cafeteria, sempre ia até ao balcão pedir um mocha latte. Mais especificamente, Do Kyungsoo, o garoto dono de um sorriso de coração e com quem Jongin desejava poder passar aquele dia de Natal.

Ok, era o plano mais ridículo e clichê do mundo convidar o garoto que gostava para sair com ele no Natal, mas o entusiasmo de Jongin conseguia o persuadir facilmente a fazer coisas idiotas. Então, enquanto Kyungsoo não chegava, Jongin continuava a mudar o bolo de creme de lugar.

Não havia muitos clientes na Coffee & Candy naquela noite, o que, para Jongin, fazia o tempo andar bem devagar. Porém, a lentidão do relógio era mero detalhe se comparado aos solavancos dentro de seu peito e que Jongin tinha que se esforçar para controlar sempre que a porta da cafeteria se abria.

Àquela altura, Jongin já se cansara dos doces, resolvendo contar os fregueses que chagavam. Entravam idosos, pais com seus filhos e estudantes de faculdade, mas nenhuns aqueles nem se parecia por quem Jongin tanto esperava. Foi quase um desafio mental ter que esperar tanto.

Depois de tanto bater o pé no chão, apenas quando a porta se abriu pela sétima vez (ele estava realmente contando), um garoto baixo, de cabelos negros e um pouco encolhido nas grossas roupas de inverno, entrou na cafeteria. Jongin observava o menor - seu Kyungsoo - enquanto endireitava o corpo atrás do balcão, parando de bater o pé no chão. Agora sua cabeça era uma total mistura de coisas estranhas e seu coração acelerava como se tivesse sido jogado a doze mil pés de altura. Seus olhos acompanhavam o recém-chegado até que esse se sentasse em uma das mesas. Quando ele olhou para Jongin e sorriu, o barista sentiu as bochechas queimarem e logo retribuiu o sorriso, mas não deixou de franzir as sobrancelhas, se sentindo um pouco decepcionado por ele não ter vindo até o balcão, além de confuso por um momento.

Do Kyungsoo trabalhava em um escritório a dois quarteirões dali, por isso, era um grande frequentador da cafeteria Coffee & Candy desde que essa fora aberta há um pouco mais de três meses. Ele nunca fora atendido por outra pessoa, apenas Jongin era quem levava os cafés e bolos para Kyungsoo. Por isso, sempre que voltava para trás do balcão, Jongin precisava aturar uma voz dentro de sua cabeça chamando-o de idiota por sempre querer ser ele a atendê-lo, idiota por demorar sempre um minuto a mais preparando o seu café, idiota por querer ser o Barista Atencioso, apenas para que, talvez, passassem mais tempo conversando, e mais do que tudo isso, idiota por ficar tão ansioso esperando que ele chegasse.

Pelo o que se lembrava, desde que o conheceu, Jongin sempre agiu dessa maneira, e pelo o que conseguia sentir, foi desde naquele dia chuvoso que Jongin se apaixonou pelo jeito doce de Kyungsoo. Foi seu primeiro dia na cafeteria e o que tinha tudo para ser um desastre, mas Jongin nunca mais conseguiu odiar a chuva depois daquele dia.

A Little BraverOnde as histórias ganham vida. Descobre agora