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M I K H A E L

— O que achou do garoto novo?

— Por que tá perguntando isso pra mim?

— Não é você que sempre julga as pessoas novas daqui? Não tem nada pra falar sobre ele? — pude sentir um tom de ironia em sua voz.

— Não tive tempo de formar uma opinião ainda. — menti — Mas acho que ele é neutro. — o Batista me olhou com o olhar de não convencimento, que era justo, afinal eu não estava sendo cem por cento sincero. Eu tive tempo. Tempo o suficiente pra sentir algo que eu não sei o que é. Algo diferente. Percebi que ele estava me observando — O que foi?

— Seu olho estava brilhando, Mikhael. — fez uma cara maliciosa — Estava pensando no que?

— Em nada. — corei — Para de ser idiota.

— Tudo bem. — deu um sorriso de canto — Até amanhã. — disse e seguiu o caminho contrário ao meu.

T A R I K

Passei a noite em claro.

Não consegui fechar os olhos nem por cinco segundos. Fiquei me revirando na cama à noite inteira. Não sabia bem o que, mas algo me incomodava.

Talvez eu soubesse, porém não queria admitir.
O perfume da Maria parecia estar em meu quarto, e, toda vez que o vento batia em minha pele, eu lembrava o toque de Mikhael.

O que está acontecendo?

Dispersei-me quando ouvi o som da porta batendo. Ouvi passos pesados vindo em direção às escadas e meu coração apertou. Cada vez mais perto, eu podia ouvir com clareza, o que me deixou mais preocupado, embora eu já soubesse o que era.

Meu pai.

Ele saiu ontem pouco antes de eu ir para o colégio e só voltara agora. Fui até ele, um odor terrível de álcool. Peguei-o e o levei até sua cama, onde ele caiu e continuou. Eu poderia até jogá-lo no chuveiro, mas achei melhor deixá-lo daquele jeito.

Desde que a minha mãe foi embora, meu pai ficou desse jeito. E com ir embora, não digo morrer, é literalmente ir embora. Ela decidiu que não queria ter um filho e partiu. O problema é que ela já tinha um filho. Eu acabara de completar onze quando ela sumiu. Ela não deixou um bilhete dizendo para onde iria, na verdade, ela disse para mim que iria viver o que eu a impedi de viver. No começo eu fiquei horrorizado, mas agora apenas sinto pena dela.

Porém sinto mais pelo meu pai.

Embora ele não seja lá aquelas coisas, sempre tenta dar o melhor de si para compensar o que aquela mulher não fez, mas ultimamente, ele tem escorregado. Na bebida ele encontrou uma maneira de escapar. Escapar dos pensamentos sobre a mulher que o largou, mas não do emprego e dos problemas que o alcoolismo trazia.

Coloquei uma coberta por cima dele e voltei para meu quarto.

Agora são sete e cinco.

Por incrível que pareça, meu sono resolveu chegar. Por mais que eu queira me jogar na cama e dormir até às sete da noite, resolvi tomar um banho frio, o que me despertaria facilmente. Arrumei-me para o colégio, desci e preparei o café da manhã, tanto pra mim quanto para meu pai, que provavelmente acordaria com enxaqueca. Arrumei o resto das minhas coisas e fui para o ponto de ônibus.

A cada passo que eu ficava mais perto do ponto, mais eu desejava que o ônibus chegasse. Ele estava lá. Não o ônibus, e sim o Mikhael. Pensei estar sonhando, então resolvi me beliscar, o que foi bem idiota da minha parte, pois doeu. Muito.

DESTINY. || mitw [EM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora