Daisy MacKenzie

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O meu dia não podia estar a ser pior, já tinha experimentado no mínimo dez vestidos. Não sei porque me estavam a fazer isto, mas deduzia que alguém importante viesse ao reino, por isso tinha de estar bonita. As criadas estavam tão aborrecidas quanto eu, podia-se ver nas suas expressões faciais. Eram as mesmas caras que me davam de comer quando estava enjaulada.

***

Estava encostada nas pedras frias a tentar adormecer, mas era impossibilitada porque estava a tremer de frio. Doíam-me os ossos das pernas e dos braços, e eu estava com medo que os meus dentes se partissem por estar constantemente a bater os dentes com força. Meto os meus joelhos encostados no meu peito para tentar-me aquecer. Fecho os olhos para ser mais fácil adormecer mas sou interrompida por um grito. Era da minha mãe. Levanto-me de um salto e vou até à porta, espreito pelo meio das barras de metal que tinha na pequena janela que os guardas usavam para ver se estava tudo bem.

-Mãe? - Vejo uns soldados a correrem até à jaula dela. Parecia que tinha acontecido algo horrível. - Mãe? - Grito. Os soldados estavam a levá-la, ela estava com uma cor pálida insossa.

-Daisy. - Ela disse num tom suave. - Por favor deixem-me ver a minha pequena Daisy. - Os soldados aproximaram-na de mim, ficando separada dela por uma porta. - Abram a porta, eu estou prestes a morrer, e a minha filha é inofensiva. É o meu último desejo, não podem recusar! - Eles lá abriram a porta.

Já não a via há pelo menos quatro anos, desde que ela ficou senil, pelo que percebi ela era esquizofrénica. Era normal que isso tivesse acontecido, depois destes quatorze anos, ou seja, toda a minha vida, aqui enclausurada sabia que estava a um passo de ficar maluca, como a minha mãe. O que me salvava era que as criadas vinham-me fazer companhia, para me ensinar algumas coisas.

-Filha, por favor, promete-me que vais ser feliz. - Assinto com a cabeça. - Não te esqueças que és da família da Skye MacKenzie. Tu és forte. - Os soldados começam a puxar a minha mãe, e eu dou-lhe um abraço. Nunca lhe tinha dado nenhum, o que faz com que eu começasse a chorar. As criadas falavam tanto das mães delas e eu nada sabia da minha. Ela dá-me um beijo na testa, e encosta a sua face à minha. - Tens de fugir para a Terra, tu vais ser maravilhosa lá, tal como foi a Skye. - Os dois soldados que a seguravam puxaram-na e um outro fechou a porta.

-Eu adoro-te mãe. - Digo o mais alto possível, o que faz que me magoe nas cordais vocais. Sento-me num canto no chão frio. Já devia estar acostumada a este chão, mas era impossível.

Eu nasci aqui, e provavelmente vou morrer aqui, e tudo que sei da minha família, foi o que as criadas me contaram, e o que a minha mãe me contava quando ainda tinha sanidade mental.

Há cinco gerações atrás, a minha trisavó Skye, ascendeu ao trono de Nyctophilia, o mundo em que eu vivo, mas tudo se desmoronou quando a irmã gémea dela, a Raven, que outrora tinha sido perdida neste mundo quando ainda era bebé, traiu a Skye. Enclausurou-a nesta mesmo jaula, mas esse plano não resultou e a Skye fugiu, porque ela era uma weredragon, e era mais forte que qualquer material destas jaulas. Ela acabou por se casar com um pobre camponês e, ao contrário de todas as personagens femininas das fábulas, viveu uma infeliz vida até a sua morte. A minha família permaneceu escondida dos governantes, mas tudo se desmoronou quando houve um massacre na aldeia onde se escondiam, e somente pouparam a vida da minha mãe porque ela estava grávida. Foi muito fácil descobrirem que ela era descendente da Skye com a ajuda de magos, por isso trouxeram-na para uma destas jaulas, onde eu nasci. E permaneço nesta jaula desde há catorze anos atrás.

I believe in MagicWhere stories live. Discover now