Capítulo 26

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Enquanto os meninos arrumavam tudo lá na sala, eu pegava todas as comidas necessárias para passar minha noite-de-Lyra, que nada mais é do que a hora-de-Lyra, só que numa versão um pouco - bastante - estendida. Peguei todos os filmes que a minha tia tem e subi pro sótão. Não deu nem dez minutos e eu já enjoei de não fazer nada. Coloquei um filme qualquer e comecei a mexer no notebook da minha tia.

- Lyra! - David abriu a porta do sótão. - Tem certeza de que não quer descer?

- Aham. Ei! Você tem conta no Netflix?

- Passa o notebook aí. - Ele colocou e me devolveu. - Assiste "Orange Is The New Black". É legal.

- Era isso mesmo que eu ia fazer. Tchau, David, valeu.

Ele saiu e eu comecei a assistir. Uh, já gostei dessa mulher. Cara, não sabia que a vida num presídio é desse jeito. Muito louco, mano. Ah, agora vai começar minha novela mexicana... Eu não sei o que eu assisto, meu Deus! E agora? Netflix sempre vai existir, Lyra, foca nos amantes José Maria e Maria José. José Maria não quer mais nada com Maria José, mas... Ah, não, ela vai se matar! Não faz isso Maria José! José Maria não merece seu amor! COMO É QUE ESSE EPISÓDIO ME ACABA BEM AGORA? ELA SE MATOU OU NÃO? Vou ver se ainda tem gente vindo pra festa. Uh, tem um monte de carros. Nossa, tem bastante gente. Ah, o viado do Chris veio! E veio acompanhado! Como assim? Que desgraçado! Filho de uma quenga! Deixa ele! Tudo bem. Eu tô bem. Eu nem gosto dele. Ele nem é charmoso. Opa, que papel é esse que foi passado por debaixo da porta do sótão?

Corri até lá pra ver. Abri e era uma carta. Mas não era escrita, era digitada. Pelo menos a fonte que escolheram é bonita. Comecei a ler.

"Olá, é... Não sei como te dizer isso, mas... Ah, cara, eu gosto de você. Desde que te conheci, não consigo parar de pensar em você. Eu penso em você até quando chupo um sorvete... Tá, isso não era pra ser malicioso... Sei lá, eu gosto de tudo em você. Até dos seus defeitos. Gosto de quando tem suas ideias doidas e quer que todos aceitem o que você está dizendo; gosto quando fica nervosa por achar que está gorda e comer por causa do nervosismo (você é louca, Lyra, aceite); gosto de quando troca os nomes dos outros, e de quando faz suas zueiras. E eu fiquei esse tempo sem te falar, porque... Não sei, acho que sua cabeça está tão confusa quanto a minha. Quero que saiba que o que eu mais queria era estar do seu lado agora, mas não estou por medo de me rejeitar.
De seu lindo admirador secreto.
Obs: vamos fazer um joguinho, está bem? Eu vou continuar te mandando cartas e em cada uma terá uma dica, assim, talvez, eu não tenha que encarar todo o nervosismo de me declarar pra você.

1ª DICA: SOU UM MENINO."

Que. Porra. É. Essa? Tô entendendo mais nada. Mas, calma... Esse menino tá pensando em me mandar carta até quando? Ele acha que eu vou ficar ali, santinha, esperando por ele? É nada! Tudo o que eu conseguir pegar eu vou pegar! Nem que seja o Alex! Não, o Alex não. Ele me deixa deprimida, porque as tetas dele são maiores do que as minhas. O Johnny tem namorada... E ele também depois que raspou o cabelo tá parecendo um maníaco... O Harry é uma possibilidade... Ele não é aquela coisa assim liiiiiiiiiiiiiinda (como o Chris), mas eu também não sou aquela coooooooooooooooisa, não mentira, eu sou sim. Só que o Harry não tá na minha. Preciso fazer ele ficar na minha, pra eu poder ficar com ele. Mandar indireta sim, implorar nunca. Já sei!

Coloquei um pijama que era um shorts super curto e uma regatinha bem colada (na verdade, ele não era assim, só que ele encolheu... ou eu aumentei. É, ele encolheu). Tirei alguns cabos da TV, para que ela não funcionasse mais e desci lá pra festa. O primeiro que eu vi foi Alex - não tinha como não ver -, depois foi o Harry. Ele estava bebendo e conversando com uns caras. Levantei mais ainda o shortinho, empinei a bunda e o peito e fui.

- Harry, preciso da sua ajuda. - Os olhos dele pararam um pouco no meu peito e depois subiram.

- Você tá... de pijama, cara. Que que isso? Precisa da minha ajuda pra quê?

- A TV parou de funcionar do nada e eu quero assistir minhas novelas mexicanas.

- Chama o Dave.

- Ele mandou eu chamar você.

- Ah, cara, por que? - Ele largou o copo em qualquer lugar e veio comigo. - Parou de funcionar do nada?

- É.

- Então deu merda. - Ele começou a descer a escada.

- NÃO. Me ajuda, por favooooooooor! Faço qualquer coisa pra você me ajudar.

- Afff, tá, mas vai logo, porque eu tô perdendo a festa. - Fomos até o sótão e ele logo arrumou a TV. - Eram só uns fios que estavam... - O abracei. - ... Soltos.

- Obrigada!

Saímos do abraço e eu comecei a me aproximar e tals e muita emoção e tals e... Ele para tudo.

- Lyra, ah, não dá, cara. Eu tenho que contar isso pra você, mas... Não conta pra ninguém, tá?

- Broxou, é isso?

- É, porque... Eu sou gay.

- Você é gay?

- Eu sou gay.

- Gay gay?

- Sim, Lyra.

- Ai, eu sempre quis ter um amigo gay! Minha amiga tem um amigo gay, mas eu nunca falei com ele. Tá bom. Então, já que agora somos melhores amigos, e se você disser que não somos eu conto pra festa inteira que você é gay... Preciso te mostrar uma coisa. - Peguei a carta e o mostrei. - Me mandaram isso agora, na hora da festa. Eu quero saber de quem é. Bom, sua não é, a menos que você esteja dizendo que é gay só pra ficar mais perto de mim...

- Não, eu sou gay mesmo. E esse seu decote tá me incomodando.

- Ah, quê isso. - Puxei minha blusa mais pra baixo.

- É sério, Lyra, levanta isso. - Ele tentou levantar, mas eu puxava pra baixo. Aí ele rasgou minha regata linda de ovelhas rosas pulando uma cerca. - Desculpa, mas é de marca ruim.

Aí, do nada, o Greg surgiu. Tipo mágica.

- Eita! O que é isso, minha gente? Que pouca vergonha é essa? Estou eu aqui, na maior inocência, vindo no banheiro... E encontro esse pornô aí. Aliás, lindo sutiã, Lyra. - Ele se referiu ao meu sutiã bege. - Minha vó usa um igual.

- Ah, vai se foder, seu idiota. Então, Harry, eu sei que você tem muito tesão em mim, mas isso não vai dar certo. Eu não quero ser só um pedaço de carne pra você. Eu quero ser um pedaço da sua alma! Do seu coração! Da sua laranja!

- Beleza. Uh, tem chocolate ali. - Ele pegou uma barra. - Tchau, vou voltar pra festa. Depois cê me conta mais sobre essa carta aí.

E quando Greg saiu do banheiro... Foi a hora em que eu estava trocando de roupa. Ou seja, eu estava de shortinho e sutiã.

- Opa, o que é isso? Quer me seduzir? E com um sutiã de véia?

- Ah, cala a boca, Greg. Aliás, você já me viu de biquíni... Não, não viu... Não, viu sim... Ah, não pera... Não viu não... Então sai daqui seu tarado maníaco!

- Ah, qual é, nem te dei oi. - Ele foi chegando mais perto de mim.

- Para! Sai daqui! Eu vou gritar, viu!

- Só vou te dar um beijinho. - Ele me deu um beijo no canto da boca. - Bom, eu estava pretendendo voltar pra festa, mas... Se quiser que eu fique aqui, não tem problema não.

- Quero não. Vai embora.

- Ai, assim você me magoa, amiga. Não vai pra festa?

- Nããããão, porra. Por que todo mundo que sobe aqui pergunta isso? Se eu estou aqui, é porque eu não quero estar lá embaixo! Agora vai embora, que eu vou tomar banho!

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