Capítulo 03

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Dahner a esperava de pé. Também era alto. Tinha em torno dos 50 anos. Negro. Careca. Usava óculos que lhe davam uma aparência austera.

- Senhor - Sirenia cumprimentou - O que está fazendo aqui?

- Esse caso quebra muitos parâmetros, como você já percebeu, Tenente. Eu tive que vir pessoalmente. Tenho algo importante para te comunicar. Parece que foi ontem que eu te via usando farda - ele deu um pequeno sorriso.

Ela estava prestes a responder que não tinha entendido, quando ouviu cliques no piso e se virou em direção ao som.

Lia Donarue vinha em sua direção.

"Toda metida e cheia de si", pensou.

Lia olhou com olhos azuis gélidos em direção a Sirenia e, em seguida, se dirigiu ao Comandante.

- Já estou aqui, senhor - falou com voz sedutora.

- Ora, não diga. Ninguém notou - Sirenia murmurou - O que ela faz aqui? Pensei que o caso fosse meu.

- Você nem deveria estar em horário de trabalho. Deveria estar na sua mansão, bebendo champanhe e comendo caviar - Lia rebateu, colocando as duas mãos na cintura - Esse caso é meu.

- Parem. As duas - Dahner interviu - O caso é seu, Mitchell. Mas Donarue vai trabalhar em parceria com você. Eu sei - ele levantou a mão e prosseguiu, quando Sirenia fez mensão de interromper - Que o detetive Grey é seu parceiro. Mas acho que você e Lia devem trabalhar juntas. Como já perceberam, esse não é só mais um caso de homicídio. Espero que sejam maduras o suficiente e saibam manter as diferenças de lado.

Ele se afastou e foi embora. As duas se encararam como galos de briga.

- Não fique no meu caminho, Donarue. Não me atrapalhe.

- Atrapalhar você? Francamente - Lia deu um muxoxo de desdém - Eu é que o digo pra você. Estou a mais tempo que você nesse trabalho e o levo a sério. Respeito às regras e não fico toda eriçada com o primeiro homem que aparece na frente. Aliás, você não deveria estar em casa? O maridinho deve estar preocupado.

- Ao contrário de você, Barbie. Eu não sou fútil. Que merda é essa que você está calçando? - apontou para os sapatos de Lia.

- São Louis Vitton legítimas para seu governo. Elas me custaram vários meses de trabalho. Ao contrário de certas pessoas, eu realmente preciso trabalhar para me manter, e ser feminina não tem nada a ver com competência.

- Isso - Sirenia apontou para os próprios sapatos - São calçados de tira. Com isso aí você vai é escorregar no sangue e nos causar mais problemas. Isso aqui não é desfile de moda, boneca.

Lia deu um passo a frente. Sirenia nem se mexeu.

- Parece que nunca vamos nos engolir, não é? Mas se o Phil nos uniu nesse caso é melhor trabalharmos juntas. Vamos fazer assim: cada uma reúne provas e depois nos juntamos na sua casa e organizamos tudo.

- Concordo com a parte de cada uma reunir provas por si. Quanto a minha casa, você só vai pisar lá no dia em que Tristan falir.

Lia deu um sorriso debochado.

- Não se garante com seu homem? É verdade que ele não tem uma fama muito boa.

Sirenia deu um sorriso predatório.

- É claro que eu me garanto. Tristan pode ter uma fama ruim, mas mulheres fáceis nunca foram a praia dele. Por isso está casado comigo.
Agora quanto a você... Onde está seu parceiro mesmo? - ela estalou os dedos - Ah é. Você não tem um. Não foi permitido, porque antes de sua transferência, na outra DP (Departamento de Polícia) você deu para todo os policiais. O que foi bem desagradável. E eu me recriminando por ter ido pra cama com um homem com quem acabei me casando - ela balançou a cabeça com falsa humildade.

- Vaca! - Lia avançou com a mão aberta.

Prevendo a reação, rapidamente Sirenia agarrou a mão dela com força. E a encarou.

- Escute bem, Barbie. Não importa o que o Comandante disse sobre parceria. Eu sou a investigadora principal, portanto, eu comando. E você não vai fazer nada até eu falar. Se respirar errado, vai direto para a sarjeta fazer filmes pornôs de quinta categoria, me ouviu?

Ela soltou a mão de Lia com um safanão.

- Fique longe do Marcus, também. Nem pense em colocar suas garras de urubu em cima dele.

Lia massageou a mão e lançou um sorriso maquiavélico para Sirenia.

- O que foi? - falou com voz açucarada - Está pensando que vou pegar seu amante? Você pode enganar todo mundo, menos a mim. Sei o que rola entre vocês dois fora do horário. Você banca a santinha, eu pelo menos não sou falsa.

- Marcus é facilmente influenciável. Quero a mente dele totalmente focada naquela família eviserada lá fora.
Se depois disso ele quiser até se casar com um abacaxi, é problema dele. A única coisa que eu te peço é para esperar até fecharmos esse caso, para você abrir as pernas para ele, ok?
Agora boa noite. Vou pra casa. Como você mesma disse, vou para minha mansão, beber champagne. Odeio caviar, então vou comer outra coisa.
E, é claro, que vou desfrutar do meu maridinho. Até amanhã, Donarue.

Deixando uma Lia estática e chocada, parada no meio do corredor, Sirenia lhe deu as costas e caminhou em direção a saída do teatro, com um discreto sorriso satisfeito.

Ritual de Sangue (Livro 02 - Série Coração Verdadeiro) #Wattys2016Where stories live. Discover now