Capítulo 2 - E Qual é o Problema?

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Christian voltou para perto de Isabella, e colocou uma mão na parede, sobre seu ombro, prendendo-a.

- Não quis que você visse por que sou assim! - C. lamentou e retirou o casaco.

Bella estava com respiração entrecortada, nunca nenhum homem chegara tão perto assim, nem mesmo o filho dos Nóbrega's. Assim que ele retirou o casaco, e ela o observou. Cicatrizes marcavam seu rosto, braços e pescoço, cortes profundos, marcas de cirurgias. Ela, com cuidado, levantou a mão para tocá-lo, já nem pensava nos gritos que ele dera outrora.

- E qual é o problema? - perguntou olhando nos seus olhos incrivelmente verdes.

- Você ainda pergunta isso? Eu sou uma aberração! Um monstro! Uma fer... - Ela o cortou no ato e passou a mão pela sua bochecha marcada, isso ainda doía? Quanto tempo fazia que ele tinha aquilo? Onde mais tinha?

- Não diga isso, me conta? O que aconteceu com você? - perguntou tentando manter suas palavras sem falhar com o efeito que aqueles olhos e o dono causavam sobre Bella.

Ela sempre tagarelava por qualquer coisa e poderia ter "n" argumentos para convencê-lo que aquilo, pelo menos para ela, não era o que importava.

¨¨¨¨¨¨

- Foi um acidente dez anos atrás, fiquei muito tempo dentro do veículo depois que colidimos com a árvore caída, algo começou a queimar e arder muito em meu rosto. Logo depois meu tórax e braços. - contou como se revivesse cada segundo daquele dia fatídico, fechou os olhos e suspirou. - Ao longo desses anos fiz muitas cirurgias, com médicos renomados, mas nada deu certo. Eu ainda sou essa fera! - disse C. com raiva à última frase.

Logo lembrou-se do dia em que Leandro o chamou desse mesmo nome. "Fera, você é uma fera!" havia dito com desprezo, um garoto de apenas nove anos. Um coração vazio, um falso amigo. A raiva se esvaziou quase num passe de mágica quando seus olhos encontraram novamente os castanhos de Isabella.

- O que Leandro fez a você para não gostar de ser comparado a ele? - ela perguntou parecendo ler seus pensamentos.

C. voltou a si e se afastou um pouco dela.

- Só quero entender você, C..

Tão logo pegou em sua mão, puxando-a para uma poltrona.

- Aquele canalha era meu amigo, porém, quando ainda éramos pequenos me tratou como lixo por causa da minha aparência. - ele a olhou de soslaio, ficou sem entender quando viu seu rosto ficando vermelho, e suas pequenas sardas na bochecha se revelando.

O que ela estava pensando?

¨¨¨¨¨¨

Aquele idiota! Maldito filho dos Nóbrega! Bella estava irada com o que Christian tinha acabo de contar. Recordou-se quando Leandro apareceu na venda de seu Pai, quando o viu pela primeira vez. Seu olhar de desprezo para tudo, para a simplicidade do lugar e as roupas que seu velho Pai usava.

Isabella foi embora naquela noite com a promessa que voltaria para conversar mais com Christian. Na primeira semana mandou sua primeira carta, C. ficou surpreso quando o mensageiro avisou que havia uma carta para ele, ao ler em seu quarto, no ponto mais alto daquela mansão, sorriu:

"Christian,

Gostaria de saber como você está. Quero ver você no início do inverno, na próxima semana. Já te considero um grande amigo, mesmo que você demore um pouco para aceitar isso. Sua sorte é que não sou de me abalar facilmente.

Quero agradecer de novo e quando te vires mais uma vez, por me apoiar. Não deixarei que meu Pai mande no rumo da minha vida, não me casarei com quem não amo. Farei de tudo para não irmos à falência. Tenho muito carinho por ti. Espero sua resposta.

De sua amiga,

Isabella Sements.

PS.: Quando se tem um coração e caráter bom, beleza pouco importa."

Internamente - e estranhamente - Christian se sentiu um pouco feliz ao ler a palavra "amiga", o monstro aqui tem uma amiga agora?! Pensou descrente. Isabella era uma garota legal, ele notou. Mas não seria demais se arriscar saindo de sua zona de conforto e esconderijo, para vê-la mais uma vez?

Resolveu conversar com Marlene, sua antiga babá. Ela apareceu em seu grande quarto minutos depois de ser chamada.

Era uma mulher dócil, mesmo com um passado doloroso: havia perdido o único filho por uma doença há alguns anos, não tinha marido, nem família. Porém continuava a cuidar de C. até quando ele precisasse, não que ele substituísse seu antigo filho, não era nada a ver com isso. C., para ela, era uma peça rara, como a flor que ele "salvara". A rosa vermelha, a mais vermelha das rosas. Que ficava separada das demais, não por ser defeituosa: ficada no seu cantinho por ser única. Rara demais para se juntar as outras.

A princípio Christian contou reservado sobre a menina de cabelos vermelhos, a mulher ouvia e falava comentários contidos por conhecer o garoto. Ao fim, disse para ele responder. "Um dia você teria que sair desse seu palácio, não é meu menino? Essa sua nova amiga é uma ótima oportunidade", havia dito antes de ir até o corredor e segundos depois voltar com um papel e caneta. Saiu logo em seguida, deixando C. com seus pensamentos e palavras.

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