― Cheguei! – anuncia ao entrar pela porta da frente, mas não ouvindo nenhuma resposta. – Mãe?

― Acho que ela foi ao mercado – diz Harry, balançando um bilhete que encontrara na mesinha de centro.

― Sempre deixando as coisas para última hora – retruca Elena revirando os olhos. – Vou trocar de roupa, sente-se e ligue a televisão, voltarei num minuto.

Harry se aconchega no sofá e liga à televisão. Sua mente borbulhava com a ansiedade e sequer conseguia focar no programa que estava passando. Toda sua estratégia havia sido burlada por aquele convite para jantar e agora o mestiço não tinha a presença de seus pais para lhe ajudar.

― O que está passando de bom? – diz Elena arrancando-o de seus pensamentos.

― Nada que seja mais interessante que sua presença – comenta com um sorriso.

― Tão galanteador – ironiza, sentando-se ao seu lado. – Desse jeito acharei que está querendo alguma coisa.

― Talvez eu queira – responde no mesmo tom.

― E o que você quer? – questiona desconfiada.

Harry sorri como se sugerisse alguma coisa e se aproxima, sendo subitamente iluminado por um "plano B", e fazendo Elena pender seu tronco para trás enquanto ele avançava cada vez mais. Ela sente a respiração travar ao encostar no braço do sofá, cogitando se ele queria mesmo fazer o que ela estava pensando.

O mestiço roça os lábios nos dela, fazendo-a fechar os olhos e deixando que o beijo finalmente se iniciasse. O sabor tão conhecido daquele beijo era o suficiente para Elena se derreter, mas não o suficiente para o que Harry pretendia.

Ele deixa os lábios da menina e começa a roçar a linha de seu maxilar, descendo pela curvatura de seu pescoço. Elena já sentia o feitiço do lobo recair sobre sua cabeça, entorpecendo seus sentidos, arrepiando sua pele e fazendo com que sua cabeça desabasse para trás involuntariamente.

Harry deposita um beijo demorado no ombro feminino, parando por breves segundos para verificar os efeitos que causara. Tudo estava como imaginava e esperava, Elena estava totalmente entregue e envolta em sua sedução... Somente então ele percebera o bonito vestido que ela trajava, com alças finas e que deixavam seus ombros totalmente à mostra, escolhido especialmente para impressioná-lo. E para se assegurar do sucesso de seu plano, Harry toca a coxa direita de sua garota por baixo do vestido, apertando-a com gosto.

Elena solta um pequeno arfado, imperceptível aos ouvidos humanos, mas completamente agradável aos dele, tornando aquele o momento ideal:

― Eu te amo! – sussurra ele em seu ouvido.

― Eu... Também – responde ela com dificuldade, prestes a perder sua sanidade.

― Quero você como minha companheira para sempre... – diz Harry afastando-se e deixando que seus olhos dourados revelassem suas verdadeiras intenções.

Ele salienta seus caninos e, sem pestanejar, afunda suas presas naquela pele branca e perfeita, exatamente no espaço que ligava o ombro ao pescoço da humana.

Levou alguns segundos para que o torpor na mente de Elena fosse substituído pela dor, e quando isso aconteceu, logo veio o som, o tom melancólico de sua angústia, ecoando de suas cordas vocais com força enquanto suas unhas apertavam as costas do mestiço por cima de sua camisa.

― Harry!!! – grita ela em seu desespero.

Harry a solta rapidamente, contorcendo o rosto em de dor e arrependimento com o que fizera. O sangue de sua amada lhe escorria pelas presas e as lágrimas logo inundaram os seus olhos ao vê-la sofrer e arcar o tronco daquela forma. Elena sentia o veneno se espalhando como ácido pelo seu corpo, a partir de seu ombro direito, queimando-a inteiramente por dentro enquanto modificava seu DNA. Suas unhas, agora cravadas no sofá, tentavam mandar embora aquela sensação dilacerante, mas em vão.

― O que está acontecendo aqui? – pergunta Lyssa ao cruzar o batente da porta.

Seus olhos inquisidores foram de Elena para Harry e depois de volta para Elena, fazendo as sacolas que carregava irem ao chão, ao se dar conta do que havia acontecido.

― Eu... Eu... – gagueja Harry desorientado. – Me desculpe, eu... Por favor, ajude-a! – pede em meio ao seu arrependimento.

― Me dê sua camisa! – ordena Lyssa, enquanto corria para o lado da filha. – Vamos, Harry, tire a camisa!

O mestiço obedece. Lyssa enrola sua camisa e aperta as marcas da mordida com força, tentando estancar o sangue que ainda teimava em escorrer do ferimento. A essa altura, Elena já revirava os olhos, ainda sentindo extensa dor, mas já denunciando que a inconsciência se aproximava.

― Não para, o sangue não quer parar – sussurra Lyssa para si mesma.

― Eu faço isso! – diz Harry, colocando-se entre mãe e filha, dando à Lyssa apenas a visão de suas costas nuas. – Vai passar logo, eu prometo – diz ele, acariciando o rosto de Elena.

Harry beija os furos que ele mesmo fizera, como um sinal de desculpas, e o lambe em seguido, fazendo-os se curar no exato momento em que a consciência de Elena se esvai.

Leah 2Donde viven las historias. Descúbrelo ahora