8 - Døren

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Abri os olhos, lentamente reconhecendo o local onde estava, minha cabeça latejava. Haviam me levado de volta ao quarto em que estivera antes, mas desta vez haviam duas camas. Olhei para o meu irmão, ainda inconsciente. Colocaram-no de bruços, toda a extensão de suas costas, cobertas por ataduras, assim como eu. Seu rosto estava praticamente intacto e, tirando as costas não parecia ter nada de muito sério. Eu, por outro lado, estava em cacos. Todo meu corpo doía, estava cheia de cortes e hematomas. Não entendia como conseguira sobreviver a tudo aquilo.

Tentei levantar, mas meu corpo parecia não responder aos meus comandos. Sabia que não havia perdido os movimentos do corpo apenas por conta da dor, pois a sentia, e como sentia. Pensei que não aguentaria, meu corpo parecia que se desfaria em pó a qualquer momento. A única coisa que consegui mexer foi a cabeça, mas não sem uma grande dose de dor.

Encarei meu irmão por algum tempo, ele dormia tão tranquilamente que parecia que nada acontecera. Ele era alto, cerca de dez centímetros a mais do que eu, feições fortes, cabelos negros e cacheados, a pele era cor de caramelo, como a minha, e os olhos, os olhos ele herdara da mãe, verdes como esmeraldas, mas com uma coroa circular prateada ao redor da íris, assim como eu, isso herdáramos do nosso pai. Sam perdera a mãe muito novo, agora, já com mais de vinte anos, mal se lembrava dela. Ele a perdeu com cerca de três anos, perdi a minha ainda mais nova, tinha apenas alguns meses quando ela faleceu. Sam ainda tinha uma foto da mãe, à qual se agarrava como se fosse seu bem mais precioso, eu nem isso tinha. Sempre que perguntava alguma coisa sobre minha mãe para meu pai ele desconversava ou simplesmente mandava eu esquecer o assunto. Nunca entendi muito bem o comportamento do meu pai com relação a este assunto, e isso sempre me magoou muito...

Tentei voltar a dormir, mas não conseguia. As imagens e a dor de quando estava sendo torturada ficavam voltando, eu não podia fechar os olhos sem ver a mim ou ao meu irmão sendo flagelados. Toda vez que conseguia pegar no sono, acordava rapidamente por conta de algum pesadelo.

Me sentia culpada por eu e meu irmão estarmos naquela situação, sabia que eu era responsável por aquilo. Por que eu terminei aquele projeto pelo meu pai? Mas eu sabia o porque. Aquilo me perseguira dia e noite quando meu pai morreu e decidi deixar para lá aquele projeto. Mas ele não saía da minha cabeça, precisava terminar aquilo ou nunca ficaria em paz comigo mesma. Me sentia impulsionada para aquela máquina, uma máquina que teoricamente levava para um lugar que eu nem sabia se realmente existia. Tive de rir de mim mesma, aquele instinto idiota me deixara em uma situação de fato ruim.

No dia seguinte apareceram duas pessoas no quarto. Uma era um homem que devia ter pouco mais de quarenta anos, usava blusa branca e calça jeans, e trazia na mão uma maleta também branca. A outra era uma garota um pouco mais velha que eu, ela usava a mesma roupa dos outros guardas, estava segurando uma vasilha com gelo e uma bandeja com alguns sanduíches e água.

— Senhorita e senhor Kronsten, — O homem acenou para mim e para meu irmão. — Sou o Dr. Paulo e esta é Daniela, o senhor Schiavinato nos enviou para que cuidássemos de seus ferimentos.

— Vocês sempre limpam a sujeira dele ou foi aleatório a escolha de vocês? — Perguntei ironicamente.

— Não entendo o que quer dizer, ele nos enviou porque se importa com vocês. — Eu tive que rir dessa. Imagina se não se importasse.

— Claro, mas que atencioso da parte dele. — Declarei, destilando sarcasmo.

— Enfim, vou fazer um exame geral e trocar os curativos. Vocês já passaram por um raio-X antes de virem para este quarto, não há nada quebrado em nenhum dos dois.

— Isso é de fato uma surpresa muito boa. Estou toda ferrada por fora, mas o importante é que meu interior está intacto. — Falei, com uma falsa felicidade. Dr.Paulo revirou os olhos, aparentemente ele não estava gostando muito do meu senso de humor.

Entre Dimensões: Uma descobertaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora