Capítulo 4

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      Eu acordei e ele já não estava mais ao meu lado, graças a Deus. Eram nove da manhã. Eu levantei, tomei um banho e pensei em Berry, mas a essa hora ele estaria a trabalho, então resolvi procura-lo só à noite.
Eu tomei meu café e decidi andar a cavalo no jardim.

       Fui até o celeiro e encontrei uma égua marrom muito linda.
Ela era alta, não muito magra e nem muito gorda, tinha uma franja e um grande cabelo. Seu pelo era muito brilhante e bem cuidado, ao lado de onde ela ficava tinha uma placa escrita o nome Cristal.
        Peguei uma escova e comecei a penteá-la. Fiquei acariciando ela um pouco, mas tive que parar quando senti um puxão no meu braço e quase cai.

  — O que você está fazendo aqui com a Cristal? — ele estava visivelmente frustrado. Eu iria responder, mas me lembrei que ele não havia me autorizado a responder —  Me responda e olhe pra mim! — gritou.

   — Eu...eu...só não queria ficar no quarto o dia todo, então resolvi descer e encontrei a Cristal,..se...senhor.

  — Nunca mais chegue perto da Cristal — ele gritou comigo e me jogou no chão. Eu senti uma tremenda dor no meu tornozelo e percebi que havia o quebrado. Percebi isso porque me lembrei da dor de quando isso aconteceu comigo quando era pequena.
Eu dei um grito e comecei a chorar e ele me olhou assustado.
  — Eu quebrei meu tornozelo, por favor, me ajude — choraminguei.

  — Não. Não estou nem ai que você quebrou seu tornozelo, não me importo com você. Você pode até ser a rainha, mas pra mim você é um lixo. Um nada!  — berrou e saiu me deixando sozinha.

  — Socorro! — berrei e depois de uns dez minutos uma empregada apareceu e chamou o médico. E eu desmaiei.

Acordei em meu quarto, olhei em volta e vi o médico.

  — Olá, rainha.

  — Me chame de Mia, por favor — o interrompi.

  — Tudo bem, Mia. Então, você acabou quebrando o tornozelo com a queda e desmaiou devido a uma queda de pressão. Você deve ficar todo o tempo de repouso e comer muito bem, se não fizer isso, vai demorar muito mais para se recuperar.

  — Tudo bem, obrigado, doutor -falei.

  — Michael. Pode me chamar de Michael — falou e deu um lindo sorriso e eu retribui com prazer.
Michael é lindo e alto. Os olhos castanhos escuros, cabelos meio revoltados mas muito bonitos, é claro, mas bronzeado. Ele é lindo!

  — Desculpe a pergunta Michael, mas, quantos anos você tem?

  — Tenho vinte e cinco, Mia — sorriu.

  — Nossa, você é muito novo para um médico, não é?

  — Sou sim, mas como sempre quis essa profissão eu comecei desde cedo, e hoje estou aqui, cuidando de uma linda rainha que não sei o por que de estar sem seu marido em um momento desses  — falou e eu sorri meio boba com seu elogio.

  — Obrigado, mas... — eu ia falar algo sorrindo, mas bem na hora meu Maridinho chegou e quando nos viu fechou a cara, mas do que já é fechada todo o tempo.

  — Bom Mia, eu acho que já vou indo. Tenham uma ótima manhã e lembre-se de tudo o que eu lhe falei, tudo mesmo  — ele disse e eu entendi que ele referia-se ao seu último comentário.
Assenti com um sorriso e ele saiu, peguei o controle da televisão e a liguei. O Nícolas ficou na porta me olhando e nem o olhei, e ele então fechou a porta.

  — Mia? Quem deu essa liberdade a ele? — perguntou irônico — Responda-me!

  — Que liberdade, senhor?

  — De chamar você pelo primeiro nome, e não pense que eu não vi os sorrisinhos, porque eu vi.

  — Ele sorriu por educação, e quanto a me chamar pelo primeiro nome, eu disse para ele fazer isso.

  — E por quê?

  — Porque não gosto de formalidades.

  — Não quero você de papinho com ninguém, ou agora que perdeu a virgindade vai querer ficar com todo mundo? —  eu senti uma enorme raiva subir pelo meu corpo, mas apenas apertei o controle com as mãos e não respondi nada.
E ele foi embora.

      Eu não sei exatamente quem ele pensa que é para falar desse jeito comigo. Ele pode até ser meu marido, mas é como se fosse um estranho pra mim. E outra que eu não sei como ele teve coragem de falar isso, porque eu não perdi a minha maldita virgindade por opção, perdi porque aquele idiota me forçou, e a minha força não chega nem perto da dele.

       Eu estava com raiva. Raiva o suficiente para perder até a vontade de ver televisão. Eu queria bater nele. Queria dizer que ele não manda em mim, que eu odeio ele, eu queria não queria nunca mais olhar pra ele, e que eu dou liberdade pra quem eu quiser. Porque pelo menos, o Michael foi legal comigo. Pelo menos, ele me respeitou e conversou como uma pessoa normal comigo, não como se fosse meu dono. Nem com os meus cachorros eu falava do jeito que o Nícolas fala comigo.

       Meu tornozelo estava doendo. Meu corpo estava doendo por causa da noite anterior. Minha alma estava querendo gritar e pedir socorro, mas a quem eu pediria socorro se a maior autoridade nesse lugar é o rei, e o rei é quem anda me machucando? Isso que é uma desgraça.

       Eu fico pensando comigo mesma: "Eu sou uma rainha, e não deveria passar por isso".  Sempre fui uma boa filha e uma boa princesa. Sempre fui a todas as aulas que eu deveria ir para quando me tornasse rainha, ou alguém em um cargo importante na sociedade. Eu ia a aulas de etiqueta, aulas de português, história, geografia, várias línguas diferente. Estudei até como ser uma boa esposa, e pra quê? Eu só queria saber, pra quê?

       Eu queria poder ter poder o suficiente para mandar ele ir à merda e tirá-lo do trono, mas eu não posso. A rainha não tem tanto poder quanto o isso, e isso me dá tanta raiva. Olha o rei que esse lugar vai ter. Um rei que não respeita a própria esposa, provavelmente não respeita mais nada.

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