Caspar Sugg

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Um grito ecoa pelo corredor o que faz-me acordar, e pelos vistos ao meu colega de quarto também. Estas são as vantagens de estar num manicómio (ironicamente falando). Passo as mãos pela cara e levanto-me do quarto. Não tinha nada que fazer e já não tinha sono, por isso depois de me vestir ando de um lado para o outro. Devia ter dormido uma hora no máximo, o que é quase um recorde para mim, e ter pessoas a gritarem pela noite fora mais difícil se tornava para dormir. Sento-me na cama e as memórias começavam a voltar.

Sangue por todo o meu corpo. O som do gatilho. O dia em que a minha paixoneta de criança se suicidou há minha frente. "Finalmente vou ser feliz.". Foram as suas últimas palavras. Tínhamos apenas 14 anos. Aquele dia marcou a minha insanidade. A partir desse dia tudo piorou, as imagens, os sons. Parei de dormir, porque tinha vários pesadelos, que incluíam repetições do que tinha acontecido. As alucinações começaram a piorar por causa do sono. Então os meus pais, preocupados como o que me pudesse acontecer, devido ao meu historial de ter uma depressão desde novo, internaram-me aqui. Isto aqui era horrível, não conseguia dormir na mesma e tinha medo de alguns pacientes aqui.

A porta abre-se.

-Caspar Sugg? Tem agora uma consulta com a Dr.ª. Melville. – Assinto com a cabeça, e sigo a funcionária até ao consultório da minha psiquiatra.

-Bom dia, Caspar. – Ela faz o seu típico sorriso enorme.

-Bom dia. – Retribuo-lhe o sorriso.

-Então, como tem sido? Tens dormido melhor?

-Não. – Olho para o chão. – E os gritos não ajudam muito.

-Tens tomado os comprimidos que te indico?

-Tenho, eu tomo todos que preciso.

-Então acho que é necessário duplicar as doses dos teus medicamentos. – Ela quando acaba de dizer aquilo escreve algo no computador. – E as alucinações?

-Estão melhores, acho. Talvez seja o meu subconsciente a apaga-las. – Solto um esgar.

-Ou então é a nova paciente que o está a ajudar nisso. – Ela sorri. – Ouvi falar do casal. É Cloe, não é?

-É. – Sorrio. Era a minha namorada. Não a tinha conhecido há muito tempo, mas ela ajudou-me como ninguém tinha ajudado. Ela não devia estar cá, não sinto que ela pertence aqui. E não sei como ela é minha namorada. Eu, o rapaz fracote que gozavam e renegavam, a namorar com a Cloe, uma rapariga que parecia uma modelo.

-É bom para ti. Distraíres-te e viver um pouco da vida.

-Sim. – Assinto com a cabeça.

-Vemo-nos então daqui a uma semana, o que achas?

-Por mim está bem. – Curvo um canto da boca. – Não tenho estado muito mal, por isso não é muito urgente.

-Então, boa sorte. – Ela sorri, e eu saio da sala.

Já haviam pacientes no corredor, o que queria dizer que já podia andar livremente. Vou até ao quarto da Cloe, e bato à porta. Ninguém me responde, por isso abro a porta. A Cloe ainda estava deitada na cama. Entro e fecho a porta, vou lentamente até à beira e sento-me à beira dela.

-Cloe? – Digo baixinho enquanto lhe mexo no cabelo loiro. Ela era tão perfeita, não só por fora, mas também no interior. Diagnosticaram-na como bipolar, mas eu acredito que seja um equívoco. Ela refletia boas energias, e era o sonho de qualquer rapaz. Era inteligente, carinhosa, doce, meiga, e ajudava-me. Não sei como ela conseguia namorar comigo. Não sabia se ela me amava como eu a amava a ela. Estava demasiado preso a ela.

-Caspar? – Ela olha para mim e sorri.

-Bom dia. – Dou-lhe beijo. – Dormiste bem? – Sorrio.

-Dormi. – Ela sorri. Deito-me ao lado dela, e ela pousa a cabeça no meu peito. – O que fazes por aqui tão cedo?

-Ouvi uns gritos e não dormi mais, depois tive uma consulta com a minha psiquiatra.

-E então, como foi a consulta?

-Vou ter de duplicar os comprimidos. – Respiro fundo e meto um braço por volta das costas dela. – Já é a terceira vez que duplico, de caminho vou-me sufocar em comprimidos.

-Se a psiquiatra te aconselha a fazer isso.

-Ela falou de ti, e disse que era bom que eu namorasse contigo.

-A sério? – Ela deu uma pequena gargalhada.

-De caminho vamos aparecer no jornal de notícias.

-Ao menos fazemos um bom casal, e íamos ficar bem na capa das revistas. – Ela entrelaça os dedos da mão dela nos meus.

-Eu sei que nunca te disse isto, porque nunca o disse a ninguém, e sinto-me um pouco estranho a dizer isto. Até treinei isto várias as vezes para sair corretamente. – Olho-a nos olhos. – Eu amo-te. – Ela olha para mim e beija-me. E isto fazia-me sentir tão bem, partilhar a minha vida com alguém, alguém ser minha melhor amiga e minha namorada ao mesmo tempo.

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⏰ Last updated: Nov 08, 2015 ⏰

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