7- Um resgate desajeitado

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O plano era simples, na teoria, só precisaríamos entrar lá logo depois que eles juntassem os garotos que passassem no teste. Eu e amnon pegaríamos os policiais e Skyler ficaria de vigia junto com o Caio e Rebeca. Uma vez que conseguíssemos resgatar todos, sairíamos de lá e os levaríamos pra um lugar seguro.
Era uma segunda feira, eu tive de cabular aula, pois o teste seria feito em uma escola, então teríamos que chegar lá logo após as aulas acabarem. Eu nunca chegaria a tempo se fosse para o colégio, então quando minha mãe me deixou no colégio, eu despistei minha irmã e fugi pra loja da Rebeca, onde eu esperaria até chegar a hora.
Chegando lá apenas Skyler e as gêmeas estavam nos esperando, eu imaginei que amnon fosse chegar mais tarde, ele não gostava muito de esperar. Eu fui para os fundos, onde as gêmeas moravam com sua sobrinha. Era uma casa de classe média bem confortável, com amuletos e relíquias espalhados aqui e ali. Elas realmente eram supersticiosas.
Eu me sentei no sofá ao lado de Skyler, que lia um livro em silêncio.
— Você nunca me falou o que exatamente suas tias são. Eu andei pensando, como Maria entrou no meu sonho?
Ela fechou o livro e fez uma expressão complicada, pensando na resposta.
— Minhas tias não são médiuns como eu, elas são uma raça especial. São como videntes.
— Ela conseguem ver qualquer coisa no futuro?
— Não exatamente. Elas são banshees, uma consegue ter visões de coisas horríveis e prever mortes e a outra é uma banshee fey, ela prevê as coisas boas, profecias e é sensível as energias. É meio complicado.
— Isso tem alguma coisa a ver com a maria...
— Sim — Ela acariciou o braço, buscando reconforto — Ela era muito melhor que Rebeca com os dons dela, tinha um instinto quase perfeito. Mas um tempo atrás ela tentou fazer um ritual, e além de ele não dar certo, acabou danificando a mente dela no processo.
— Eu sinto muito — Repondi arrependido — Eu não tinha ideia.
— Não se preocupe, ela é forte. Lida melhor com isso do que a gente. Ela tem as visões mais sóbrias e tristes, e mesmo assim está sempre radiante. Quase não se importa.
Naquele momento a tia dela ganhou meu respeito, de todos do grupo ela havia sido a mais receptiva e animada com a minha vinda. Ela sabia dês de o começo que eu viria, e tentou me avisar com aquele sonho. Um que, aliás, até mesmo agora permanecia um mistério. O rosto do homens mau-encarado que eu vi era o do meu antecessor, não havia dúvidas, aquele era o homem que havia sido morto na floresta. Mas e aquelas outras pessoas que gritavam em agonia? Talvez as vítimas dele? Eu não tinha ideia, e nem mesmo me arrisquei de perguntar pra Maria, não tinha certeza se queria saber a resposta.
As horas se passaram e logo os outros chegaram, amnon e Caio. Entramos no carro da Rebeca e fomos em direção ao colégio. Em mais ou menos uma hora os alunos escolhidos estariam lá, sozinhos, e todos os demais estudantes seriam mandados pra casa.
Quando chegamos do lado de fora nós estacionamos. Eu olhei pelo vidro o meu coração parou.
— Caio, por acaso você não esqueceu de me avisar um detalhe...
— Avisar o que? — Perguntou ele, quase inocente.
— Que nós iríamos ao meu colégio! Tipo, o colégio que eu estudo!
Ele parecia surpreso.
— Eu juro que não sabia qual colégio era, e os outros não sabiam em qual colégio você estudava.
— Não se preocupe, camaron, você está no primeiro colegial, correto? A inquisição deve passar no nono ano para testa-los, seus amigos não farão o teste — Comentou amnon
— Minha irmã está no nono ano!
— Bom... Ela provavelmente vai sair junto com os outros estudantes. A chance de ela passar no teste deles é minúscula.
Eu me calei, olhando pela janela do carro, torcendo pra minha irmã estar entre eles, indo pra casa em segurança.
Depois de poucos minutos não havia ninguém no colégio, eles já deviam estar se reunindo com os policiais.
— Vamos Cameron, não temos muito tempo.
Eu e amnon entramos na frente.
— Vocês não tem um quadro de avisos ou algo do tipo?
— Sim... Vem comigo.
Fomos até o quadro, e lá tinha uma lista de nomes e embaixo o local e horário da reunião. Amnon correu na frente, já estávamos atrasados, os alunos deveriam chegar lá a cinco minutos.
O garoto vampiro era sobrenaturalmente rápido, mas infelizmente eu não havia dominado essa habilidade ainda. Por mais que eu fosse rápido e meu corpo fosse super forte, eu não conseguia me direcionar enquanto corria, ainda era um desastre.
Eu cheguei no segundo andar do colégio, onde os alunos deveriam estar, e achei amnon em um corredor. Eu me aproximei e ele fez um sinal para que eu fizesse silêncio e apontou para dentro de uma sala.
Eu olhei pela janela de vidro da porta e vi quatro polícias fortemente armados conversando com os alunos, que estavam sentados nas carteiras logo à frente.
— O que vamos fazer? — Sussurrei.
— Esperamos que eles saiam, aí derrubamos eles antes que tenham tempo de atirar — Respondeu ele, igualmente baixo.
Logo eles saíram de lá, e os alunos todos saíram junto, seguindo os polícias.
Seria muito fácil derrubar os polícias, mas os quatro estavam armados com rifles, se começassem um tiroteio os alunos estariam em perigo. E além do mais, eles provavelmente tinham reforços, eles sabiam que alguns poderiam oferecer resistência. Se algum dos garotos soubesse usar magia a situação poderia ficar feia.
Nos andamos até um corredor bifurcado, onde pudemos nos esconder na esquina. Logo os passos no piso fizeram barulho, e amnon me pediu pra esperar escondido.
Ele saiu de trás da parede e apareceu no corredor. Ao ver ele todos os policiais destravarmos as armas simultaneamente.
— O que é isso? Eu to atrasado pra reunião? — Perguntou ele, fingindo surpresa.
— Desculpe garoto, vem, ainda dá tempo.
Ele tinha mesmo cara de jovem, passaria facilmente por um garoto do nono ano.
Amnon andou em direção a eles, no corredor. Eu o perdi de vista, e de repente ouvi o barulho de alguém caindo e alguns gritos.
Eu me mostrei, aparecendo no corredor para tentar ver o que estava acontecendo, e vi que ele havia jogado um policial contra a parede. Os policiais sacaram as armas em resposta, mas ele chutou o segundo, que bateu contra o outro lado da parede. Os dois policiais se assustaram com a força sobre-humana dele, e um deles sacou uma arma de choque. Amnon deu um passo pra trás e depois foi atingido no peito pela arma.
Ele caiu de joelhos, tremendo graças a grande carga de energia da arma. Foi aí que eu avancei nos policiais, segurei ambos pelo pescoço, levantando no ar, e depois batendo contra o chão, deixando-os inconscientes.
Os alunos recuaram, assustados, e eu estendi a mão pra ajudar amnon e levantar, mas ele negou e levantou sozinho. Eu ri quando percebi que ele estava com vergonha.
— Uma arma de choque? Sério?
— Cala boca, ele me pegou de surpresa.
— Cameron? — Indagou uma voz feminina, vinda de trás de mim.
— Não! Não. Não... — eu me virei devagar.
— O que você tá fazendo aqui?! — perguntou lucy.
"Como eu odeio a minha vida" pensei.
— Não dá tempo, temos que ir. — falei pra eles — Esses caras estão tentando sequestrar vocês, e mais deles vão chegar a qualquer momento.
Eu vi a cara de indignação da minha irmã, e logo percebi o caos que aquilo ia virar. Ela quase surtou quando viu o navio explodir, o que aconteceria se eu contasse pra ela o resto?
Um dos polícias que o amnon atacou ainda estava acordado, então ele pegou o rádio e disse um código qualquer, terminando com "temos morcegos, repito, morcegos". Eu pisei no rádio, quebrando-o, mas já era tarde de mais, ele havia avisado os outros.
— Droga! Temos que sair daqui, rápido. Por aqui!
Eu fui na frente, procurando as escada de incêndio. Era o caminho mais rápido e levava diretamente para os fundos do colégio. Nós a descemos e fomos pra porta, mas só uma parte dos adolescentes fugiu conosco, o resto havia ficado.
— Eles vão levar os outros! — falei — temos que voltar.
— Não dá tempo. Vamos embora.
Eu parei por um segundo, mas amnon me puxou e fomos pra saída.
Eu abri a porta e vi o sol, finalmente, conseguimos. Por um segundo eu relaxei, com a impressão de missão cumprida.
Mas essa sensação durou pouco. Do outro lado duas viaturas da FDCP esperavam por nós, armados e prontos pra reagir.
— Desistam! — Gritou um dos policiais.
Amnon me empurrou pra dentro do prédio junto com todos os outros adolescentes e fechou a porta.
Eu me encostei na porta, me esforçando para ouvir. Do outro lado haviam gritos e barulhos de tiros, e de repente tudo ficou silencioso. Ele voltou e abriu a porta.
— Não se assuntem pessoal, está tudo bem.
— O que é você? — perguntou um dos garotos.
Mas Amnon o ignorou.
— Leva eles pra floresta, o loja não é segura mais. Eu vou assim que der.
— Vai fazer o que aqui sozinho?
— Agora que nossa discrição não funcionou, eu vou distrair eles e pegar uma coisa. Eu alcanço vocês. Se eu não ficar eles nunca vão parar de seguir a gente, não dá pra fugir deles a pé.
Sem questionar, nos corremos, até que todos se cansaram e já não dava mais pra ouvir o barulho das sirenes de polícia.
— Que raios você veio fazer aqui? Você é louco! Aqueles policiais estavam armados! Eles poderiam ter te matado! E aquele seu amigo, ele é louco também?!
Assim que nos distanciamos de lá, minha irmã surtou, mas não a culpo, eu sabia bem como ela se sentia.
— Se acalma, tá legal? Nós precisamos sair daqui. Nós estamos longe mais ainda não é seguro. Eu juro, juro por tudo, que vou te explicar. Assim que chegarmos na floresta eu te conto tudo.
Eu aproveitei a calma para contar os adolescentes que restavam. A maioria havia fugido assim que apagamos os policiais, mais ainda havia alguns. Quando chegamos lá devia ter por volta de uma dúzia, e agora só restavam cinco, sem contar com minha irmã. Eram quatro garotos e duas meninas, lucy e uma amiga dela.
Nós andamos mais algum tempo e chegamos na floresta, tentei lembrar do caminho até a cabana, mas era difícil, a floresta era muito grande. Então logo Skyler apareceu, correndo pela mata.
— Onde você estava? Nós vimos a polícia chegar, não deu pra esperar muito tempo.
— Nós conseguimos, não se preocupe. Mas Amnon ficou pra trás, ele disse que ia pegar uma coisa.
— Ah! Aquele idiota...
— Você sabe o que é?
— Ele provavelmente vai atrás do objeto que eles usam pra testar os médiuns. O problema é que ele não sabe ser discreto.
Definitivamente ele não sabia ser discreto, mas enfim... Nós chegamos até a cabana e colocamos eles pra dentro, só faltava amnon chegar, mas ele estava atrasado.
— Eu vou atravessar o estômago daquele cretino quando ele chegar. Ele sempre faz besteira.
— Calma, ele deve estar vindo.
Alguns minutos depois vimos uma figura aparecendo entre as árvores. Achei que fosse um cavalo, pois se aproximava correndo como um animal, mas conforme se aproximava vi que tinha a fisionomia de um felino. Um felino bem grande.
— Que coisa é aquela? — perguntei espantado.
— Eu acho que... — Ela forçou a vista, tentando enxergar — Acho que é um demônio.

— O que aconteceu com a sua irmã?
— Naquela tarde? Ela estava conversando com a outra garota enquanto o amnon não chegava. Ela não estava bem, mas estava melhor do que eu esperava que ela ficasse. Na época eu queria tanto que ela não tivesse se envolvido naquilo tudo. Seria mais fácil. Mas a missão foi um sucesso afinal, nós trouxemos uma boa parte dos jovens em segurança, aquele foi um passo importante para a resistência.
— Vocês tinham uma oportunidade, poder e uma ótima líder, na minha opinião. Tiveram sorte, as circunstâncias eram perfeitas.
— Talvez, mas a inquisição tinha os FDCP, e eles sabiam como lidar com as criaturas. Eles já massacram centenas de vampiros e uma quantidade ainda maior de médiuns. Nós estávamos em desvantagem. Por mais que tivéssemos os recrutas, precisávamos de uma arma a mais, algo pra virar o jogo.
— Não seria fácil, vocês estavam sozinhos contra a civilização inteira da ilha.
— Claro. Apenas os vampiros e alguns magos não ganhariam a guerra sozinhos, nós precisávamos de alguém pra nos guiar, alguém para organizar aquela bagunça. E então o destino agiu de novo, ele nos deu um infortuno que foi crucial. Ele nos deu a Maria.

O último vampiro progenitor - pausadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora