Wildfire.

01. new magazine cover

(New York - 07:14 am)

Os único barulho que eu posso ouvir é o barulho dos meus saltos altos ecoando pelo piso de madeira.

Sempre que passo pela recepção, pela central, por todos os corredores do prédio da minha revista, esse é o único barulho que eu ouço. Os meus funcionários sabem muito bem que eu sou rígida, e não gosto de bagunça dentro da minha revista. E sei que eles me respeitam, pelo menos enquanto eu estou por perto.

Se eu tivesse uma chefe como eu, eu mesma não iria aguentar.

Quando meu pai deixou de herança essa revista para eu comandar, eu prometi a ele, no seu leito de morte que daria a minha vida para deixar isso nos eixos, tudo na perfeita ordem. Ninguém iria bagunçar com a minha revista, nem mesmo minha mãe, que ficou louca quando soube eu que iria tomar posse da revista. Por ela, vendíamos isso aqui e cada uma ficava com o devido dinheiro. Mas eu disse não, meu pai tinha me dado, eu iria honrar seu nome e isso foi exatamente o que eu fiz.

Cabello é agora uma das revistas mais conhecidas do mundo. Apesar de ter mais de trezentos funcionários que trabalham para mim, e podem fazer tudo que eu mando, eu gosto de ver tudo nos mínimos detalhes. A capa que vai ser, desde as modelos que irão estar na revista até a última folha da página, todas as notícias. Tudo isso, tudo isso não pode ser publicado sem antes passar pelos meus severos olhos.

Minha secretária Ally é o meu braço direito aqui dentro. É uma das pessoas que eu mais confio na minha vida. Nos conhecemos numa entrevista de emprego para ela quando tomei posse da empresa. Depois de eu ter a contratado, e ter saímos pra balada uma noite, viramos amigas. Melhores amigas, assim dizendo.

— Sra. Cabello, temos algumas candidatas para ser a nova capa da Cabello. — Ally diz me acompanhando até minha sala. — Todas são novatas, como a senhora pediu. Mas apenas uma tem um book pra mostrar.

— Tudo bem Ally, quero elas daqui uma hora em minha sala. — digo espalmando uma mão na porta de vidro da minha sala.

CAMILA CABELLO está escrito em uma plaquinha cinza pendurada na porta. A sala é toda de vidro, e me dá uma visão de tudo que acontece aqui fora. Mas também tenho as persianas que me dão privacidade, e que estão fechadas nesse exato momento, quase nunca as abro.

— Ok. — ela diz anotando alguma coisa no iPad em suas mãos. — Sua mãe deixou um recado pra você na secretária eletrônica.

— Tudo bem, irei ver. Qualquer coisa eu te chamo. — digo e sorrio.

Ally assente e então sai da minha visão. Entro em minha sala, tiro meu sobretudo e coloco sobre a cadeira presidencial. Minha sala é enorme, a antiga sala do meu pai. Mas eu acabei optando por mudar algumas coisas, mas nunca mudei totalmente, até porque aqui é onde eu mais me sinto próxima a meu pai. O prédio tem mais de vinte andares, e a sala presidencial, no caso a minha fica na quase na cobertura. Todas as janelas de vidro da minha sala são do chão até o teto, me dando a maravilhosa vista de New York, e eu me pego admirando essa vista todos os dias da minha vida.

Respiro fundo e sento na cadeira, começando uma massagem em minhas têmporas. O que Sinu quer agora? Tento pensar em qualquer situação que seja para ela estar me procurando agora e nenhuma faz sentindo na minha cabeça, nossa relação nunca foi uma das melhores e piorou muito depois de morte do meu pai. Ela apenas me ligava para pedir dinheiro.

Clico no botão que me dá acesso aos recados da secretária eletrônica fica em minha mesa e fecho meus olhos apoiando minhas costas totalmente na cadeira, e lá vamos nós.

"Camila, eu sei que você acha que tem uma vida importante, e não pode nunca parar de trabalhar. Se fosse por mim eu não te importunaria, pois sei que você odeia isso. Por isso se mantém longe da sua família. Mas Sofi está com saudades de você e todos os dias pede pra eu te ligar. Será que a vossa alteza pode tirar pelo menos um dia de folga e levar sua irmã para passear? Ela não tem culpa de nada, é apenas uma criança. Estou pedindo como sua mãe. Me ligue de volta"

Reviro os olhos, e mordo meu lábio inferior. Sinto falta da minha irmãzinha. Ando ultimamente tão ocupada nos afazeres da empresa que realmente esqueci que prometi a ela que a levaria para ver um filme no cinema, mas desse final de semana não passa.

Vejo a quantidade de papelada que tenho que ler, confiscar e assinar em cima da minha mesa e solto um suspiro cansado. Pego meu celular no bolso do meu sobretudo e ligo para Ally.

— Se eu falar que te amo você faz um favor pra mim? — pergunto fazendo beicinho.

"Não diga que está fazendo beicinho."

— Você me conhece muito bem para saber se eu estou ou não estou fazendo, Brooke.

"Ok, você está." — ela ri. "Diga"

— Você poderia ir naquela maravilhosa cafeteria da esquina comprar donuts e um descafeinado para mim?

"Eu ganho para isso né."

— Está indo só porque eu te pago? Que bela amiga você é, Allyson. — solto uma risadinha.

"Estou brincando, estou indo lá agora."

— Obrigada, obrigada. Eu te amo.

"Sei que ama..."

Sorrio e desligo o celular. Olho para os papéis em minha mesa e respiro fundo. Hora de trabalhar. Fico mais ou menos uns vinte minutos lendo alguns relatórios e assinando alguns papéis quando Ally chega com o meu café da manhã. Como tudo e volto a trabalhar.

Quando dá pontualmente oito e meia, alguém bate em minha porta.

— Entre. — digo, colocando alguns papéis em uma gaveta de minha mesa.

— As modelos chegaram, senhora. — Ally diz e então entra quatro mulheres com ela.

Meus olhos correm pelas belas mulheres que entram em minha sala. Analiso bem todas. Todas as modelos que as agências indicam sempre tem o mesmo tipo físico e a mesma aparência, e a mesma cor de cabelo, louro. Eu queria uma diferente. Apoio meu cotovelo na mesa e aliso meu queixo. Solto um suspiro cansado quando vejo a primeira.

A primeira modelo é loira, olhos azuis, têm a altura perfeita, corpo magro e cintura fina, uma perfeita Barbie. Não me cresce os olhos pois sinto que já a vi antes.

A segunda tem a pele negra, o cabelo preto perfeitamente cortado que chega até na altura do ombro e dona de um corpo escultural. A roupa que usa fica extremamente proporcional para seu corpo... que por sinal é muito bonito. Ela é muito bonita.

Meus olhos ardem quando eu coloco eles no corpo da terceira modelo. Suas coxas são torneadas, seus cabelos são longos e pretos, pretos como a escuridão. Me levanto da cadeira, e caminho até a terceira. Posso vê-la ficar nervosa com a minha presença. Eu gosto quando sinto que estou no poder e todos temem a mim. Assim deve ser.

Paro na sua frente e a analiso de perto. Foco meus olhos em seu rosto, e me perco na imensidão verde que seus olhos me proporcionam. Seu rosto parece ter sido esculpido por deuses de tão belo. Sua pele é branca como neve, e seus cabelos negros dão um belo contraste nela. Levo minha mão até o uma mecha de cabelo que está no seu rosto e coloco atrás de sua orelha.

— Como se chama? — pergunto olhando-a. Estou realmente admirada por ela e não sei o porque.

— Lauren. — ela engole um nó da garganta, e eu acho adorável seu nervosismo. Ela lambe os lábios e evita contato visual comigo. — Lauren Jauregui, senhora.

Sua voz é rouca e tão sexy que posso sentir um desconforto em minha calcinha. A olho por mais alguns segundos demoradamente, meus olhos passam outra vez pelo seu corpo e balanço a cabeça, sorrindo de canto, sem deixá-la ver. É essa, é essa modelo.

— Tudo bem, estão dispensadas. — digo.

Volto para a minha cadeira e ouço minha porta abrir outra vez, Ally leva as quatros para fora da minha sala, e depois de alguns segundos volta. Não quis prestar muita atenção na quarta modelo, já escolhi as duas que irão começar a trabalhar comigo.

— E então, quem? — Ally me pergunta se aproximando de mim.

— A dona dos olhos verdes e a de cabelos curtos. — digo molhando meus lábios.

— Ok, Lauren Jauregui e Normani Kordei. — Ally diz anotando.

— A Normani será nossa modelo e pousará para algumas marcas de roupas que estou tentando fechar contrato. E a Lauren... — me levanto com um sorriso no rosto. — A achei linda. Ela será a nova capa da minha revista.