Desabafos

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Em uma sexta feira, noite de outono, convidei a Jade para sairmos e tomarmos um sorvete e ela, sem repensar, aceitou. Saímos, rimos namoramos... E até que resolvemos voltar por conta da hora avançada. Acompanhei Jade até sua casa, pois já era tarde e não queria meu amor andando sozinha por aí. Despedimo-nos com um beijo em frente à porta de entrada de sua casa, e segui meus passos para ir embora.

Foi naquela terrível madrugada que as nossas vidas mudaram para todo o sempre: um incêndio agiu como um gigante esmagando nossa felicidade.

Naquela noite, após deixar Jade em casa e chegar à minha, liguei para minha amada para dar um "boa noite" apaixonado, como era de costume. Ela me atendeu, dizendo que já estava pronta para dormir, e pediu que dormíssemos juntas na ligação como sempre fazíamos. Como eu amava fazer isso, não recusei. Papo vai papo vem, ela me contou que volta e meia sentia um cheiro forte de gás no ar. Eu, preocupada, pedi que fosse verificar de onde o cheiro estava vindo, pois isso podia ser perigoso. Jade atendeu meu pedido e foi até a cozinha, notando que todas as bocas do fogão estavam devidamente desligadas - pedi, então, que ela baixasse a borboleta do regulador de ar do botijão, e Jade voltou tranquila para o quarto, pronta para deitar. Mal sabíamos que muito gás já havia escapado no período que ela estava fora de casa.

Sua mãe estava na igreja, e quando voltou para casa, Jade já estava adormecida na linha comigo. Pelo que me lembro daquele dia, a mãe de Jade passou no quarto para entregar um beijo à sua filha enquanto havia deixando uma panela com água fervente no fogão. Logo depois disso, Dona Marcelina foi até seu quarto, trocou de roupa e voltou à cozinha para fazer um chá para tomar acompanhado de bolachas. Esse chá foi fatal: ela provavelmente havia se esquecido de baixar o regulador de gás.

Por volta de meia noite, chamei o nome da Jade para conferir se ela ainda se mantinha acordada, mas notei que meu amor já estava no décimo sono e eu nesse instante quase dormindo também.

Inesperadamente, pude sentir meus ouvidos quase ensurdecendo pelo barulho de explosão que veio do telefone; foi a pior sensação da minha vida. Após isso, de imediato, a ligação caiu, e tentei retorná-la, mas só caía na caixa postal.

Começando a ficar preocupada, me vesti e decidi ir até a casa da Jade. Era tarde, mas eu não podia esperar até amanhecer, com tamanha angústia que estava sentindo em meu peito. Acordei minha mãe e pedi que ela fosse comigo, pois estava com um pressentimento ruim.

Ao chegar no local da casa da Jade, já de longe vi muitas pessoas/vizinhos ao redor, e vários carros parados em frente à residência - até bombeiros e uma ambulância - meu coração começou a bater forte, retumbando em meu peito. A cada passo que dava, eu sentia mais medo do pior. Me aproximei, pergutando a um dos bombeiros o que estava acontecendo.

Ele me explicou que se tratava de uma explosão envolvendo o botijão de gás, e me perguntou se eu era da família. Nesse momento eu já me encontrava em prantos - tentei entrar e salvar minha namorada e sua mãe, mas um dos bombeiros me segurou e me impediu.

Eu estava desesperada, e não sabia mais o que fazer. Quase uma hora depois, conseguiram amenizar o incêndio. Desmaiei, e quando acordei pude presenciar minha sogra, já sem vida, sendo carregada nos braços de um bombeiro, e chorei muito ao ver tal cena. E chorava ainda mais por não ter notícias da minha namorada, já estava agoniada. Minha mãe tentava a todo custo me acalmar, mas não era possível. Me aproximei da Dona Marcelina, e percebi que mais nada poderia ser feito, ela estava realmente morta.

Algum tempo passou, e finalmente conseguiram tirar a minha Jade lá de dentro; ela estava desmaiada, obviamente, por toda fumaça que inalou. Me aproximei dela, desesperada para ver como se encontrava e pude presenciar a pior cena da minha vida: seu corpo estava quase que completamente queimado. Ela ainda se encontrava com vida, mas precisava receber cuidados intensivos no hospital o mais rápido possível, sendo colocada quase que no mesmo momento na ambulância, a qual eu e minha mãe acompanhamos, angustiadas.

O luto das borboletas [Romance lésbico]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora