Capítulo 6 - Casa dos Nóbrega

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Durante o tempo em que C. e Bella andavam por ruas silenciosas e quase desertas, há alguns metros dali Leandro exibia seu sorriso mais maquiavélico.

- Ela vai nos salvar! - Iara vociferou, mais para si do que para o homem à sua frente. Precisava acreditar nisso e agarrar essa fio de esperança com todas as forças.

- Eu acho que não, cunhadinha. - zombou Leandro olhando para elas sentadas no chão puro. Não se importava nem um pouco com o frio que poderiam estar sentido.

- Ilala, eu com medo. - confessou Ivy baixinho, a irmã a apertou mais em seus braços e mais uma vez olhou em volta: em busca de uma saída.

Estavam os três no escritório de Leandro, porém as duas garotas estavam presas em uma espécie de jaula. Leandro havia encontrado a brecha perfeita: seus pais estavam viajando e ficariam pelo menos duas semanas longe da cidade, Isabella estava trabalhando fora e suas irmãs iam e voltavam da escola sem vigia... Tudo correndo para que seu plano desse certo.

Logo de manhã, naquele mesmo dia, chamou seus seguranças de confiança, confidenciou-lhe o que queria e pediu sigilo. E assim fizeram, no horário marcado abordaram as meninas próximas à rua da escola e as obrigaram a vir com eles sem fazer escândalos.

O ódio só crescia dentro de si desde que Bella rasgou o contrato em sua frente. Quando a viu com as irmãs e a fera que é Christian Magalhães começou a ver vermelho, nada emplacava sua raiva.

- O que pretende fazer conosco? - Iara perguntou pela décima vez. Isso já estava irritando Leandro. Desencostou-se da mesa, rodeou-a e sentou-se em sua cadeira.

- Vocês só são simples iscas, quero que sua irmã venha atrás de vocês... - levou um copo de uísque à boca, já estava se acostumando com o gosto. - Vou convencê-la a se casar comigo.

- Por que quer isso? Bella não te ama! - insistiu Iara.

- Não diga isso, sua insolente! - seus olhos se tornaram maníacos. - Ela me ama sim, só não entendeu ainda. Por isso fica zanzando com aquele monstro por aí.

- O C. não é um monstro, você é doido! Doente! - afirmou, não queria mais continuar aquela conversa. Leandro estava obcecado, não daria nunca a razão a ela.

De repente, ouviram vozes no corredor e logo a porta foi arrombada. Leandro nem se moveu, já esperava por isso... Ou talvez não estivesse totalmente preparado para o que viria a seguir.

- Ora, ora, se não é minha noiva arrumadeira. - viu Isabella na porta com os olhos arregalados, olhando para a jaula em que as irmãs estavam. Só que o surpreendendo, alguém apareceu por atrás a amparando quando ela ia de encontro ao chão. Christian Magalhães. - O que essa aberração está fazendo aqui?!

- Solte-as! - C. ordenou, com Bella derrotada em seus braços.

- Por que isso tudo, Leandro? Eu não fiz nada a você! Só não quero me casar contigo! - murmurava em prantos. - Não coloque minhas irmãs no meio disto, elas não têm culpa!

- Nada disso seria necessário se você não tivesse rasgado nosso contrato, amor. - falou Leandro com um sorriso sarcástico. - Agora estou curioso, como passaram por meus seguranças?

Christian revirou os olhos furiosos com aquela situação, fez Bella se virar para ele e chegou com sua boca perto do ouvido dela. Tinha um plano, mas precisava ter certeza que ela estava bem. Murmurou coisas inaudíveis a Leandro que bebia impaciente seu uísque.

Agia como um louco, ora se preocupava com o porquê dos seus seguranças não terem impedido a entrada de Christian. Outrora nem ligava, só queria Isabella, estava fissurado. Porém havia um problema, C. não estava no planejado. Quando ele pensara que por uma simples filha de mercador seria importante o suficiente para fazer a Fera deixar sua zona de conforto?!

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Assentindo minimamente para C., Bella saiu receosa de seus braços e deu alguns passos falhos para o lado, mais precisamente o que estava à jaula.

- Parece que não me conhece, Leandro. - Christian começou com ironia andando em pequenos passos em direção ao, mais do que em toda vida, inimigo. - Desde muito noivo sempre fui mais forte que você.

- Você, normalmente, usava sua força para se defender, querido amigo. - zombou, seus olhos agora fixos em Christian.

- Muitas coisas mudam. - C. estava se sentindo estranho e isso só aumentou quando viu que seus braços, que não estavam mais cobertos pelo casaco. As marcas... estavam desaparecendo. - Não posso deixar elas em suas mãos.

Leandro soltou uma gargalhada estrondosa e se apoiou na mesa atrás de si. O pouco de reconhecimento do que poderia ter acontecido o atingiu. O monstrinho usou suas garras para cima dos meus homens.

- Não pedi sua permissão, Fera. - o apelido maldoso de tempos atrás afetou C., de soslaio viu os olhinhos de Ivy lhe passando algo.

- Você é forte. Nós te amamos, C. - foi o que conseguiu, com muito custo, ler nos lábios quase secos da Pequena Ivy.

- Está me ouvindo? Isabella era minha e vai continua sendo, somente minha! - Leandro afirmou com os olhos nela, faltava pouco para chegar até onde as irmãs estavam. C. se aproximou mais.

- Só entenda, Nóbrega: não se pode ter algo que nunca foi seu, à exceções - sempre há -, mas o amor de Isabella nunca foi uma dessas.

O primeiro soco partiu de Leandro, porém C. soube, sabiamente, desviar-se. Socos foram trocados. Leandro, mesmo sobre efeito de uma considerável quantidade de álcool conseguiu manter-se algum tempo em pé. C. dava tudo de si e mágoas de épocas passadas saíram em formas de socos e golpes desviados.

Leandro foi ao chão, levou as mãos à boca instantaneamente. Gotículas de sangue saíam por um ferimento em seu lábio inferior, C. também tinha alguns ferimentos, mas nada comparado à suas cicatrizes. Com mais alguns chutes, Leandro se encontrava levemente desacordado.

- Bella - C. se virou, ela já havia conseguido tirar as irmãs da jaula e elas estavam abraçadas perto da porta. Com suas lágrimas e rostos até certo ponto aliviados. - Graças a Deus.

- Christian! - Iara gritou tentando o alertar.

De repente, se fez um barulho perante a noite silenciosa. Uma queimação se instalou na perna direita de C. e ele apoiou na parede à sua frente.

- Pensou que seria tão fácil assim? - C. olhou para Leandro, ele possuía uma arma e tinha atirado ainda deitado. - Vocês parecem aquele conto de fadas estúpido, A Bela e a Fera. Você não foi alvo de uma maldição, mas ficou tão horrendo quanto. - ele soltou uma gargalhada e depois cuspiu um pouco de sangue.

A dor que Christian sentia era alucinante, ele rasgou parte da blusa fina que vestia e abrindo mais o buraco que a bala fez conseguiu apertar, para estancar o sangramento. Bella não sabia o que fazer, queria ir socorrer C., porém suas irmãs ficariam desprotegidas.

Num impulso soltou-se de Ivy e Iara e deu um passo em direção ao amigo.

- Mais um passo e quem sentirão será suas irmãzinhas, querida. - Isabella fincou seus pés no lugar com o coração aos pulos. Logo escondeu o rostinho de Ivy em seu peito, ela não precisava ver isso. - O que você viu nessa coisa, Isabella? E por que Fera? Por que arriscar sua vida por elas?

- Porque eles sentem uma coisa que você nunca deve ter sentido, e também nunca vai sentir... Sabe o que é?! Compaixão, amor ao próximo. - Iara interceptou, jogando tudo na cara daquele miserável. - Mate todos nós, se quiser. Vamos, nos mate! Onde quer que estejamos vamos sempre levar uns aos outros nos nossos corações. Já você, o que você tem? Riqueza, beleza, - ela olhou para C. e lhe deu um sorriso, ele está se aceitando... Está tudo sumindo. - Etiqueta, uma família que vive as aparências? Sabe o que é isso comparado ao amor? Nada, Leandro, tudo o que você tem não é nada comparado ao que sentimos.

- Acabou Leandro, abaixe essa arma se não quiser morrer agora mesmo. - uma voz ordenou entrando no cômodo.

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