Cap. III - Alianças sinistras

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[NOTA DO AUTOR: Olá galera, àqueles que já são nossos leitores devem ter identificado pequenas mudanças na história. Desde já peço desculpas pelas modificações, porém correções e ajustes foram necessárias para continuar a nossa narrativa. Modifiquei alguns nomes, locais e termos utilizados nos capítulos anteriores, tanto por causa da política de registros quanto para a carga de informações a ser absorvida pelo nosso leitor, você. Foram necessários também ajustes para um fechamento adequado, em personagens, nomes e na linha dos acontecimentos. Até mais (see u later)]

*** Em algum lugar do mediterrâneo ***

- É extrema coragem ou burrice absurda, ter vindo pessoalmente (e desacompanhado) falar comigo caro Kreis, ou confia demais em seus talentos, ainda não consegui decifrá-lo.

De fala macia Antoine, interrogava e analisava o intrépido mercenário esloveno chamado Kreis, enquanto o observava, tocava uma música agradável que se misturava à brisa do mar, entrando pelo saguão da enorme e imponente sala de uma das sedes dessa organização temível e admirável, a Clepsidra. 

[Antoine] era um esnobe, falso aristocrata, de um mundo falido, com charme e riquezas, geria a mão direita da organização com ajuda de alguns poucos selecionados, aberrações tão únicas quanto as que eu colecionava, indivíduos com poder e características singulares. Era alto, não aparentava ser uma ameaça a primeira vista, mas com um pouco de proximidade era possível sentir que ele exalava segundas intenções, uma verdadeira víbora em forma humana, era não só a mão de direita, mas a que executava seus oponentes.

- Sabe quem é essa caro Kreis? Se vamos fazer uma aliança, se vamos ser parceiros nessa empreitada acredito que seja necessário que conheça essa linda dama! - exclamou Antoine, olhando como sempre fascinado a estátua de uma mulher; cabelos lisos, e um véu, centenas de detalhados, no mármore com verdadeira precisão. Feição tão similar à uma pessoa viva, que seria capaz de confundir olhos desatentos.

[Kreis] era um ex agente esloveno, forças especiais, treinado num dos países mais seguros do mundo para agir contra ameaças e neutralizá-las antes que se tornem potencialmente ofensivas. Alto, forte, inteligente, mas sem inclinações para o âmbito sociável, conhecedor de estilos de luta variados, e inclusive um expert em forjar assassinatos e implantar bombas caseiras, mas nesta situação, um ratinho no covil de uma serpente.

Kreis, caminhou atento aos arredores, observando os seguranças nas portas, contando-os um a um, na ligeira esperança de sair vivo no caso de uma emboscada, depois voltou-se novamente para a estátua qual Antoine tinha mencionado, e aproximou-se.

- Não faço a mínima, mas apostaria numa amazona talvez, acertei?

- Esplêndido Sr Kreis, seu nome Mérida, a deixou pouco famosa, mas seus feitos são espetaculares. 

- E o que temos nós haver com essa estátua star Antoine?

(fala ao longe) Essa mulher, cuja estátua a representa tão bem, inclusive feita por minhas mãos, é de uma guerreira, poderosa, sábia e única, pois mesmo que ela fosse fosse ferida em combate, ressurgia no fulgor da batalha totalmente perfeita, vezes com algumas cicatrizes, mas sempre imponente. No comando de várias guerreiras, conquistou territórios vastos, nas fronteiras da Cítia. Porém no caminho dessa mulher feroz, um dia, um desconhecido aproximou-se para matá-la, furtivamente aproveitando-se de um momento de descuido (talvez o único), a emboscou, e numa luta acirrada, ambos rolaram de uma encosta rochosa, os ferimentos aparentes eram rasos mas visíveis, o guerreiro pensou que agora seria seu fim, e empunhou novamente a espada, porém Mérida espantou-se com a coragem daquele homem e acabou por poupá-lo, talvez arrogância e certeza de sua técnica superior, mas o guerreiro então acabou por apaixonar-se por este lado, principalmente porque alguns momentos após ele guardou a espada e retirou o capacete, gesto reflexo ao dela, revelando a ambos um rosto que eles se familiarizaram logo.  O que ainda era um obstáculo era a doutrina das guerreiras que não as permitiam ter um homem em suas vidas, mas Mérida não era uma mulher normal, e não estamos falando de seus muitos talentos para a guerra ou seu rosto magnífico, e sim de habilidades que faziam com que ela fosse a mulher literalmente mais perfeita que existia, porém ainda assim, ela não poderia quebrar as regras de suas irmãs, de sua terra natal, e ela sabia que o acorde final de sua história seriam suas mortes proclamadas como punição. A regra era absoluta e por isso ela tentou manter esse homem afastado, porque no fundo, ela também via nele algo que a fazia sentir-se apaixonada. Então, seguiram seus dias separados, até que num outro dia qualquer de batalha em sua campanha, a emboscaram, mais de mil homens, e mesmo tendo derrotado uma grande quantidade, e continuar levantando-se a cada golpe, ela não conseguiria sair dali com vida, inexplicavelmente banhada em sangue próprio, ela mantinha-se em pé, e erguendo-se a cada novo golpe. Numa tentativa heroica, e praticamente ridícula, o homem que a procurava no campo de batalha voltou-se contra seus legionários e passou a defendê-la, ambos estavam em frangalhos pela manhã, mas praticamente dizimaram a quarta parte das tropas, e os que restaram fugiram acreditando que haviam demônios protegendo aquele casal estranho e sujo de lama e sangue. Mérida desfaleceu no raiar do sol, vendo que o homem a protegia, confiou que ficaria bem, e quando acordou, não sabia onde estava e nem como chegara ali, era um cheiro bom de comida e ervas do campo naquele lugar, coisa de fazendeiro, coisa de gente inofensiva, quando pela porta entrou animado, o tal homem, parecia segurar uma pá cheia de unguento, e panos molhados, para cuidar de suas feridas, o que ele não sabia era que a maioria dessas feridas não estavam mais abertas, e ela o atacou ferozmente jogando-o contra o mourão de madeira central, que estremeceu o abrigo. O homem ajoelhou-se e demonstrou humildade, não revidou, não havia porque lutar naquele momento. Novamente ela investiu contra o mesmo e caiu, ainda fraca mentalmente da batalha árdua pela noite adentro, rapidamente o mesmo a segurou, e com toda força que tinha, a ergueu, não com olhar de pena, mas de companheirismo. Ela entendeu a atitude do tal desconhecido, e todo o tempo arisca, ela a recostou na cama de palha e folhas, e encontrou no chão seu amuleto de proteção, comum para as amazonas, então ela o segurou firme, e tocou naquele homem, num clarão ambos foram parar num campo distante, longe de tudo e todos, era um lugar calmo, ermo, sem nenhum vestígio de guerra ou morte - ambos haviam viajado no tempo. 

As Crônicas do tempo - Parte IWhere stories live. Discover now