Paper Hearts {10}

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Acordei com os beijos da minha mãe na cara e sorri. Ela acordava-me assim desde sempre, sabia como me acordar e me deixar bem disposto. Abri os olhos e sorri mais abertamente, levantando o corpo e sentando-me na cama. Abracei a minha mãe e comecei a snifá-la sentindo o cheirinho dela entranhar-se nas minhas narinas misturado com o cheiro a panquecas que eu apostava que ela tinha feito para o nosso pequeno almoço. - Noah, pára filho! - Ela riu cheia de cócegas por o pescoço ser um dos seus pontos fracos. Mais uma das informações que o meu pai tinha partilhado e que eu não precisava saber, mas acabei por descobrir por mim próprio. A separação dos meus pais fez com que a relação com a minha mãe ficasse ainda mais forte. O facto de ter escolhido viver com ela, também contribuiu para isso e fez com que o meu pai ficasse ressentido comigo. Agora já estava tudo bem, mas ao início foi muito complicado. A minha mãe também ficou super triste com a escolha da minha irmã em ficar com o meu pai, em parte percebia a escolha dela, ela era a menina do papá. A minha escolha também tinha sido difícil, eu amava o meu pai, mas sabia perfeitamente que nunca na vida conseguiria passar um dia sem a minha mãe. Eu e a Rose tínhamos chegado a acordo que cada um tinha de ficar com um dos pais e eu escolhi primeiro por ser mais velho. Há 2 anos que era assim, só eu e a minha mãe! Ao fim de semana, ia para casa do meu pai e a Rose vinha para cá. A minha mãe fazia sempre programas para elas fazerem coisas de mulheres, um nojo de seca, mas a Rose amava. Apenas tentava esconder isso quando chegava perto do meu pai com medo que ele ficasse incomodado. Eu contava à minha mãe o que fazia com o meu pai e sabia que ela fazia um esforço para se mostrar feliz por me ter longe. Eles estavam separados, mas estava na cara que ainda se amavam, apenas decidiram afastar-se porque as discussões eram demasiadas. No entanto, eu e a minha irmã desconfiávamos que eles estavam juntos por vezes sem nós sabermos. O meu pai fazia-se à minha mãe à cara podre, mesmo à nossa frente, então quando o assunto era o rabo dela, ele não se controlava mesmo. A minha mãe é que negava sempre e fazia-se de forte, mas no fundo, eu via a maneira que ela ficava quando ele estava por perto e tenho a certeza que quando eles estavam sozinhos e o meu pai pressionasse mais um pouco, não dando espaço para negas, que ela se derretia toda. Eles tinham assim esta relação estranha e apesar de estarem separados, nenhum dos dois fazia muita questão de assinar os papeis do divórcio, de facto ainda andavam com as alianças no dedo. Depois havia o factor "dates"! Eles saiam com outras pessoas mas nem se davam ao trabalho de tirar a aliança, acho que era uma coisa maluca em que estavam com outras pessoas, mas só porque não podiam estar um com o outro e também aproveitavam para fazer ciúmes um ao outro. E resultava! Apesar de nenhum dos dois o admitir e, normalmente, faziam de tudo para impedir que o encontro um do outro acontecesse. Eu e a minha irmã divertiamo-nos à pala deles e aproveitávamos esses momentos para estar com os dois ao mesmo tempo, como uma família novamente. - Vá veste-te e desce para tomarmos o pequeno almoço e não te esqueças de mandar mensagem à tua irmã! - ela disse enquanto saí do quarto e a ouvi descer as escadas. Bufei para mim próprio ao pensar no desvio que ainda tinha de fazer para apanhar a Rose. Tinha sido eu a oferecer-me para lhe dar boleia para a escola, assim podiamos estar juntos todas as manhãs e pôr a conversa em dia. Peguei no meu iPhone e mandei mensagem à minha irmã: "Baixinha, passo aí dentro de meia hora. DESPACHA-TE! Amote ". Carreguei no botão de enviar e tratei de escolher a minha roupa desse dia. Em seguida, dirigi-me para o wc e tratei de tomar um duche. Fazia aquilo todas as manhãs, era um vício que tinha apanhado com os meus pais. Quando dei o duche por terminado, voltei ao quarto, vesti-me e desci as escadas em direcção à cozinha. Sentei-me num dos grandes bancos que tinha encostados ao balcão e peguei numa panqueca, vendo a minha mãe, pelo enorme vidro que dividia a cozinha do jardim, ao telemóvel e com um sorriso na cara. Desconfiava quem lhe estava a ligar e precisava de falar disso com a Rose. Espalhei uma boa quantidade de nutella pela minha panqueca, hum como eu adorava aquilo! Estava realmente esfomeado, como sempre, especialmente quando saía dos meus treinos, a minha mãe já sabia que tinha de me fazer uma dose de cavalo. Ouvi a porta de vidro deslizar e olhei para lá, vendo a minha mãe a entrar na cozinha. 

- Isto está muito bom, mamã! - Elogiei, engolindo, em seguida, quase de uma vez uma caneca de leite. Limpei os bigodes com a mão todo consolado da vida e voltei a olhar a minha mãe que me olhava com um sorriso parvo na cara - Que foi? - Guinchei indignado. 

- Nada, fazes-me lembrar uma pessoa... - Ela admitiu.

- Quem o pai? - Perguntei directo e curioso. Eu e a minha mãe contávamos praticamente tudo um ao outro. Éramos confidentes e eu amava isso na nossa relação!

- Sim... - Disse simplesmente e sentou-se à minha frente a comer, enquanto ouvíamos as notícias pelas colunas que estavam inseridas no sistema da casa. Estava trânsito, é melhor despachar-me!

Comi rapidamente e fui buscar as minhas mochilas (da escola e do treino) ao andar de cima. Voltei a descer e despedi-me demoradamente da minha mãe, com tudo a que ela tinha direito, ou seja, muitos mimos. Peguei na chave do meu carro e caminhei para a garagem. Entrei no carro e assim que pude arranquei para casa do meu pai para apanhar a minha irmã. Dei-lhe um toque para ela saber que estava a sair de casa e para ela ir saindo para fora para eu não ter de esperar, coisa que nunca acontecia! Quando lá cheguei, por um milagre divino, ela já estava cá fora à minha espera enquanto mexia no telemóvel. Parei ao lado dela e esperei que ela entrasse. 

- Bom dia, maninha! - Cumprimentei e estiquei-me para ela para lhe dar dois beijinhos, ela fez o mesmo. 

- Bom dia mano! - Ela respondeu e eu tratei de arrancar com o carro. 

- Temos de falar... - Avisei-a logo. 

- Mau, eu nem fiz nada... - Ela resmungou toda despachada. 

- Ai não é nada contigo. É a mãe... 

- O que é que tem a mãe? - Ela quis saber tão curiosa quanto eu. 

- Anda um chico esperto a fazer-se a ela e a convidá-la para sair, ela tem dito sempre que não, mas esta manhã ela estava toda sorrisinhos ao telemóvel e acho que era com ele! 

- Ui o pai não vai gostar de saber... Logo à noite já o vês! - Ela afirmou e riu. Eu juntei-me a ela, sabendo que ela completamente verdade.




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