Capítulo 01

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O despertado do quarto de Gaspar toca no horário normal, as nove e meia da manhã. Não estudava, já terminou seus estudos e seu pai não permitiu que ele entrasse para uma faculdade dizendo que o príncipe do morro não entrava em faculdade. Ele se levantou da cama e caminhou até o banheiro que tinha dentro do seu quarto que ficava em só cômodo completando o terceiro andar e viu que seus cabelos castanhos escuros estavam bagunçados, olheiras vermelhas estavam em seus olhos por ter dormido pouco depois que se mudou para a sua nova "casa" e que seu corpo estava mais magro com a perda de apetite depois que começou essa nova vida que não estava nada fácil para ele. Escovou os seus dentes e depois entrou para dentro do box onde tomara um banho relaxante e gelado devido ao forte calor que fazia na comunidade e no Rio em geral. Se lembrou quando chegou na comunidade, com seu pai e sabendo que o mesmo era dono de uma boça de fumo há anos; isso fez com que o garoto ficasse triste e magoado pelo caminho sem saída que o pai escolheu. Mas se prontificou em não julgá-lo por ter escolhido esse lado, apesar de tudo ainda é seu pai.
Quando saiu do banho se secou com a toalha que tirou em cima da pia de granito e depois vestiu-se com uma bermuda jeans e uma camisa branca de manga bem fresquinha no corpo; sai do banheiro com os cabelos úmidos e dá de cara com seu pai na soleira da porta com uma revólver na cintura e um cigarro entre os dedos, deu um sobressalto e levou sua mão até o peito sentindo o coração acelerado.
– Pai?
– Olá, Gaspar – diz seco. – Queria te contar uma coisinha um pouco... desconfortável para você. – falou com cautela.
Gaspar franziu o cenho e cruzou os braços em forma de não ter gostado na gravidade na voz do pai.
– E o que seria? – indagou.
– Eh... eu estou com uma namorada e queria apresentar ela pra tu – respondeu com a voz trêmula.
– Ah! – gargalhou. – Apresentar uma piranha favelada para mim? Imaginei que isso iria acontecer, pai. Aliás, eu nem te reconheço mais como meu pai. – cuspiu as palavras na cara do pai que arqueou as sobrancelhas surpreso.
– Me respeita, viu? – bradou.
– Respeitar? Você me despreza, fala coisas ruins para mim e eu respeito numa boa! Mas você não colabora. Mas voltando ao assunto da sua... prostituta particular, quem é a fulana?
– O nome dela é Bruna, Gaspar!
Gaspar ri sarcástico.
– Nome de puta. – falou.
O sr. Pedro deu um passo à frente e deu um forte tapa em uma das face de Gaspar que cambaleia para trás tendo que se segurar na parede para não cair no chão. Gaspar olha para o pai, irritado. Aproxima-se dele com ódio ardendo pelas lágrimas querendo escorrerem, mas ele é rebelde demais para demonstrar fraqueza até quando leva um tapa.
– Tomara que um dia você seja preso por ser um maldito bandido – sussurrou próximo do rosto do pai que o ignorou e saiu do quarto batendo o pé com força no piso de porcelanato do corredor.
Gaspar alisa a face onde ganhara o tapa e pressiona os lábios; funga e impede que as lágrimas caem sobre sua face angelical.
– Eu não vou permitir que isso ocorra, mamãe. – diz para si mesmo.
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Em uma laje de uma casa de tijolos vermelhos de dois andares um pouco decadente, Luisa Freitas, uma garota baixinha de um belo corpo com coxas grossas e a barriga perfeita sem uma gordura pegava sol e passava bronzeado sobre os ombros e nos braços, usava um óculos escuro que tapavam seus olhos verdes e a cor do seu biquíni era verde; ao lado dela  estava Camila Souza, a amiga que tinha um corpo perfeito usando um biquíni vermelho sangue. As duas são amigas há muito tempo – desde a época do ensino fundamental um –, nunca brigaram e sempre contaram uma para outra.
    – Amiga, preciso te contar um babado daqueles – falou pegando a cerveja no chão da laje e dando uma bebericada.
    Camila se ergueu um pouco na cadeira e jogou uma mexa dos seus cabelos castanhos escuros para trás, abriu um sorriso, muito curiosa com o que amiga tinha para contar.
    – Fala então, mana – sorriu.
    Luisa deu um risinho e virou o pescoço para a direita para encarar a amiga.
    – Estou namorando – falou dando outra bebericada na cerveja. – Ele é o cara mais lindo que eu já vi em toda minha vida. – disse pondo a latinha no chão.
    – E ele faz o quê? – indagou Camila ainda mais curiosa.
    – É dono de boca aqui na favela – sorriu orgulhosa. – Vou na casa dele mais tarde para conhecer ele e o filho dele. – sorriu.
    Camila ficou em choque, tinha em seu rosto uma expressão de preocupação e medo ao mesmo tempo; Luisa olhou-a incrédula e revirou os olhos em baixo dos óculos escuros.
    – Amiga, ele é muito perigoso! – diz baixo.
    – E acha que me importo com isso? Camila, eu quero grana, e não amor. – sorriu.
    Camila fez uma careta e deixou de lado não comentando mais nada.  Luisa tinha em mente o plano de fingir que estava perdidamente apaixonada por ele e tentaria o máximo de ir para o mundo do luxo, o mundo onde só ganha colar de ouro e jóias das mais caras; tentaria ser uma boa madrasta mas sabe bem que o garoto não conseguiria nem olhar direito para a cara dela. Luisa está se divertindo pelo fato do filho dele não gostar de si, até imagina que á noite vai ser um rebuliço dentro da casa dele. As duas continuaram a conversar e tomar a cerveja até que Luisa perguntou:
    – Você quer ir comigo? – indagou.
    Camila arqueou as sobrancelhas meio incrédula no que acabara de escutar.
    – Eu não quero me misturar com essas pessoas, amiga – suspirou. – Sinto muito.
    Luisa deu de ombros. É frouxa, pensou rindo sozinha.
    – O que foi? Por quê riu?
    – Ah, nada. Só pensei em uma piada engraçada e ri.
    Camila deu de ombros e continuaram a conversar sobre outras coisas.
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Gaspar saiu de sua casa para pegar um ar e tentar tirar da sua cabeça que seu pai é um dono de boca no morro do alemão, analisou a frente da sua casa e desceu ladeira abaixo para ver pessoas e dar tchau para as pessoas da comunidade; mas como bada é tão fácil, uma pessoa que ele menos queria ver naquela momento, Maria Furacão, a travesti da comunidade que sempre tem uma pitadinha de inveja por ele ser o centro das atenções, e também por ser o mais desejado pelos garotos de lá – claro, os que gostam.
– Ei, mimosa! – Maria cutucou os ombros de Gaspar, que se virou com os braços cruzados e bocejando debochadamente.
– O que foi? – perguntou monótono.
– Eu queria te dizer o quanto a população daqui odeia o seu pai, afinal, todos estão doidos para ele ser preso junto com seus capangas – respondeu.
Gaspar revirou os olhos e aproximou o seu rosto no de Maria.
– Não fale do meu pai assim seu traveco de merda.
– Ah, vai fazer o quê? – gritou chamando a atenção de algumas pessoas.
– Isso! – Pôs a mão no mega-hair louro de Maria e puxou para baixo junto com a cabeça dele, com força até que os cabelos se desprendeu. – Satisfeita? – jogou o mega no chão.
– Você me paga, sua vadia! – bradou dando as costas e batendo o pé subindo a lareira com o seus cabelos louros curtos.
Gaspar deu de ombros e continuou a andar, sentiu uma mão no seu ombro e se virou bruscamente pensando que é Maria, mas era Douglas, o traficante mais gato da comunidade com seus cabelos louros cortados bem rente à cabeça e um corpo magro mas definido.
– Você está bem? – indagou Douglas.
    Gaspar acena com a cabeça.
    – Sim. Não há com o que se preocupar.
    Douglas sorriu.
    – Animado para a festa que seu pai vai dar para apresentar a todos da irmandade a nova rainha do morro?
    Gaspar mudou de cara quando ele tocou nesse assunto.
    – A única rainha das nossas vidas é a minha mãe – falou com a voz um pouco elevada. – Eu juro que eu sempre vi o jovem brilhante no meio de tantos vagabundos, mas estou muito enganado, você não passa de um medíocre. – Gaspar bufou e se afastou subindo a lareira e ignorando alguns amigos do seu pai que falara com si; e quando chegou no ponto alto da comunidade abriu a porta da sua casa e depois fechou-a com força. Ele tinha uma expressão de raiva na sua face, e o sr. Pedro entrou na sala com uma expressão assustada.
    – Por quê bateu a porta com força, Gaspar? Tu ficou maluco, é?
    Gaspar ignorou o pai e passou por ele subindo as escadas com rapidez e deixando o velho Pedro suspirar frustrado por estar vivenciando um estilo de vida rebelde da parte do filho.
    – Por que ele puxou esse lado rebelde da mãe? Por que? – fungou.
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Um funk alto do Mc Koringa tocava nas caixas de som da quadra onde tinha vários bailes, mas esse baile é em especial para apresentar a nova rainha da comunidade, a namorada do chefe da boca de fumo. Gaspar estava sentado no banco com as mãos largas cruzadas no tampo de granito escuro do balcão, com uma expressão triste estampada em seu rosto. Douglas se aproximou e sentou-se ao lado dele com um copo com uma bebida vermelha.
    – Está tudo bem contigo? – perguntou próximo do ouvido de Gaspar.
    O garoto acena que não com a cara fechada e dá uma bebericada no copo d'Água que estava no balcão com gelo.
– Eu sei que está sendo muito difícil para tu com essa nova etapa da vida do seu pai – falou. – Um dia tu vai se acostumar, pode ter certeza. – sorriu de canto.
Gaspar dá um riso amargo. Olha para Douglas que se senta intimidado com o olhar sarcástico de Gaspar.
– Me acostumar com essa vida medíocre? Brigado. Não. – estreitou os olhos.
Douglas já botou na sua cabeça que nunca vai ter sorte de conquistar esse garoto tão sarcástico com o temperamento forte.
– Nos vemos por aí – se afastou jogando seu braço sobre o ombro de uma garota magra com os cabelos castanhos avermelhados com um copo com vodca na mão e foi até a pista de dança.
Gaspar olhou a cena por cima dos ombros e revirou os olhos.
– São todos iguais. Medíocres e idiotas que partem o coração de putinhas que querem fazer de tudo para ter essa vida podre que eu levo. Se eu tivesse uma chance de voltar no tempo eu queria que eu morresse no lugar da minha mãe. Mas eu reconheço que ela ainda iria sofrer. – diz para si mesmo.
– E aí, vossa alteza? – disse uma voz atrás de si.
Ele se virou e deu de cara com o cara mais chato da comunidade. Miguel Magalhães. Ele é o típico cretino que leva uma para cama, dá um fora na mina e depois leva a amiga e se duvidar a irmã mais nova de apenas quinze anos. Gaspar o detesta mais do que tudo nessa vida, se ele pudesse faria questão de roubar um disco voador para levar o Miguel para outro planeta – ou até mesmo jogar ele no espaço até o buraco negro o engolir para nunca mais existir.
– Oi, Miguel? – sorriu forçado. – Quebrando muitos corações das putianes ridículas? – riu.
Miguel riu com o nariz e deu uma bebericada no seu copo de cerveja olhando uma garota passando com um short super curto. Apesar de ser um cretino era lindo assim como o Douglas; ele tinha olhos castanhos claros, cabelos escuros sobre um boné vermelho e alto com um corpo definido amostra por estar sem camisa.
– Se eu gostasse do que tu gosta... você seria o primeiro da minha lista para uma foda casual – deu uma piscadela sobre um sorriso malicioso.
Gaspar riu debochado.
– Pergunte se eu quero primeiro. Agradecido. – sorriu.
Miguel sorriu e arqueou as sobrancelhas.
– Tu quer?
Gaspar o olhou e sorriu de leve.
– Não.
Miguel faz um sinal que se rende e se afasta, Gaspar faz o mesmo e vai para o lado de fora aonde vê o carro do seu pai chegar e a porta do carona abrir saindo uma bela garota com um vestido amarelo amostrando as belas pernas torneadas; usava uma maquiagem que realçava seu rosto redondo composto por lábios finos pintados com um batom vermelho provocante e um nariz fino e pontudo. Outra garota saiu do banco carona de trás usando um vestido preto de paetês e um salto alto da mesma cor que a fazia ser mais alta.
– Oh, o anfitrião chegou com visitas peculiares – comentou fingindo animação.
– Essa daqui é a rainha desse morro, Luisa – pôs a mão no ombro de Luisa que sorriu. – Aquela lá é amiga dela. Camila. – sorriu.
Gaspar fez uma careta e botou a mão no queixo, analisou as meninas de cima abaixo e o que pode sentir foi desprezo por ter um pai idiota que só pensa em si mesmo e no bem estar de vender drogas para os mauricinhos da zona sul.
– Eu quero ambas longe de mim – falou de forma natural mas ao mesmo tempo ameaçador. – Eu já imagino o quão interesseiras e oferecidas ambas são.
Luisa deu um passo á frente com o cenho franzido.
– Me respeita. Daqui há um tempo eu serei a sua madrasta! – gritou.
Gaspar aproximou-se dela.
– Não grite comigo, vadia! – bradou.
– Parem os dois! – grita Pedro se pondo na frente de ambos. – Vamos manter a paz, o que eu menos quero é a polícia batendo aqui. – falou.
Gaspar não respondeu, apenas deu de ombros e saiu da área da entrada da quadra e caminhou até a sua casa com as lágrimas escorrendo sobre a sua face. Quando abriu a sua porta deu um sobressalto quando viu um vulto sentado no sofá iluminando um pouco os cabelos castanhos claros longos.
– Olá, Gaspar? – perguntou uma voz desconhecida e feminina.
– Quem é você? – perguntou com a voz trêmula.
– Sou uma pessoa que vai te contar sobre tudo relacionado ao seu pai – respondeu cruzando as pernas.
Gaspar engole em seco e se senta na poltrona relaxando os ombros pronto para escutar os defeitos, qualidades e os podres do pai.
– Conte, então.
– Seu pai está tramando um grande plano contra a família viva da sua mãe, por vingança, por um ódio desde que conheceu sua mãe. Quero que o impeça de fazer uma coisa dessas. Ah, e mais do que tudo, faça de tudo para separar aquela garota dele. Ela é perigosa.
Gaspar ficou impactado e sentiu o seu coração acelerar.

CONTINUA...

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