3- Uma estadia agradavel

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Quando acordei estava em um lugar totalmente diferente. Olhei em volta e fui me recompondo aos poucos, mas quanto tentei levantar uma mulher pois a mão no meu peito e me deitou de volta na cama.
Fiquei surpreso quando vi quem era. Costumo ser péssimo pra lembrar de feições, mas o cabelo ruivo havia a entregado. Era uma das mulheres da loja de especiarias. Ela estava sentada do meu lado em uma cadeira, provavelmente esperando que eu acordasse.
— Você não pode levantar ainda, precisa descansar o máximo que puder.
— Onde eu estou?
Olhei em volta e vi um quarto grande, com meia dúzia de beliches e alguns armários. As paredes eram feitas de madeira, provavelmente era uma cabana velha no meio da floresta.
— Você está seguro. Minha sobrinha me contou o que aconteceu.
Tentei me levantar mais uma vez, mas ela pesou a mão em meu peito e eu voltei a deitar.
— O que ela te disse? Eu não lembro de muita coisa — menti, na esperança de ela dizer que eu não estava enlouquecendo e tudo aquilo havia realmente acontecido.
— Você precisa ficar aí por algumas horas — Ela havia me ignorado completamente.
— Eu tenho que sair para buscar minha irmã, ela tá me esperando no colégio, e se eu não voltar pra casa logo minha mãe vai surtar.
— Nós já cuidamos disso, um amigo seu nos ajudou.
Eu ouvi alguns barulhos de passos na madeira do piso e olhei para a porta, esperando ver um rosto conhecido. Em vez disso, estremeci ao ver a mesma garota ruiva da floresta, ao lado de um outro garoto pálido de cabelo preto, parecia pouco mais jovem que eu, com jaqueta de couro e calça jeans.
— Olha quem acordou — comentou o menino.
Ele fez uma reverência curta, provavelmente irônica, e se sentou em uma cama próxima.
— Acho que você tem muito o que explicar — Falei para a garota.
— Não tenho o que dizer. Você é um intrometido, e vai morrer por isso.
Meu corpo estremeceu mais uma vez.
— Morrer? — perguntei, juntando toda a falsa coragem que encontrei.
— Você não vai morrer! — Interrompeu a outra — quer dizer... Nós não tenho certeza ainda.
Eu me sentei na cama, esperando que me explicassem a situação.
— Lembra daquela coisa na floresta? — Eu assenti com a cabeça — aquela fumaça afetou você, não sabemos como seu corpo vai reagir.
Ela falou com uma voz segura, provavelmente tentando me acalmar. Se este era seu propósito, posso garantir que ela falhou, porque eu realmente não estava calmo. As palavras que me vieram na cabeça foram:
— Eu fui amaldiçoado por um demônio?
Engoli em seco, quase descrente. Mesmo depois de tudo o que havia visto algumas horas atrás, aquela situação parecia tão inacreditável...
— Não se preocupe, não há nada que possamos fazer por hora. Você só precisa descansar e vai passar sozinho. Na pior das hipóteses, se você não aguenta, você pode morrer. Mas isso não acontece com frequência.
Eu arregalei os olhos, quase em choque.
— E na melhor das hipóteses..? — perguntei, esperançoso sobre a resposta.
— Um problema de cada vez. Você precisa descansar, quanto mais melhor — ela se esquivou da pergunta, me ignorando novamente.
Antes que eu tivesse tempo de responder, uma segunda mulher entrou no quarto. Ela tinha pouco mais que um e sessenta de altura, estava um pouco acima do peso e já devia estar na casa dos sessenta anos, não que isso a impedisse de correr. Ela entrou no quanto, ofegante e apressada. A segunda atendente da loja havia chegado. A segunda gêmea idêntica.
— Uh, finalmente.
Ela se sentou ao meu lado, pedindo um tempo para respirar. Todos pareciam surpresos.
— Você está bem?
Ela assentiu com a cabeça enquanto recuperava o fôlego.
— Este é o Cameron, ele vai passar algum tempo aqui.
— Sim, Sim... Já nos conhecemos...
Eles ficaram mais surpresos ainda.
— Se conhecem? — perguntou sua irmã.
— Eu visitei sua loja a algum tempo — Concordei.
Todos pareciam surpresos que ela se lembrasse, inclusive eu. Em nosso encontro tive a impressão de que ela nem lembrasse o que havia comigo no almoço.
Ela se virou subitamente pra mim.
— Você está com a mente aberta? Vai precisar.
Eu fiquei perplexo. No exato momento me lembrei da garota do meu sonho. Ela havia dito algo parecido, "Você não precisará apenas ser forte, mas manter a mente aberta", poderia ela ter ouvido aquilo?
A outra irmã tocou meu ombro, quebrando minha linha de raciocínio.
— Não se preocupe, vamos cuidar de você.
E então o último convidado chegou para a festa. Ouvi mais passos na escada e uma última pessoa surgiu na porta.
— Caio? — perguntei.
Ele era um amigo de muito tempo. Na verdade, não o via a muito tempo. Ele havia trocado de colégio este ano, então não mantivera contato recentemente, mas fiquei muito feliz de ver um rosto amigo, finalmente.
De maneira resumida, eles me contaram apenas o que eu precisava saber. Resumiram muitas coisas, foram vagos em muitas partes, mas no final me explicaram o que havia acontecido e me colocaram a par das novidades.
Caio havia ligado para minha mãe para lhe contar que eu dormiria em sua casa hoje, o que despreocupou ela sobre meu sumiço.
Já sobre o acontecido na floresta eles não foram tão claros. Tive a impressão de que eles esconderam a maior parte das informações, mas eles se esforçaram pra que eu estendesse a situação.
"Manter a mente aberta" não é? Mais fácil dizer do que fazer. A maior parte do tempo não me arrisquei a me pronunciar, afinal, aquilo foi tudo muito novo, mas acho que minha aceitação foi boa.
— E então... — A primeira irmã hesitou — nos precisamos te manter aqui por hoje, as primeiras vinte e quatro horas serão cruciais.
Elas me tratavam sempre com cuidado, como se eu estivesse com câncer em estágio final ou algo do tipo, eu, inocente, não entendi o porquê de início.
Durante a tarde me senti bem. Elas cuidaram de mim, garantindo que eu ficasse confortável, e a sobrinha das gêmeas, junto com meu amigo, me fizeram companhia à tarde toda. Quase não senti sintomas, parecia saudável e forte, como se nada tivesse acontecido.
Já no fim da tarde, quando o sol começou a se por, as coisas mudaram. A pior face da doença se revelou.

O último vampiro progenitor - pausadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora