Come Close (Prólogo)

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2008 - 16h33m - Nova York.

Meus parabéns. Você, como sempre, conseguiu estragar tudo mais uma vez!

Ela andava lentamente entre os transeuntes apressados de Nova York.

A cidade que nunca dorme!

Tomava o maior cuidado do mundo para não esbarrar em ninguém, afinal, carregava no colo sua caixa vermelha com seus pertences e o resto de dignidade que ainda acreditava ter. Era só mais um dia para Amarília mas não seria mais um dia para sua tia quando ela chegasse em casa.

Um fracasso! Você é um fracasso, igual ao seu pai.

Aquelas palavras ecoavam na cabeça de Ama e a faziam sentir um leve amargor descendo pela garganta.

Você tinha que abrir essa maldita boca, Amarília!

Estava novamente desempregada. Tudo bem que não fazia nem um ano que a faculdade havia terminado, mas nesse pequeno espaço de tempo já tinha perdido dois empregos, e o motivo era sempre o mesmo:

"O seu temperamento não é bem o perfil da empresa. Mas não se preocupe, temos certeza que muitas oportunidades aparecerão em seu caminho..."

O maior desejo de Ama naquele momento era pegar seu diploma e enfiar goela abaixo em seus antigos chefes. Certo, ela era um pouco explosiva, mas isso não a desmerecia como profissional.

Tanto faz. Quem se importa?

Tentou reunir todas as forças que ainda lhe restavam e logo descobriu que não eram muitas, precisava fazer algo para se preparar para quando fosse escutar o sermão de sua tia. Em sua caminhada de volta para casa, pois não tinha um tostão para pagar um táxi ou ônibus e seu cartão do metrô havia sido perdido num assalto dois dias antes, entrou em um café.

Estava relativamente cheio. Vários casais e grupos de amigos dividiam as mesas. Era incrível como as pessoas pareciam mais felizes no inverno. Riam, falavam alto e tudo que tinham direito naquela tarde fria de Nova York. Ama sorriu, um dia estaria despreocupada igual a todas aquelas pessoas que estavam ali.

Mas deixo pra depois...

Suspirou. Foi até o balcão da cafeteria, deixou sua caixa encostada em seus pés, e vasculhou os bolsos. Com o coração cheio de esperanças e o estômago vazio ela ainda achou 10 dólares.

Dá pra enganar o frio...

Se inclinou próximo do atendente e quando ia fazer seu pedido fitou uma figura sentada ao dela. Era um rapaz bem jovem, usava roupas casuais e aparentava estar cansado. Ele estava debruçado sobre o balcão, talvez estivesse dormindo, Amarília não o incomodaria.

- Perdão, senhor... - Tentou chamar atenção do atendente. - O senhor poderia...

Frustrou-se. O homem estava mais interessado em trocar mexericos com um outro cliente, Ama, mesmo ficando nervosa, conseguiu escutar algo do que eles falavam:

- Lamentável. Como uma pessoa chega a essa situação?

- E o pior é que ele é novo... Será drogas?

- Creio que sim.

- Se for isso não pode deixá-lo aqui. Irá espantar seus fregueses decentes.

Ama observou mais uma vez o rapaz ao seu lado. Não, ele não estava drogado, ele só estava cansado.

- Está mais que correto. Irei chamar a polícia!

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